A Renovação da Cena: Entrevista Com Berro Mote

Grande é a minha procura por bandas com integrantes que tenham menos de 25 anos. A música extrema envelheceu e as poucas bandas da gurizada enfrentam enormes dificuldades em conseguir espaço e visibilidade. Seria esse um dos motivos pelos quais o rock em geral envelheceu? Não sabemos, mas o que fazemos é dar espaço para as novas bandas e estimulamos que a cena se renove cada vez mais! Por isso, hoje apresento em entrevista, a banda Berro Mote, que faz um hardcore crust antifascita visceral!

Vocês todos são muito jovens em uma cena envelhecida, na qual quase não vemos
bandas renovadas. Contém um pouco sobre a ideia de montar a banda, e esse início.

João Neto: É curioso como a banda se formou, né? O Paulinho guitarrista da Orgasmo
de Porco se encontrou comigo e o Lewi uma vez e perguntou se eu tinha banda para
um evento que ele estava organizando. Em um mês a banda é formada com o nome
Necronoise para fazer apenas um show e contou com o Lewi na guitarra, Gustavo
Maia na bateria e eu no baixo e vocal, um tempo depois a banda se encerrou, mas
deixando uma lembrança, pois a guitarra usada era do próprio Paulinho que nós
vendeu por 10 reais e a usamos até hoje na Berro.

Bruno: Eu na época, tinha uma amizade com o Lewi e conhecia o João e com isso já
estava acompanhando-os.
Colei no show deles e achei uma loucura que queria participar daquilo, principalmente
porque estavam precisando de um baixista. Semanas após o show o João não queria
mais saber de banda, rock e afins e eu consegui a conhecê-lo a tocar novamente.
Nesse meio tempo já começamos a ensaiar e nisso implantar várias ideias para
seguirmos seriamente com a banda. E vendo que faltava um baterista, chamei o
Rafael, que somos amigos desde época de escola e que tem uma idade próxima da
gente, então não tinha como não convidar.

O que significa o nome Berro Mote?

João Neto: Bom, não vivemos só de músicas extremas. Eu estava ouvindo muito
Belchior e lendo a respeito sobre a vida e os poemas de Torquato Neto. O “Berro” vem
de uma citação de Torquato quando ele fala que as pessoas precisam berrar “…E
fique sabendo: quem não se arrisca não pode berrar. citação: leve um homem e um
boi ao matadouro. o que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o
boi. adeusão.” Já o “Mote” que é muito popular nos cordéis, ficou por conta do primeiro
álbum de estreia de Belchior “Mote e Glosa” onde seus primeiros poemas curtos
viraram canções. Nossas letras são curtas e berramos, por isso Berro Mote.

A banda faz um grind-hardcore, tendo como primeiro registro o EP “Jornal Policial”.
Fale um pouco sobre o processo de gravação desse material.

Lewi: As músicas foram gravados no estúdio do Thiago Roxo (Lo-Fi Punkrock) em
março de 2020 e “acidentalmente” virou um EP, pois era pra fazer apenas parte de
um split com a banda Sorry For All de Socorro – SP, porém veio a pandemia e a nossa
gravação já estava pronta e com isso optamos em lança-la, até por conta da
abordagem das letras que tem uma questão mais de política social, que tinha muito a
ver com o que estava ocorrendo no país na época. Na Jornal Policial canção título por

exemplo, criticamos os jornais sensacionalistas que ganham audiência em cima das
dores das famílias e vendendo uma moralidade que nem eles mesmo seguem.

Vocês lançaram o clipe de “Decapitar fascistas” em forma de animação, que ficou
fuderoso. Conte um pouco sobre ele.

Bruno: Foi meio inesperado, pois estávamos parados por conta da pandemia e
precisávamos de um material para manter a banda em relevância, daí apareceu o
Gabigorfo (AnimaToxic), que além de ter feito a capa do nosso EP, trouxe a ideia em
forma de animação. Bom, juntamos o útil ao agradável o momento estava caótico
(ainda está) com as declarações do presidente e pelas coisas que estavam rolando
pelo mundo e um clipe animado transmitindo tudo isso que estamos passando prende
atenção das pessoas, ainda mais com a música Decapitar Fascista não teria como
ficar ruim, passamos a mensagem de forma clara e direta.

Quais são as maiores influências da banda? E quais bandas nacionais vocês
acham que todos deveriam conhecer?

É um pouco de tudo, só na nossa cidade e nos arredores podemos dizer que
crescemos ouvindo, Orgasmo de Porco, Lo-Fi Punkrock, Manger cadáver?, PSG,
Devastação Sob Terror, Discorde, Cruento e por aí vai… Sobre as bandas que todos
deveriam conhecer, Sorry For All que já estão na caminhada há um tempo, os menino
doido do Days Of Hate e os firmeza do Cabra.

Vocês são uma banda totalmente DIY. Falem um pouco sobre a importância da
produção independente, e suas dificuldades.

Rafael: Aqui em SJC sempre representou bem a região do Vale do Paraíba em
quesitos de produção independente, onde já colamos em diversos rolês com sempre
um pessoal diferente organizando. Porém nos últimos anos tem diminuindo bastante
os shows aqui, até porque cada vez mais existe menos lugares para as bandas se
apresentar, principalmente no vale do paraíba, que existe muitas banda boas e vimos
uma oportunidade de fazermos o nosso próprio role, que seria a Berro Fest, onde a
principal proposta é abrir espaço pra bandas que estão começando e muitas vezes
fazer o primeiro show e ter o contato com o público e bandas que já estão na estrada.
Após a pandemia queremos fazer mais edições e torcer que tenha novos espaços
para a cagalera começar organizar mais rolês, algo que é essencial pra toda cena.

A banda é claramente antifascista. Já sofreram algum boicote por isso? Qual é a importância de firmar esse posicionamento atualmente.

João Neto: Não e espero que nunca aconteça, afirmamos a nossa posição desde
sempre. Infelizmente, sabemos que existe pessoas más intencionadas que atrasa o
rolê com ideia torta. Já vimos punks e bangers que só repetem os discursos do
Bolsonaro e ainda dizendo que não se mistura som com política. Isso só deixa mais
evidente que temos que misturar sim! Não devemos abaixar a cabeça, pois esse tipo
de galera só fica na internet enchendo o saco.

Muito obrigado pela atenção. Esse espaço é de vocês. Deixem contatos e as
considerações finais.

De todos: Muito obrigado pelo espaço cedido e a todos que colaram nos nossos
shows, nos apoiaram nesse primeiro ano de banda, pois, underground não se faz
sozinho. Então, apoiem da forma que conseguirem, comprando merch, ouvindo
principalmente a banda, quando for possível colar nos eventos e sempre compartilhar
cada novidade porque os trampos são feitos pra chegar o mais longe possível.
Abração!!!

Acompanhe nosso trampo pelos canais:

YouTube: https://youtu.be/HvLGUBmPYk4
Spotify: https://spoti.fi/35dKJV3
Deezer: http://bit.ly/BerroDeezer
Instagram: https://www.instagram.com/berromote/
Twitter: https://twitter.com/BerroMote

Deuszebul Lança Single Evocando o Caos com Seu Blackned Grindcore

A banda de Natal/RN, Deuszebul, deixou o dia do rock com muito mais brutalidade ao liberar o single “Ao medonho eu entrego a degeneração de sua imagem” no Bandcamp e YouTube. Gravado em fevereiro de 2020 no Estúdio Ritornelo – EMUFRN por Anízio Souza e Paulo Dantas. Mixado e Masterizado por Anízio Souza, enche a nossa quarentena desesperançosa, com o caos que conta a influência do black metal no grindcore da banda.

“Sob o signo das pragas que espalham a desesperança, trazemos à tona as vozes dos moribundos atormentados pela vilania. Evocamos os sons do despedaçar, a primeira amostra da declaração de guerra ao mundo modificado pela dor.

Ao medonho eu entrego a degeneração de sua imagem é a manifestação das agonias. O peso singular que nos arrebata. Vozes caladas pelo isolamento. Cântico primeiro e solitário manifesto que traz alicerce para o PESAR. Tudo se mostra em multifaces, e aqui apresentamos a máquina anti-ídolos transfigurada pela alcunha de opositor.”

Bandcamp: https://deuszebul.bandcamp.com/track/ao-medonho-eu-entrego-a-degenera-o-de-sua-imagem

Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=7I8zMbeCWM8


Obitto Lança Clipe no Dia Nacional da Luta pelos Direitos das Pessoas com Sofrimento Mental.

A banda lançou hoje um videoclipe em voz a todos que sofrem e já sofreram com amigos ou parentes em descaso com as condições desumanas em que os pacientes são tratados.

Todo cidadão, pessoas com transtornos mentais, têm o direito fundamental à liberdade, o direito a viver em sociedade, além do direito a receber cuidado e tratamento, sem que para isto tenham que abrir mão de seu lugar de cidadãos.

Produção OBITTO & Núcleo Porta Preta https://www.facebook.com/PORTAPRETA/
Imagens Introdução Documentário “O Holocausto Brasileiro” Dir. Armando Mendz e Daniela Arbex Câmeras: Lucas Villar https://www.facebook.com/LOUKASNPP
Henrique Silva https://www.facebook.com/henrique.del…
Animação Gráfica: Ricardo Faller https://www.facebook.com/ricardo.faller
Edição e Finalização: AloukasArtes https://www.instagram.com/aloukasartes/ https://www.instagram.com/nucleoporta…

Test: O quebra-cabeça do “O Jogo Humano”

Apesar de já ter ouvido falar muito na banda Test, nunca tinha parado para ouvir. Foi a partir da participação da banda no programa Scena, que passei a pesquisar sobre a mesma e descobri esse excelente lançamento de 2019: O Jogo Humano. O álbum conta com nada menos que CINQUENTA E QUATRO faixas inspiradas em “marchinhas”. O trabalho é feito à base de vários sons com percussões ininterruptas e possui letras que satirizam partes específicas da sociedade.

O Jogo Humano – Arte por Carolina Scagliusi

Em entrevista, João Kombi explica que a ideia é a de o álbum funcionar como um jogo interativo, para que o ouvinte possa unir as palavras contidas nos títulos, formando frases doidas e criando sequências distintas a cada vez. Ou seja, ele monta o álbum como ele quiser. Loucura? Sim. Mas funciona demais.

O álbum transita entre o grindcore e o black metal, com blast beats fantásticos do Barata. O clássico “cavalo manco” continua no som, para agitar a galera e trazer o circle pit aos shows dos caras. O lançamento físico está sendo feito por diferentes selos, cada qual com sua montagem. Ou seja, você encontra diversas versões desse mesmo disco. Quer algo mais inovador? Aguarde, pois com certeza eles inventam algo fuderoso no futuro.

As letras, por sua vez, tratam principalmente de variadas falhas humanas. O que invariavelmente acontecem. Todo mundo erra e todo mundo erra muito. Talvez trata-se de uma crítica à nossa bolha que busca seres humanos perfeitos de caráter incorruptível, quase como uma Igreja. Se é isso de fato, não sei dizer. Test sempre deixa a dúvida no ar. A autoria das mesmas são músicos de outras bandas e até de alguns gêneros aleatórios ao som do Test, como Jair Naves. Cada autor recebeu um título, sem demais explicações.

Som visceral, criatividade, o Test se mostra uma banda única. Nem consigo enquadrá-los como uma banda de grind. Eles transcenderam esse rótulo criando algo que não existe. Conseguiram ao mesmo tempo deixar o som orgânico e sujo. Tem reverbs, tem pegada experimental, tem batera louca. Não espere lógica, o Test foge do mais do mesmo.

O trabalho foi gravado, produzido e mixado pelo próprio João em seu home studio, e masterizado no Audio Siege, em Portland, Estados Unidos, por Brad Boatright (conhecido por ter material lançado também com o Sleep, Full of Hell e YOB).

Desalmado: Som extremo anticapitalista e correria independente

Desalmado é uma banda operária. Uma banda que não espera as coisas acontecerem e levam o “Faça Você Mesmo” natural do punk para o metal. Com essência no grindcore, mas influência do death metal, as questões de raça, classe e luta contra o capitalismo estão presentes em todos os trabalhos do grupo. Além da banda, eles acrescentam em muito com a cena independente com projetos paralelos… Mas o foco dessa entrevista, é falar um pouco sobre os quinze anos dessa trajetória totalmente independente.

O Desalmado está em atividade sem pausas há 15 anos. Entre algumas mudanças de formação, vocês sempre foram ativos dentro do underground. Comentem um pouco sobre a mudança do cenário daquela época para os dias atuais.

Na época estávamos na raspa do tacho de ter suporte de selos e gravadoras importantes, isso fazia diferença e ainda faz mesmo que tardiamente. Em contrapartida era o momento de expansão massiva da internet e redes sociais, era o momento de aprendizado e surgimento de uma nova safra de bandas do underground, muita coisa mudou em termos de publico e forma de consumir música. Hoje o estilo que fazemos parte sofre um pouco para se renovar, mas esta caminhando firme na construção de algo novo.

O “Save us from ourselves” foi aclamado como um clássico do som extremo nacional. Com uma temática incisiva e instrumental brutal e muito bem produzido, o SUFO colocou a banda em outro patamar. Falem sobre o processo de composição, lançamento e o que mudou para vocês depois desse lançamento.
Foram 16 meses de muita preparação, muita volta atrás até chegar no resultado que gostaríamos. Quando saiu não esperava que as coisas soassem tão boas como aconteceu, acho que agora em 2019 estamos colhendo os frutos desse lançamento, com o reconhecimento e aumento considerável de fãs e amigos.

Foto: Raoni Carneiro

Com o passar dos anos, vocês incrementaram o death metal ao grindcore de vocês, deixando o som ainda mais pesado. Como isso aconteceu?

Cara, vou falar por mim, sou do death metal e sempre faço questão de frisar isso. Acho  que essa veia mais metal sempre existiu, mas nesse disco por incrível que pareça não teve nenhum tipo de condicionamento pra soar como algo Y ou X, não colocamos nenhum limite para criar, com essa liberdade, optamos por deixar o som mais pesado com algo que faria mais sentido pra cada integrante, e esse denominador comum era o death metal. Um exemplo prático, Estevam começou a ouvir mais death metal nos ultimos 4 anos, talvez de tanto encher o saco dele em discussões enormes por conta do Morbid Angel hahaha em algum momento, por meio do Gojira, que é altamente influenciado pelo Morbid, algumas fichas caíram e as coisas começaram a fluir melhor. Sou um grande fã do Morbid e ele do Gojira, enfim entramos num acordo hahaha

Considerada a tríade do grindcore nacional, Desalmado, Facada e Expurgo lançaram ótimos álbuns em 2018. Além da qualidade, as três bandas tem em comum o lançamento por um dos principais selos do Brasil, a Black Hole. Falem um pouco sobre essa parceria com o selo e a importância da venda de material de merch para que uma banda se mantenha nos dias de hoje.

A Black Hole nos ajudou no lançamento do split com o Homicide, mérito deles por fazer esse meio campo, e depois topou a parceria com outros selos, no caso o Helena Discos para soltar o nosso disco. Foi bem legal e é muito bom estar num espaço com tantas bandas incriveis.  Em tempo, agradeço ter incluido o Desalmado nessa tríade, é uma honra pra nós. 

Cara, sem merchandising a banda não sobrevive, simples, as pessoas chegam em nós pensando que vivemos da banda hahahah mal sabem eles que o merch ajuda a banda a fazer todos os deslocamentos, e atualmente, a planejar o próximo disco. Alias, obrigado a todos que compram na nossa loja e shows, vocês não tem dimensão do quanto isso é importante.

Foto: Marina Melchers

Como o cenário atual do Brasil tem afetado a cena local de São Paulo? Vocês consideram que o underground está mais conservador ou progressista?
Ta dividido, mas acho que sempre foi. Sempre circulei em meios progressistas, então vi pouca diferença no dia a dia. Agora é simples, a galera conservadora que ta no nosso meio é um pessoal revoltado por ser revoltado, não pensa no que ta rolando no mundo e abraça qualquer merda de meio de comunicação e sai por ai reproduzindo. Na real, essa galera gosta de cachaça na cabeça e falação de merda, quer ter uma familia e ir pra igreja no final de semana no final das contas. Eu curto pra caralho encher a cara de cachaça e curtir um som, mas a diferença é que sei como o mundo funciona e quero fazer a revolução socialista, mesmo bêbado hahaha 

Tivemos o prazer de ver o show de vocês no Abril Pro Rock. Vimos no mini doc que o vocalista Caio e o baterista Alemão ficaram doentes durante o período (o que não afetou em nada o show que estava brutal e foi um dos melhores da noite). Fora esse incidente, o que acharam da cena nordestina?
Segunda vez nossa em terras nordestinas, segunda vez incrível. Amamos o nordeste e todos os amigos/fãs que fizemos nessa região. Rolou essa parada comigo e Alemão, foi uma turnê também pelo sistema de saúde da região e várias farmácias, mas no final das contas o amor pelo som extremo prevaleceu. Sobre a cena nordestina, to pra dizer que ao lado das bandas mineiras, o nordeste concentra uma gama de bandas muito fora da curva no país, principalmente no ceará, pernambuco e rio grande do norte, torço pra que continuem produzindo muito.

Qual a mensagem que vocês deixam para a galera que está começando uma banda em 2019?

Estejam preparados pra ralar, não esperem nada de ninguem, evoluam como músicos e NÃO SEJAM PREGUIÇOSOS EM HIPÓTESE ALGUMA. As bandas que super deram certo pra fora são exceções, a gente conta em uma mão, pode apostar que ralaram pra caralho.. Quer reconhecimento? Trabalhe duro e não seja cuzão.

Indiquem 5 bandas nacionais que vocês curtem e falem um pouco sobre elas.

Foto: Marina Melchers

Paura, banda de hardcore que ta a mili anos no corre, fazem uma parada digna demais e só ficam melhores com o tempo, é igual vinho. Surra, amigos de longa data, o som da nova geração. Manger Cadavre?, o hardcore crust no ponto certo e com muita atitude. Escarnium, o death metal brasileiro em grande estilo. Deadtrack, decobri há pouco, torço para que tenham longevidade. Ficaram fora muitas outras de fora que poderia escrever 3 paragráfos por aqui.

Considerações finais.

Apoiem nosso cenário, compareçam aos shows, façam desses espaços uma grande festa, escrevem em blogs, canais, lutem contra o capitalismo e seu exército de fascistas, se organizem para fazer a revolução.
Muito obrigado pelo espaço, longa vida ao colecionador <3.

Resenha: Split Aphorism x Rabujos

O ano de 2019 tem nos presenteado com ótimos lançamentos. Entre, álbuns, singles e EPs, as bandas Aphorism e a Rabujos apostaram no bom e velho split!

As músicas do Aphorism foram gravadas por Dill Pereira no estúdio Ruído Rosa em Salvador, Bahia, Brasil entre Janeiro e Fevereiro de 2019. Já as do Rabujos foram gravadas por Pedro Santos e Rodrigo B. Nery no LL Studio em Recife, Pernambuco, Brasil, em Março de 2019.

O travalho foi mixado e masterisado por Miguel Tereso no estúdio Demigod Recordings em Caxarias, Portugal em abril de 2019 

Ja a arte da capa foi assinada por Ars Moriendee.


O split se incia com o Rabujos, com um soco que é o som “Os Horrores que eu lhe digo”, que conta com muito peso no instrumental e um vocal furioso. Com pouco mais de um minuto, “A era dos extremos” trata da religiosidade de uma fé perdida. “Opala” é um som que conta com muita raiva. “Marta” é o som que se destaca, com algumas quebras no instrumental, os riffs tortos soam muito bem. “Censura” por sua vez é outra som diferente que nos agradou muito, ” Escuro, escuso, excluso, ex-tudo, expurgo” é a frase que fixa na mente. Curiosamente, a banda optou por realizar um cover do Aphorism. “Luzes do Chaos” fecha com desespero os seis sons da banda que passam rápido, porém deixam impacto. Os nossos conterrâneos de Recife merecem todo o reconhecimento pelo trabalho que está impecável.

A Aphorism começa seus sons com o vocal urrado demoníaco em “Em chamas”, um som sobre desesperança e dor, mas que propõe a superação das perdas usando a raiva. “Engodo” começa com uma intro muito bem trabalhada, com destaque as riffs com uma melodia que seguem o caos do vocal, que traz o hálito do mentiroso. “Solitude” tem os elementos clássicos do death metal e é um dos pontos altos dos sons da banda. “Desalento” conta com uma bateria típica do deathgrind e com certeza será um dos sons que empolgarão o público para o mosh pit. Os baianos de Salvador continuam com a influência do grindcore no som À Lucidez, que também é empolgante e com detalhes marcantes. “Batismo e Gasolina” é um daqueles som que tem a blasfêmia como ingrediente especial, e é claro que gostamos muito! ” Na outra face do Cristo há um buraco de bala”, trata muito bem do que os cristãos atuais fariam com a figura, caso existisse e estivesse entre nós.

O split reforça a união das bandas do nordeste. Música extrema somada a consciência e qualidade elevada! Garanta o seu CD físico com os selos  Resistência Underground Distro e Prod.Insulto REXCospe Fogo GravaçõesEntorte Discos, Metal Island, Electric Funeral RecordsBurn Records e Tropical Death.

DESALMADO “Save us From Ourselves”

Já faz um ano que a banda de death grind Desalmado lançou o álbum “Save Us From Ourselves”, mas como naquela época o blog não estava em atividade, senti a necessidade de falar um pouco sobre esse, que é um dos maiores clássicos que o som extremo nacional possui. Na semana passada pude conferir pela primeira vez o show da banda no Abril Pro Rock e a constatação de que a brutalidade ao vivo da banda é ainda mais intensa que no cd, somada à postura do front Caio Augusttus me fez um fã ainda mais viciado no som.

Não canso de dizer: Desalmado, Facada e Expurgo são os grandes nomes do grindcore nacional e lançaram os melhores discos de 2018.

Desalmado no Abril Pro Rock – Foto por Anderson Chino

Mas vamos ao que interessa: o som! “Save us From Ourselves” é definitivamente o melhor lançamento da banda nesses 15 anos de existência. Se os fãs já estavam empolgados com a sequência do EP “Estado Escravo” e o split com a Homicide (São José/SC) “In grind We trust”, SUFO veio para consolidar a banda como um dos grandes nomes do som extremo latinoamericano. A banda saiu da mesmice e não se ateve ao simples grindcore. Eles ousaram ao incluir elementos africanos no som, como na faixa que dá título ao disco, com uma percursão que foi executada pelo primeiro baterista da banda, Thiago Sonho (que hoje trabalha no Boogie Naipe do Mano Brown).

Criticando grandes corporações e com letras claramente anticapitalistas, inteligentes, bem pensadas e apontando caminhos, o que é interessante, visto que o meio grind é repleto de niilismo. Um dos destaques para mim (me identifiquei demais) foi a letra de “Black Blood”. Poucas bandas no Brasil se posicionam tão fortemente com a causa negra como a Desalmado. Com Bruno Teixeira (baixista) e Caio Augusttus (vocal) como a representação do negro no metal, a banda toca na ferida e, assim, como já fizeram em trabalhos anteriores (como na música Diáspora) recordam que o povo sequestrado de sua terra sofre até hoje com o racismo que é estrutural. Eu, enquanto homem negro dentro do metal, só tenho que agradecer à banda.

“Bridges to a New Dawn” é um outro destaque. Com uma intro pesada, tensa, ela possui uma mensagem positiva, apontando caminhos para pontes de superação. No momento em que vivemos, isso é algo crucial. “Corrosion” mostra a versatibilidade da banda, pois incorpora outros elementos do metal, sem perder a identidade da banda. “Blessed by Money é um dos pontos altos do disco, mas o clipe que o som ganhou é simplesmente fantástico.

Em todos os sons o peso dos riffs de Estevam Romera ecoam e grudam na cabeça, os graves do baixo deixam tudo ainda mais brutal. O vocal nunca foi tão preciso e com tanta fúria, mas o que mais me encheu os ouvidos nesse disco, foi a brutalidade da bateria. Ricardo, o “Alemão” está em seu auge como baterista e tende a se tornar referência nacional dentre os bateras. Que marretadas, meus queridos!


Poderia ficar horas falando da produção, da técnica, da agressividade, composição, gravação… Mas me atenho a sentir o disco. É daqueles que emociona. O trabalho saiu em CD pelos selos Helena Discos e Black Hole e, também, em vinil pelo selo português Raging Planet. Adquira o seu e, se puder, cole em um show. É a catarse que a gente precisa pra poder encarar mais um dia de luta diária.

Ouça: https://open.spotify.com/album/5hPgLoKHDvpUYITvihi9bq?si=kw_1e5r6TYOZtpDXfr9WlQ

Facada “Quebrante”

Facada se consagrou como um dos maiores nomes do grindcore brasileiro. Após o clássico “Nadir”, de 2013,”Quebrante” vem para não deixar dúvidas sobre esse posto.


O álbum, que foi lançado no dia 5 se setembro de 2018 se tornou icônico, na medida em que a “facada” no, então, candidato à presidência Jair Bolsonaro, aconteceu no dia seguinte. Mas sua popularidade não se deu apenas pela coincidência e sim pela qualidade dos 23 sons que o discos contém.

Segundo o vocal/baixo James: “O nome do disco foi dado por causa de um tipo de maldição que minha mãe falava muito. “Quebrante” é também conhecido por “mau olhado”, quando alguém está indisposto, triste, sem forças, ruim mesmo. É comum ouvir que a pessoa está com quebrante/mau olhado, que alguém lançou sobre ela energias negativas que foram capazes de anular a energia vital daquela pessoa.” 

Então “Deixa o caos entrar”? Deixamos! O primeiro som começa com palhetadas que já nos fizeram pirar, para que a palavra de ordem “Nós somos o veneno” fosse lançada. O vocal do James nunca esteve tão conciso, as letras nunca estiveram tão posicionadas, riffs soando com muito mais peso e como não pirar na batera do Dangelo? Consideramos que essa é uma evolução muito importante no trabalho dos caras. “O pior de todos” é uma faixa destaque por se tratar de um som mais “torto”, com algumas quebradas. “A verdade gera ódio” é outro dos sons diferentões que o Facada trouxe nesse trabalho e que agradou muito ao público. E é claro que blasfêmea e anti-cristianismo não poderiam faltar no grind dos caras. “Blasfema eu” e “Ele não voltará” são ótimas canções para você colocar naquele almoço de domingo com o tio reaça. O som que fecha o álbum foi eleito como nosso preferido, com falas limpas e riffs mais tensos, “Miss Distopia” tem uma mensagem e clima pesado.

Esse é um item que não pode faltar na coleção do fã de grindcore. Facada, Desalmado e Expurgo lançaram discos clássicos em 2018 e deixaram o recado: o grind nacional é foda!