Quando O Sludge É Questionador: Desperato | Entrevista Com CRAS

Geralmente bandas de vertentes do Sludge possuem letras e temáticas mais introspectivas. Mas quando o hardcore é a veia propulsora dentro do estilo, o sludgecore é questionador e te coloca pra refletir. Confira o papo que tivemos com a banda paulista CRAS.

O EP ‘Desperato’ foi lançado faixa-a-faixa durante a pandemia, se adequando ao novo modelo de consumo de música. Vocês acreditam que hoje as pessoas não ouvem mais um trabalho completo? Pensam em lançar o material em formato físico?

(Hercules) Na verdade foi uma estrategia para ganharmos mais experiência com os lançamentos, pois tinhamos um total de zero experiência. E o mais legal deste aprendizado, foi que percebemos que ele nos ajudou na visibilidade da banda, sempre tínhamos algo novo para oferecer ao público. Sobre o consumo de álbuns completos o que percebemos é que o tempo que uma pessoa consome um disco completo é o mesmo que ela consome um single, nas plataformas de streaming. Porém acreditamos muito que este comportamento mude de plataforma para plataforma e que o material físico tenha um comportamento diferente de consumo.

Pelo menos é o que nós esperamos.

A novidade do ‘Desperato’ foi o som ‘The Price of Consent’ que tem uma pegada mais hardcore ao sludge da banda e lembra até algumas bandas clássicas do crust em dados momentos. Como se deu o processo de composição do trabalho como um todo? Fale um pouco sobre influências, instrumental, letras, gravação…

(Lucas) Realmente essa música, mais do que as outras do EP, teve muito mais influência de Crust e Neo Crust em sua composição, queriamos algo mais raivoso no instrumental dessa música, para contrastar com as partes lentas do EP, então muito da influência de Wolfbrigade, Amebix, Skitsystem, Rastilho, Discharge, Manger Cadavre está nessa música. Combinou muito com a letra, pois há mais raiva nessa do que nas outras faixas. Na letra, há um pararelo entre a situação horrivel que passamos com esse desgoverno nos ultimos 4 anos, e a criação de uma seita envolta desse tal “mito”, e o conto do Rei de Amarelo de Robert Chambers, nessa história, todos que tem contato com essa entidade (rei de amarelo) acaba ficando louco e coisas ruins acontecem, o que foi muito do que aconteceu no Brasil, Bolsonaro despertou o pior nas pessoas, e isso cobra um preço.

‘Beta’ é um som já lançado como single que contou com a participação da grande vocalista Mayara Puertas. Como se deu essa parceria? Vocês pensam em gravar novos sons com participações especiais?

(Marili) Eu e o Lucas fizemos aula de vocal com a May, então ela acompanhou boa parte do que o Cras foi construindo. Em umas das aulas, levei a letra de Beta, e instintivamente ela nos ajudou a estruturar alguns partes da música. E, o convite para a participação dela foi natural e ela aceitou na hora.
Para nosso primeiro full temos alguns nomes em mente, e queremos sim contar com participações especiais.

‘Desperato’ é um EP enérgico, mas que conta com certa melancolia em suas linhas de guitarra. Qual é o sentimento específico que vocês buscaram transmitir com cada instrumento e vocais?

(Lucas) a Melancolia é base na temática do Cras desde sempre, as músicas foram compostas em momentos bastante dificeis e nos ajudaram a expurgar muitas coisas. Acredito que o Cras é um local pra gente admitir e falar sobre coisas que não falariamos em uma conversa normal, então isso se traduz muito para a criação do instrumental, visto que geralmente a musica vem antes das letras, as linhas instrumentais é onde essas frustrações aparecem de forma mais pura, e aparecem não só nas notas mas na instensidade e força que tocamos os instrumentos, há muita tristeza, e particularmente algo de “eu versus eu mesmo” em todas as composições. Na questão técnica, nos tentamos ter bantante cuidado em mesclar essas duas maiores influencias que são antagonicas em velocidade, o Sludge/post-metal e o HC/Crust, então há uma preocupação real para conseguimos criar algo original. Com as vozes, o desafio é achar o contraste certo para as duas vozes, funciona muito bem, pois eu e Marili não necessariamente temos a mesma interpretação e leitura das letras, então isso reflete na forma que a gente canta.

A capa do trabalho nos transmite certo desespero, pois, respondendo a provocação de vocês: Não! Não sabemos diferenciar um ab0rto de um parto. Fato que nos faz refletir sobre como o corpo da mulher e as violências sofridas na normalidade nos são incômodas. Como vocês definiram essa capa? Falem um pouco sobre o processo artístico.

(Hércules) Como o Lucas comentou anteriormente a “Cras é um local pra gente admitir e falar sobre coisas que não falariamos em uma conversa normal”, com isso nos abrimos para expormos dores que são muito intimas e particulares. Muitos vezes, este exercício se expande e acaba envolvendo nossos familiares mais próximos e em um destes momentos minha esposa me disse que se o EP tivesse um gênero ele seria feminino, pela forma que ele abordas as dores, mas sempre tenta reagir trazendo o contra ponto da força traduzida nos momentos mais pesados e intensos das músicas. Depois desta fala eu e ela, que já havia feito a ilustração do single Beta e participou do clipe. Começamos a explorar o que seria o momento mais complexo que uma mulher pode passar em vida e nos deparamos com um parto. Um momento tão significativo e violento para o corpo que um homem não seria capaz de resistir fisicamente aquelas dores e ao mesmo tempo é um dos momento onde é mais comum a violência obstétrica. Não precisa ir longe para descobrir casos de mulheres que sofrem e guardam traumas caladas deste momento único, e que ao contrario do que vendem não tem nada de mágico. Quando chegamos a esta conclusão, ela sugeriu usar uma foto do parto do nosso último filho, para ilustrar que a sociedade nos corrompe e ilude tanto que não somos nem mais capazes de diferencias um nascimento de um aborto, E que este distanciamento só serve para garantir que cada vez mais mulheres sofram caladas ao trazer uma vida ao mundo, ou ao perder a vida que elas vinham gerando dentro delas.

Vocês, incrivelmente, conseguiram fazer inúmeras apresentações durante 2020, o que é um grande feito para uma banda nova e que já começa com uma qualidade ímpar de sonoridades. Falem um pouco sobre a importância da estrada para a maturidade das bandas e como vocês fazem para conseguir tantos shows.

(Cris) A estrada é fundamental para elevar a banda para o próximo nível, vendo bandas mais experientes de perto, os equipamentos que utilizam, os comentários da galera, na minha opinião esses são alguns fatores que ajudam bastante nesse processo de amadurecimento.

Sobre os shows, nós tentamos aproveitar todas as oportunidades possíveis para tocar, conhecer e reconhecer as bandas e pessoas que nos identificamos. Como estamos sempre presentes nos shows dos amigos, muitos convites acabam acontecendo de forma espontânea, tanto para shows quanto para participações como no caso da Mari e do Lucas que já cantaram com o Manger Cadavre, RNS e Inraza.

O que podemos esperar do CRAS daqui pra frente?

(Cris) Iniciamos os trabalhos de composição do nosso primeiro full album, temos planos de gravar e lançar em 2023. E claro, tocar ainda mais para conhecer outras cidades e Estados do Brasil.

Muito obrigado pela atenção! Esperamos vocês em Recife assim que possível. Esse espaço é de vocês, deixem um recado final.

Parabéns pelo seu trabalho no “O Colecionador”, é muito completo e o conteúdo é de altíssima qualidade.
Para finalizar, gostaríamos de agradecer pela oportunidade única e comentar que, tocar em Recife é um sonho nosso e o Abril Pro Rock é um dos maiores festivais do país, ficaríamos muito honrados de visitar Pernambuco. Abraço a todos, cuidem-se e apoiem as bandas nacionais.

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Mostrando A Consequência | Entrevista Com A Banda Mineira Aneurose

No berço brasileiro do metal encontramos bandas fizeram e fazem história. Esse é o caso a Aneurose, que está ativa desde 2002 fazendo um thrash metal com muita identidade e peso. Conversamos com o vocalista Wall Almeida que trouxe uma perspectiva mais ampla sobre a banda.

Fale um pouco sobre o início do Aneurose.

Wall Almeida: Quando começamos lá em 2002 a gente só queria tocar, beber e se divertir. Naquela época não pensávamos em ter a banda que nos tornamos hoje. A partir de 2011 quando resolvemos retornar de uma pausa nas atividades com nova formação, buscamos profissionalizar a banda o máximo que podíamos e foi aí que tudo passou a dar mais certo. É muito gratificante olhar para trás e ver tudo que conquistamos, mas é pouco perto do nosso objetivo.

Como foi gravar o “Made in Rage” em meio a pandemia?

Wall Almeida: Na verdade a maior parte das gravações do “Made in Rage” foi finalizada em fevereiro de 2019. Estávamos com material pronto quando a pandemia estourou, causando uma incerteza muito grande em todo o mundo, e por isso resolvemos esperar para lançar o disco. Durante a pandemia escrevemos a música “Ruptura”, essa nós fizemos todo o processo em home office, gravamos em nossas casas e mandamos para nosso produtor Celo Oliveira. Assim, consideramos o disco completo e resolvemos lançar nesse ano.

O clipe da música “Ruptura” tem sido muito elogiado pela galera da mídia independente. Por que a escolha da música?

Wall Almeida: Nossa ideia é fazer clipe para muitas faixas do novo disco. Ruptura retrata o momento atual que estamos vivendo, e por isso foi uma escolha óbvia para nós lançar o primeiro vídeo com essa música.

Ainda sobre a música “Ruptura”, a letra tem um teor bem crítico aos tempos difíceis que vivemos que se aprofundam com a desinformação. Falem um pouco sobre esse som.

Wall Almeida: Essa música é uma das minhas favoritas de toda nossa discografia. Eu estava em casa entediado, tomando umas cachaças e tocando violão e tive a ideia da música e liguei para o Raphael Wagner pra gente compor. Depois disso trabalhamos junto com toda a banda e escrevemos a letra. Espero que a mensagem dessa canção possa abrir os olhos das pessoas quanto à gravidade dessa pandemia.

Com a impossibilidade de shows, as redes sociais tem sido uma forma de aproximar bandas e público. Vemos que vocês são bastante ativos nos canais da banda, sempre interagindo com a galera. Como tem sido para vocês ficar sem o presencial e ficar só com o virtual?

Wall Almeida: As Redes Sociais são hoje nossas maiores aliadas, então com certeza precisamos utilizar ela a nosso favor, mas nada substitui o presencial né? Essa é nossa forma favorita de interagir com o público, tocando, fazendo mosh e trocando ideias. Não vemos a hora disso tudo acabar para voltar para estrada.

Vimos que o “Made in Rage” saiu em material físico. Qual é a importância do CD na era do streaming?

Wall Almeida: Eu particularmente adoro material físico, mas sei que boa parte da galera prefere o streaming. Como já disse certa vez Marcelo Pompeu, “-antes fazíamos shows para vender discos, hoje gravamos discos para vender shows”. O material físico realmente é um cartão de visitas importante, mas nós valorizamos muito os fãs que colecionam nossos discos, então não podíamos deixa-los na mão.

Quais são os planos da banda para o pós pandemia?

Wall Almeida: Se tudo correr bem com a vacinação e imunização da população pode ter queremos pegar a estrada, tocar em todas as regiões do Brasil e quem sabe pela América Latina. Podem esperar também uma edição especial do Aneurose Festival, esperamos fazer um 2022 inesquecível.

Pra esse ano, ainda teremos lançamentos? Teremos novidades?

Wall Almeida: Com certeza! Como disse, em breve lançaremos novos clipes e muito mais! Podem aguardar.

Muito obrigado pela atenção e parabéns pelo trabalho. Esse espaço é de vocês, deixem um recado e os links para contato.

Wall Almeida: Em 2021 não teremos a volta de shows, eventos, e isso é muito prejudicial não só para nós músicos como para todos envolvidos diretamente na indústria de eventos. Porém somos otimistas e acreditamos que temos que fazer nossa parte, estamos trabalhando para gerar conteúdo que dê suporte e alivie as pressões da quarentena e distanciamento social da galera, queremos que nossa música seja uma válvula de escape, e que ajude o pessoal a ficar em casa. Se cada cidadão fizer sua parte as coisas tendem a melhorar. Espero e desejo do fundo do coração que a gente passe logo por essa fase terrível e que seja rápido. Usar máscara, higienizar as mãos, fazer o distanciamento social e se vacinar é o dever de todos que querem ter suas vidas “normais” de volta.

Muito obrigado a você pelo espaço e parabéns pelo seu trabalho, é de extrema importância para nossa cena. Agradeço a todos que sempre nos apoiam e motivam a gente a continuar nessa luta. Rock on!

Links:

Vídeos oficiais:

Ruptura: Aneurose – Ruptura [OFFICIAL MUSIC VIDEO] – YouTube

Deathly, Cold, Chill: https://youtu.be/qKE33FuTngY

Drunk as Skunk: https://www.youtube.com/watch?v=At_lWKlI_uc

Butcher: https://www.youtube.com/watch?v=RLqn4TiPkdc

Hunting Knife: https://www.youtube.com/watch?v=-_CViwA8CXM

Discografia disponível para audição no Spotify, Deezer e demais plataformas de streamings:

Made in Rage (2021)

Juggernaut (2016)

From Hell (2013)

Páginas oficiais:

http://www.aneurose.com.br

Facebook: www.facebook.com/aneurose

Youtube: www.youtube.com/aneurosetv

Instagram: @aneurose

Do Rap ao Hardcore! Conheça um pouco mais sobre o Maddiba em Entrevista Exclusiva

Maddiba é a grata surpresa de 2020. Já falamos um pouco sobre o Santo André, primeiro álbum completo da banda aqui no blog, mas hoje conversamos um pouco com essa galera em entrevista exclusiva.

O que o álbum Santo André significa para cada um de vocês?
Signifinica a concretização de um sonho que tinhamos a um bom tempo. Sabemos que não é facil para as bandas lançarem um album, muito pelo lado Financeiro e tempo. Então hoje ficamos muito honrados em ter essa oportunidade de ver algo que fizemos com muito amor e dedicação disponibilizado para as pessoas conferirem.

Como foi a recepção do público com o álbum?
Tem sido muito boa, recebemos feedbacks de vários lugares do Brasil e até de fora que não imaginavamos que o som poderia chegar…..então vimos como todo o nosso suor de ir atrás e lançar o album valeu a pena.

Como surgiu a ideia de mesclar hardcore, metal e rap?
Surgiu do ponto que todos os membros já curtiam muito os 3 estilos…….então em um determinado momento pensamos: Por que não misturar tudo? …..lembramos de várias bandas que também já fizeram essa mistura….logo decidimos por em pratica a ideia.

Falem um pouco sobre o clipe de City of SA.
A ideia do Clipe era mostrar um pouco de onde viemos e contar a história da nossa cidade.
De inicio filmamos na cobertura do prédio(onde a banda executa a música com instrumentos) e outra parte no centro de santo André sendo somente a parte de Rap. Quando vimos o primeiro resultado achamos que poderiamos mostrar ainda mais a cidade, então fomos até a região de Paranapiacaba filmar umas cenas onde é possível ver muitas areas verdes da nossa cidade, linhas de trem e etc. E posteriormente filmamos em outros pontos que são marcantes como a Prefeitura, avenidas conhecidas…..assim com o resultado final do clipe é possível ter uma visão da cidade de Santo André de vários pontos.

Indiquem 3 bandas nacionais do underground brasileiro que vocês ouvem.
Ratos de Porão, Surra e Kamau.

Quais são os planos futuros da banda?
Estamos com plano de lançar material em português, na realidade já temos alguma coisa pronta. E assim que tudo melhorar em decorrer dessa pandemia, cair na estrada e fazer o maior número possível de shows.

Esse espaço de vocês, deixem as considerações finais e links de contato.
Gostaria de agradecer o espaço para respondermos perguntas em relação a banda, essas entrevistas são muito importantes pois só ajudam a fortalecer a cena que tanto amamos, que é a cena underground.
E também gostariamos de reforçar os cuidados que devemos ter nesse momento de pandêmia e que com certeza em breve estaremos tocando por ai!
abraço e muito obrigado ao O Colecionador o espaço que tivemos aqui! !!

Links da banda:
https://www.facebook.com/maddibaband/
https://www.instagram.com/maddibaband/

Para outras informações e Merch:
https://linktr.ee/maddiba

O Que Há Depois Da Morte? Brutal Death Metal – Entrevista Com a Banda Postmortem Inc

O Rio Grande do Sul é uma escola quando se trata de death metal. Da terra de onde saiu o Krisiun, não poderíamos esperar nada menos brutal. Conversamos um pouco com a banda de Pelotas, Postmortem Inc, que para nós é a grande promessa de estouro do metal brasileiro.

Conte um pouco sobre a trajetória da banda. Ano de formação, integrantes, discografia…

Douglas: A banda iniciou os trabalhos em 2004, em Pelotas/RS, 4 amigos querendo fazer som pesado, do thrash ao Death metal, Bruno e Daniel Añaña na guitarra e baixo, respectivamente, Douglas Veiga na bateria e Willian Knuth no vocal. Essa formação durou pouco, em seguida Matheus Heres assumiu o baixo e deixamos de lado os covers e começamos a compor material para uma demo. Durante as gravações da demo “Out of Tomb”, em 2006/2007, Willian saiu da banda, Bruno assumiu os vocais e Mou Machado entrou como segundo guitarrista. Nossa demo teve um longo alcance, com distribuição na Alemanha, França, Malásia, Canadá e Peru. Nessa época, ganhamos notoriedade na cena local, o que nos rendeu um longo período de muitos shows pelo estado. 

Em 2010, Matheus saiu da banda e Juliano Pacheco entrou como baixista, fechando a nossa formação atual. Resolvemos lançar mais material em 2013, o EP “Atra Mors”, com 2 músicas inéditas e uma regravação de “Possession of Spirit and Flesh”, lançado pela Rapture Records, Blasphemic Arts e Rock Animal. Em 2014 lançamos o EP “Within the Carcass” pela Cianeto Discos, com 3 músicas inéditas e uma regravação de “Decomposition on High Degree”. Esses dois Eps foram unidos e foi lançado em 2016 como Split com a banda Casket Grinder, da Colômbia, sob o nome de “Sepulcro Eterno” lançado pela Tribulacion Records. 

Sempre na ativa, tocando onde rolar e do jeito que der, seguimos a nossa trajetória, que no momento está direcionada pro lançamento do nosso primeiro full-lenght, chamado “The Conqueror Worm”.

Recentemente vocês incluíram o INC ao nome da banda. Falem um pouco sobre a alteração.

Mou: Fizemos essa pequena alteração no nome por questões legais e para facilitar as buscas pelo nosso material, pois éramos frequentemente confundidos com outra banda chamada Postmortem, da Alemanha. Já estávamos há tempos pensando sobre a mudança de nome para acabar com essa confusão, quando iniciamos o processo de registro das nossas novas músicas foi o momento de decidir. Apesar da mudança, parafraseando o Juliano, “se chamar Postmortem a gente atende” hahahahah.

Vocês tem se destacado na cena death metal brasileira, e estão todos ansiosos para o lançamento do full album. Nos contem um pouco sobre o processo de gravação desse material.

Douglas: Esse material novo foi lapidado por uns 4 anos, período em que fazíamos vários shows e queríamos entrar em estúdio com as músicas prontas e afiadíssimas. Somos muito detalhistas e refizemos várias vezes antes de estarmos confiantes para de fato gravar. Gravamos as baterias num estúdio familiar à nós, o Bokada Estúdios, do nosso querido amigo e apoiador da cena, Marcelo Rubira. Cordas e vozes foram gravadas no estúdio do Bruno, Brut Áudio, onde ele também mixou. Aliás, o Bruno responde por toda gravação e mixagem. Fui responsável pela arte da Capa, design do encarte e também pelas letras. 

Mou: O processo de composição foi longo, pois trabalhamos bastante para que soasse como um disco, e também foi bem variado, com músicas colaborativas e individuais. Na época eu morava em outra cidade, então nos juntamos apenas em alguns finais de semana para ensaiar e organizar as composições, o que acabou tornando o processo mais lento, mas estamos muito satisfeitos com o resultado.

O clipe de “State of Conspiracy” vem sendo muito elogiado e vocês anunciaram o lançamento de um lyric video de  “Forgotten Decay”. Nos contem sobre a importância das produções digitais em época de pandemia e como a ausência de shows tem impactado a banda.

Mou: Eu diria que as produções digitais são muito importantes nos tempos atuais, a pandemia só deixou isso mais evidente. Esse tipo de conteúdo se tornou a forma praticamente exclusiva de mostrar os trabalhos realizados nesse período maldito. O plano inicial era filmar um clipe com roteiro e captação de cenas inéditas, mas dadas as condições tivemos que pegar registros de shows feitos antes da pandemia e transformar em um clipe. Gostamos do resultado e a repercussão está sendo bastante positiva!

A ausência de shows está nos matando hahahahah, pois somos uma banda que topa qualquer parada pra tocar, desde que seja viável. Lançar o novo disco sem um show vai ser bem chato, mas nos deixa mais pilhados para quando a oportunidade surgir de novo.

Indiquem 5 bandas de death metal nacionais que vocês ouvem e recomendam.

Mou: Somos grandes consumidores de bandas da região, pois são as bandas que dividem os palcos conosco no circuito gaúcho. Das bandas na ativa, indicamos Exterminate, Bloodwork, Burn the Mankind, Horror Chamber e Atropina. Dica bônus: Uma banda de thrash mas com um pézinho no death, Necromatório.

Douglas: Gostaria de citar além destas que o Mou citou, as bandas Khrophus, Lacerated and Carbonized, Clawn, Bloody Violence e Mawashi Geri.

Falem um pouco sobre a parceria com a Rapture Records e a importância dos selos no Brasil.

Douglas: Já conhecíamos o Geni da Rapture desde os primórdios, quando tocamos no Steel Festival, em Criciúma/SC, projeto organizado por ele e que teve mais de 70 edições. De lá pra cá houveram vários contatos ao longo dos anos, e como ele sempre fez um trabalho impecável firmamos mais uma vez a parceria para este disco, que é nosso primeiro Full Length. Acredito que um cena sem selos, não existe, só as bandas não teriam a rede de contatos que se forma através dos inúmeros contatos que um selo traz. Contato este entre público e demais selos e distribuidoras. Sempre trabalhamos de forma independente e na base do “Do it yourself” , e é natural a gente procurar pessoas que têm essa mentalidade. É nessa hora que os selos independentes fazem a diferença e a roda do underground girar.

Pelo último single, vimos que a banda é posicionada ideologicamente. Em tempos obscuros, qual é a importância em levar a mensagem contra o fascismo em letras ou posicionamentos?

Douglas: Nos posicionamos contra a opressão, vinda do estado ou da sociedade como um ser autônomo. Não se posicionar contra o fascismo é escolher o lado do opressor, entendo que por medo de represálias ou algo assim. Porém a música e as artes em geral, para mim, são o veículo mais forte de comunicação. Não usar esse poder é se acovardar. Eu simplesmente não consigo ver o caos que estamos mergulhados e não falar nada, não escrever sobre. Mesmo que seja metaforicamente, minha escrita tende à rebeldia, a luta contra o sistema, e claro a desesperança na raça humana. As letras expõem o lado podre do ser humano com suas alienações mundanas, seus medos e seus delírios obscuros, incluindo profundas alegorias de cunho social. 

Obrigado pela atenção e esse espaço é de vocês. Deixem contatos e as considerações finais. 

Mou: Agradecemos pela oportunidade, esperamos que gostem do nosso trabalho a ser lançado em seguida e não vemos a hora de ir tocar na região Nordeste do país, sempre ouvimos falar muito bem da cena! Grande abraço para todos e vida longa ao canal! 

Douglas: Muito obrigado pelo espaço, esperamos poder voltar a tocar em breve e com certeza ainda vamos tocar pela região nordeste

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A Renovação da Cena: Entrevista Com Berro Mote

Grande é a minha procura por bandas com integrantes que tenham menos de 25 anos. A música extrema envelheceu e as poucas bandas da gurizada enfrentam enormes dificuldades em conseguir espaço e visibilidade. Seria esse um dos motivos pelos quais o rock em geral envelheceu? Não sabemos, mas o que fazemos é dar espaço para as novas bandas e estimulamos que a cena se renove cada vez mais! Por isso, hoje apresento em entrevista, a banda Berro Mote, que faz um hardcore crust antifascita visceral!

Vocês todos são muito jovens em uma cena envelhecida, na qual quase não vemos
bandas renovadas. Contém um pouco sobre a ideia de montar a banda, e esse início.

João Neto: É curioso como a banda se formou, né? O Paulinho guitarrista da Orgasmo
de Porco se encontrou comigo e o Lewi uma vez e perguntou se eu tinha banda para
um evento que ele estava organizando. Em um mês a banda é formada com o nome
Necronoise para fazer apenas um show e contou com o Lewi na guitarra, Gustavo
Maia na bateria e eu no baixo e vocal, um tempo depois a banda se encerrou, mas
deixando uma lembrança, pois a guitarra usada era do próprio Paulinho que nós
vendeu por 10 reais e a usamos até hoje na Berro.

Bruno: Eu na época, tinha uma amizade com o Lewi e conhecia o João e com isso já
estava acompanhando-os.
Colei no show deles e achei uma loucura que queria participar daquilo, principalmente
porque estavam precisando de um baixista. Semanas após o show o João não queria
mais saber de banda, rock e afins e eu consegui a conhecê-lo a tocar novamente.
Nesse meio tempo já começamos a ensaiar e nisso implantar várias ideias para
seguirmos seriamente com a banda. E vendo que faltava um baterista, chamei o
Rafael, que somos amigos desde época de escola e que tem uma idade próxima da
gente, então não tinha como não convidar.

O que significa o nome Berro Mote?

João Neto: Bom, não vivemos só de músicas extremas. Eu estava ouvindo muito
Belchior e lendo a respeito sobre a vida e os poemas de Torquato Neto. O “Berro” vem
de uma citação de Torquato quando ele fala que as pessoas precisam berrar “…E
fique sabendo: quem não se arrisca não pode berrar. citação: leve um homem e um
boi ao matadouro. o que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o
boi. adeusão.” Já o “Mote” que é muito popular nos cordéis, ficou por conta do primeiro
álbum de estreia de Belchior “Mote e Glosa” onde seus primeiros poemas curtos
viraram canções. Nossas letras são curtas e berramos, por isso Berro Mote.

A banda faz um grind-hardcore, tendo como primeiro registro o EP “Jornal Policial”.
Fale um pouco sobre o processo de gravação desse material.

Lewi: As músicas foram gravados no estúdio do Thiago Roxo (Lo-Fi Punkrock) em
março de 2020 e “acidentalmente” virou um EP, pois era pra fazer apenas parte de
um split com a banda Sorry For All de Socorro – SP, porém veio a pandemia e a nossa
gravação já estava pronta e com isso optamos em lança-la, até por conta da
abordagem das letras que tem uma questão mais de política social, que tinha muito a
ver com o que estava ocorrendo no país na época. Na Jornal Policial canção título por

exemplo, criticamos os jornais sensacionalistas que ganham audiência em cima das
dores das famílias e vendendo uma moralidade que nem eles mesmo seguem.

Vocês lançaram o clipe de “Decapitar fascistas” em forma de animação, que ficou
fuderoso. Conte um pouco sobre ele.

Bruno: Foi meio inesperado, pois estávamos parados por conta da pandemia e
precisávamos de um material para manter a banda em relevância, daí apareceu o
Gabigorfo (AnimaToxic), que além de ter feito a capa do nosso EP, trouxe a ideia em
forma de animação. Bom, juntamos o útil ao agradável o momento estava caótico
(ainda está) com as declarações do presidente e pelas coisas que estavam rolando
pelo mundo e um clipe animado transmitindo tudo isso que estamos passando prende
atenção das pessoas, ainda mais com a música Decapitar Fascista não teria como
ficar ruim, passamos a mensagem de forma clara e direta.

Quais são as maiores influências da banda? E quais bandas nacionais vocês
acham que todos deveriam conhecer?

É um pouco de tudo, só na nossa cidade e nos arredores podemos dizer que
crescemos ouvindo, Orgasmo de Porco, Lo-Fi Punkrock, Manger cadáver?, PSG,
Devastação Sob Terror, Discorde, Cruento e por aí vai… Sobre as bandas que todos
deveriam conhecer, Sorry For All que já estão na caminhada há um tempo, os menino
doido do Days Of Hate e os firmeza do Cabra.

Vocês são uma banda totalmente DIY. Falem um pouco sobre a importância da
produção independente, e suas dificuldades.

Rafael: Aqui em SJC sempre representou bem a região do Vale do Paraíba em
quesitos de produção independente, onde já colamos em diversos rolês com sempre
um pessoal diferente organizando. Porém nos últimos anos tem diminuindo bastante
os shows aqui, até porque cada vez mais existe menos lugares para as bandas se
apresentar, principalmente no vale do paraíba, que existe muitas banda boas e vimos
uma oportunidade de fazermos o nosso próprio role, que seria a Berro Fest, onde a
principal proposta é abrir espaço pra bandas que estão começando e muitas vezes
fazer o primeiro show e ter o contato com o público e bandas que já estão na estrada.
Após a pandemia queremos fazer mais edições e torcer que tenha novos espaços
para a cagalera começar organizar mais rolês, algo que é essencial pra toda cena.

A banda é claramente antifascista. Já sofreram algum boicote por isso? Qual é a importância de firmar esse posicionamento atualmente.

João Neto: Não e espero que nunca aconteça, afirmamos a nossa posição desde
sempre. Infelizmente, sabemos que existe pessoas más intencionadas que atrasa o
rolê com ideia torta. Já vimos punks e bangers que só repetem os discursos do
Bolsonaro e ainda dizendo que não se mistura som com política. Isso só deixa mais
evidente que temos que misturar sim! Não devemos abaixar a cabeça, pois esse tipo
de galera só fica na internet enchendo o saco.

Muito obrigado pela atenção. Esse espaço é de vocês. Deixem contatos e as
considerações finais.

De todos: Muito obrigado pelo espaço cedido e a todos que colaram nos nossos
shows, nos apoiaram nesse primeiro ano de banda, pois, underground não se faz
sozinho. Então, apoiem da forma que conseguirem, comprando merch, ouvindo
principalmente a banda, quando for possível colar nos eventos e sempre compartilhar
cada novidade porque os trampos são feitos pra chegar o mais longe possível.
Abração!!!

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Escória Comix: A Editora de Quadrinhos Criada para Aniquilar a Raça Humana.

Nem só de discos de vinil e cds é composta a minha coleção. Dentre elas estão muitos quadrinhos, que luto contra a maresia e as traças para manter intactos. Infelizmente a maioria deles são da Marwell ou DC e seus selos, mas a meta de 2020 era dar apoio ao cenário nacional que possui muitos autores fuderosos. Nessas minhas sagas em bancas de shows independentes, encontrei o Rogéria, uma HQ com a lenda Fábio Mozine, e conheci o incrível trabalho de Lobo Ramirez, o fundador da editora Escória Comix. Tive um papo que me fez refletir bastante com ele. Falamos um pouco sobre ter uma editora em tempos de pandemia, underground da HQ e da música, ideologia nos quadrinhos e muito mais. Confira entrevista:

Nenhuma descrição de foto disponível.

Antes do início do Escória Comix, você já ilustrou capas de discos, cartazes de shows, e artes de marcas independentes. Fale um pouco sobre a sua trajetória no underground relacionando música e arte.

Comecei desenhando capas de álbuns de bandas de amigos e da minha própria banda , depois fui fazendo cartazes de shows ai  quanto mais gente ia conhecendo meu trabalho aparecia mais pedidos pra arte de camiseta capas de albuns. 

Basicamente foi isso, sempre tudo misturado música e arte.

Como se deu a ideia de criar uma editora de HQ´s? Como é o mercado? Dá pra viver de quadrinhos no Brasil?

Cara, a ideia de criar uma editora de HQ’s  surgiu porque eu queria juntar num lugar só todo o pessoal que produzia os quadrinhos loucos que eu gostava, normalmente esses doidos  fazem tudo sozinhos e  como é muito trabalho desenhar e ainda ter que vender seu peixe nem sempre conseguem atingir  um público maior , já com a editora da uma melhorada nisso porém já respondendo sua segunda pergunta o “mercado” é desigual e espalhado e na verdade é mais um monte de cena de quadrinhos por ai com pouca  visibilidade e por isso não dá pra viver de quadrinhos no Brasil, as pessoas que conseguem “viver” muitas vezes fazem trabalhos para fora por que aqui mesmo não existe um mercado sólido pra sustentar esse tipo de atividade.

Além das HQ´s, você vende outros produtos na loja virtual da Escória. Qual é a importância desse, digamos, merchandising para a editora? O valor arrecadado ajuda a financiar edições?

É com a venda desse merchandising que consigo lançar os quadrinhos. Esses produtos ( bonés, camisetas, meias etc) são o que mais vende no site e são essenciais para a Escória sem eles não consigo financiar a produção dos HQs.  Como um camarada meu diz é “Independent Comix Street Wear” hahaha.

Você também edita o trabalho de outros artistas, além dos seus próprios. Fale um pouco sobre eles.

Eu demorei pra me tocar que o trabalho que eu faço é editar mas as vezes editar significa saber que o que o outro artista entregou já está perfeito ai é só arrumar pra mandar pra gráfica. Digo isso porque fui descobrir depois que tem muita gente que se acha editor e fica mandando os artistas modificarem suas histórias, eu sempre dei total liberdade pro trabalho autoral e normalmente só sou chato com a capa mas nada sai pela Escória sem a aprovação do artista.
A maioria são amigos que fui conhecendo nos rolês de quadrinhos outros eu acabo encontrando pelo Instagram mesmo e quando gosto do trabalho entro em contato e pergunto se teria algum interesse em lançar pela Escória.

O processo de uma editora independente se parece um pouco com o dos selos musicais. Você considera que o “underground” da HQ é similar ao do cenário musical?

Totalmente, pelo menos do jeito que eu trabalho eu acho idêntico a de um selo de música underground. Vai ver  que por ter vindo desse meio eu enxergo as coisas desse jeito , mas sei que editoras de quadrinhos não independentes são bem diferentes disso. 

Você também é baterista da banda de crossover Orgasmo de Porco. As inspirações para som e HQ são parecidas?

São exatamente as mesmas, não consigo desassociar uma coisa da outra. Os mesmos filmes trash , desenhos animados, livros, rolês , bandas de hardcore e metal e os rolês que a gente da pela vida . Uma coisa alimenta a outra sabe? Tu lê um gibi faz uma música inspirado as vezes ouve um som e tem ideia prum gibi.

A grande mídia tem destacado o crescimento dos HQ´s de direita. Você acredita que isso é uma realidade ou é uma tentativa de empurrar a ideologia neoliberal ou até mesmo proto fascista para a cultura pop? 

Eu acho que a grande mídia que é neoliberal e por si só sempre apoia esses projetos proto fascistas tem colocado essas aberrações que aparecem por ai numa falsa igualdade de pesos saca? Não é nem de longe a maioria nem existe um crescimento de HQs de direita relevante porém quando eles publicam isso estão colocando essas exceções como iguais no meio de um monte de quadrinhos que não tem nada haver com isso.Também tem o lance de que a maioria desses hqs de super heróis estadunidenses já serem proto fascista  a muito tempo mas “ninguém” percebia isso.

Esgoto Carcerário – Loja Monstra

Cite três HQ´s brasileiras que você recomenda.

Recomendo a coletânea “Pé de Cabra 3 ” da editora Pé de cabra que tem uma porrada de artista independente brasileiro e pra quem não conhece muito funciona como um ótimo catálogo do que está sendo produzido atualmente.O zine “Know Haole #4” do autor Diego Gerlach lançado pela sua própria editora Vibe Tronxa comix.  Esse Zine foi a primeira coisa que eu li do gerlach que tive vontade de usar drogas pesadas, muito bom.
E também recomendo o quadrinho “Esgoto Carcerário” lançado pela Escória Comix  da autora Emilly Bonna .

Eu adquiri um dos seus trabalhos em Caruaru em uma mesa de CDs, patchs… e fiquei positivamente surpreso. Qual é a importância das parcerias para disseminar a cultura independente?

Rapaiz, foi no patch customs ne? Que massa. Total importância , a gente tá tudo no mesmo rolê e o pouquinho que um monte de gente se ajuda já é grande coisa sabe? Cada parceria ali e aqui  vai ajudando a espalhar essa cultura doida que a gente tanto curte.

A editora completou quatro anos de existência. Como é para você insistir em impressos, na era digital? Muita gente te desestimulou nessa empreitada?

Cara , muita gente me desestimulou em tudo porém muito mais gente me apoiou e principalmente eu tinha convicção que era possível fazer  a Escória Comix e lançar material impresso. Se fosse dar errado tudo bem mas eu queria apostar pra ver  e a questão é que eu uso muito todas as midias digitais ao meu favor divulgando os quadrinhos e pra vender já que a loja é um site né.  Eu acho que apostar 100% em coisas digitais pode dar certo mas eu prefiro ter sucesso com o fracasso do impresso, pelo menos por enquanto tá dando certo veremos se a editora resiste mais 4 anos .

Parabéns pelo trabalho e obrigado pela atenção. Esse espaço é seu, use como quiser.  

Muito obrigado pelo espaço e por essa entrevista, valeu de verdade. 
Queria agradecer todo mundo que sempre acompanha a Escória Comix e compra os quadrinhos e também convidar quem nunca ouviu falar a dar uma chance, conheça. Compre algum gibi e leia vai que tu gosta. É isso ai, continuem reais e pau no cu de deus. 

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Loja virtual: https://www.escoriacomix.com.br/

Ateie Fogo! Entrevista com a banda de Thrash/Death Setfire

A banda paulista Setfire, original de Mauá, tem sido muito assídua nessa quarentena. Eles lançaram um full album, dois clipes, playthrough de guitarra e agora sessões de quarentena. E eles querem que a chama se espalhe ainda mais. Confira a entrevista que fizemos com eles.


Conte um pouco sobre o início da banda e a trajetória para chegar até aqui.

Antes do Setfire, tínhamos uma banda Cover de Sepultura+Pantera, chamada Territory Hostile. O Setfire é um banda de Thrash Metal paulista, oriunda da cidade de Mauá/SP, formada em Junho de 2009 com foco em composições próprias e com fortes influências de bandas como Pantera, Sepultura, Torture Squad, Death, Slayer, Lamb of God entre outras. Em 2010 lançamos o EP Deserted Land com 5 faixas, o qual rendeu muitas críticas positivas em sites, revistas, rádios, tanto no âmbito nacional quanto internacional, desse EP lançamos dois videoclipes das músicas Envy Shit e Revolution of Machines. Em 2015 o “Deserted Land” foi relançado na versão de fita cassete pela gravadora Norte americana Hotarex, remasterizado e com a capa redesenhada. A banda promove um Festival titulado “Setfire Fest” desde 2014 na cidade de Mauá-Sp, com a intenção de abrir espaço para as bandas do cenário independente apresentarem seus trabalhos, reunir o público para prestigiar o evento e fortalecer a Cena Rock/Metal na região Abc Paulista. Já foram realizadas 5 edições do Setfire Fest, com participações de bandas como: Vooodoopriest, Attomica, Vírus, Distraught entre outras. A formação atual da banda conta com Artur Morais nos vocais, Michael Douglas e Fernando Ferre nas guitarras, Felipe Jeronymo no contrabaixo e Nikolas Marcantonatos na bateria. Lançamos recentemente o nosso mais novo álbum Spots of Blood nas plataformas de Streaming e em mídia física. Desse CD, lançamos dois clipes das músicas Paralyzed e Paranoia, e um Lyric Video para a música Careless.

Em meio a pandemia e a impossibilidade da realização de tours, muitas bandas tem adiado os lançamentos, no entanto vocês optaram por lançar o excelente álbum Spots of Blood e dois clipes, que tem sido muito elogiados. Por que escolheram manter o lançamento? Isso impactou a resposta do público?

Nesse período de Pandemia a grande maioria das pessoas estão mais conectadas a internet, aproveitamos essa oportunidade para lançar o Spots of Blood em todas plataformas de Streaming juntamente com os clipes e estamos trabalhando fortemente nas Quarentine Sessions, que inclusive já foram lançados dois vídeos das músicas Nordeste e Revolution of Machines no nosso Canal do YouTube. A resposta do público vem sendo muito satisfatória, tanto relacionado ao Spots of Blood, quanto aos clipes lançados, estamos recebendo muitos elogios e um enorme reconhecimento da galera.

Vemos um Setfire mais maduro nesse trabalho. Como foi o processo de gravação do Spots of Blood?

Na época que lançamos o EP Deserted Land, logo após começamos a trabalhar nas composições do Spots of Blood, porém quando estávamos compondo a sexta música, conhecida hoje como Paralyzed, teve a saída do baterista Alex Momi da banda. Em 2013 o baterista Alex Kruppa assumiu o posto e reiniciamos o processo de composição das músicas, mas ele também deixou a banda após um período de 1 ano e meio. Em 2014 o baterista Daniel Balbinot entrou na banda, compôs a batera de todas as músicas e gravou o Spots of Blood na íntegra. Por esses motivos tivemos um bom tempo para amadurecer as composições e deixá-las cada vez mais próximas do que tínhamos como objetivo. O processo de composição da banda sempre foi bem democrático, todos integrantes davam suas opiniões em toda a estrutura da música, desde as linhas vocais até a batera, tudo de uma forma bem organizada e numa boa parceira. O interessante nisso tudo é que cada um conseguiu colocar um pouco de sua influência nas músicas e ficamos muito satisfeitos com o resultado. Com as músicas prontas fomos ao mesmo estúdio que gravamos o EP Deserted Land, chamado Acústica, localizado na cidade de São Caetano do Sul-Sp. O Danilo Pozzani foi responsável pela produção, mixagem e masterização do Disco e fez um trabalho extraordinário, os toques dele na produção das músicas foram essenciais para fazermos os últimos ajustes que precisava antes de iniciarmos as gravações.

Vocês divulgaram um vídeo muito bacana da participação do Vitor Rodrigues (ex Torture Squad e ex Voodoopriest) na música “The Thin Line”. Contem um pouco sobre essa parceria.

A amizade com o Vitor Rodrigues existe desde o lançamento do nosso EP Deserted Land em 2010, numa apresentação do Torture Squad entregamos o material pra ele na época e pouco tempo depois, ele enviou um e-mail pra banda com uma resenha extremamente detalhada de cada faixa do disco, ficamos muito felizes e impressionados com a atitude dele, daí em diante continuamos mantendo contato e essa amizade só se fortaleceu com o tempo. Convidamos ele para dividir os vocais com o Artur Morais na música The Thin Line e ele aceitou numa boa participar, tudo aconteceu de forma bem natural, o Artur entrou em contato com ele e o deixou a vontade para cantar nas partes que ele achasse melhor e se sentisse mais a vontade, não teve nenhuma regra. Ele curtiu demais a música e no estúdio arregaçou nos vocais (risos), cantou literalmente com a alma e se sentiu muito bem, dizendo pra gente que havia sido uma das melhores participações que ele havia feito, pela forma natural que aconteceu.

Por que vocês optaram por letras em inglês? Qual é a temática das letras que compõe o álbum?

A escolha do idioma foi para atingir de forma universal todos os públicos e facilitar as aberturas de portas pra banda com o resto do mundo. A parte literária da banda sempre foi pautada ao protesto à pobreza, o alerta ao crescimento tecnológico e seu impacto na história, as atitudes de violência e revolta geradas pelo estilo de vida que a sociedade impõe e o cotidiano das interações humanas. E nesse CD não foi diferente, o álbum Spots of Blood retrata em cada letra, as “manchas de sangue” deixadas pelo homem por suas atitudes erradas e decadentes ao longo da história, vale a pena ler com calma e refletir sobre o tema de cada letra. Temos uma música com a letra em português no álbum, chamada Macaco ou o Rato, que retrata a alienação da mídia sobre a sociedade.

Indiquem 3 bandas nacionais independentes que vocês gostam e ouvem o som.

Krisiun, Claustrofobia e Korzus.

Após a pandemia, podemos esperar uma tour aqui no nordeste?

Temos a pretensão de fazermos uma turnê “pós-pandemia” para divulgação do Álbum em âmbito nacional e dando tudo certo, com certeza na nossa rota o Nordeste estará incluso.

Obrigado pela atenção. Deixem uma mensagem para o público.

Primeiramente gostaríamos de agradecer ao Moisés Duarte do blog “O Colecionador – Música independente” pela abertura do espaço para falarmos um pouco sobre o trabalho e história do Setfire.

E mandar um abraço e agradecimento a todos os nossos fans(Firebangers), que acompanham nosso trabalho e são o combustível para as chamas do Setfire, sem vocês nada disso faria sentido!!!

Quem não conhece ainda o nosso trabalho, acesse os links abaixo para conferir:

www.youtube.com/setfiretv
www.facebook.com/setfireofficial
www.instagram.com/setfire_official
www.twitter.com/setfireofficial

Junte-se ao fogo e vamos incendiar!

#jointhefire

RESISTÊNCIA! Conheça um pouco da história do selo de Fortaleza Vertigem Discos

Um dos braços fortes no apoio da cena, principalmente para as bandas, são os selos. Eles é que distribuem a música em formato físico, indicam, ajudam a fomentar a cena local e nacional. Um dos grandes trabalhos que temos aqui no Nordeste, é da Vertigem Discos, que é uma iniciativa de apenas três anos, mas muito importante do professor de história Vinicius. Conversamos um pouco com ele sobre o selo, cena e muito mais.

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A Vertigem Discos foi um dos pequenos selos mais ativos no ano de 2019. Para você, o que representa ter um selo? Qual é o sentido que ele possui na sua vida?

Mesmo sendo Professor de História em tempo integral. A música sempre fez parte da minha vida. E a 3 anos resolvi me envolver mais sendo que de outra forma. Ter um selo underground representa fazer parte de algo mais humano, ou seja, não há interesses mercadológicos mirabolantes ao ponto de enxergar uma banda, seus componentes e seu trabalho como cifras. E sim a oportunidade de conhecer pessoas que se esforçam, que lutam, suas histórias de vida, posturas e por aí vai. Hoje a Vertigem Discos é totalmente inserida no meu ritmo frenético e na minha formação enquanto ser humano. Está sendo um caminho muito especial.

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Como surgiu a ideia de ter um selo?

Bom. A Vertigem tem 3 anos e de selo apenas dois. Ela seria uma loja de discos pequena dentro de uma cafeteria idealizada pela minha ex esposa. Como o projeto não deu certo acabei ficando com um acervo básico de Lp’s variados, além dos meus que entraram na roda também. Com isso, parti para as feiras de vinil que existem na cidade de Fortaleza. Depois de um ano comecei a me incomodar porque estava apenas com materiais importados, caros ou de bandas que eu mesmo não curtia, ou seja, tava virando um lance mercadológico demais. Foi aí que comecei a dar sentido as coisas quando passei a pegar apenas materiais independentes tanto em vinil como em CD virando um caçador de selos independentes e de bandas. Descobrir que o Brasil produz coisas incríveis no Underground foi incrível. Em seguida, em um dos eventos que eu levava meus caixotes conheci a Anuska que tem uma loja virtual que hoje é Colab com a Vertigem, a Medusa Store e também é parte integrante do coletivo de mulheres feministas do underground o Girls to The Front. No dia ela amou ter visto o CD da banda Bulimia no caixote e me falou do Coletivo e dos projetos. E foram com esses contatos que descobri toda uma proposta agregadora de selos e bandas no Brasil todo que se juntavam para lançar materiais rateando os custos e se ajudando. O primeiro foi o EP da banda Eskröta “Eticamente Questionável” e hoje são 10 bandas e seus incríveis materiais.

Ter um selo é viável financeiramente falando? As pessoas ainda compram material físico? O investimento que você faz nas bandas retorna?

Não no sentido de lucrar. As vezes (o que é raro) eu reponho o gasto a longo prazo. Compram. O legal de ser um selo underground é que você trabalha na base da insistência, da resistência e indo até as pessoas ou fisicamente ou pela internet. E também o contrário. As pessoas me acham! Até de lugares do Brasil que eu nunca ouvi falar. Tem vezes que em um rolê se vende bem, outros nada. Tem gente que pega meu contato. Tiram fotos de um material que interessou para escutar em casa. Sugerem bandas para eu procurar e viram grandes amigos e apoiadores da Vertigem Discos. O retorno financeiro muito raro. Pego parte da grana do meu trampo de professor e arrisco. O retorno maior são as amizades, parcerias e a ampliação da divulgação.

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Qual é o perfil das pessoas que consomem material físico hoje em dia.

É variado. Geralmente são pessoas próximas ou a cima dos 30 anos. Algumas vezes adolescentes que se aventuram em conhecer as bandas nacionais por causa das postagens.

Entendemos que há um carinho em todos os lançamentos, mas destaque aquele que foi mais importante para você enquanto indivíduo. Fale um pouco sobre ele, qual foi o seu envolvimento, como chegou até a banda, letras, entre outros aspectos que você julga especial.

Nossa difícil. Eu acrescentaria dois. Quebrando as regras kkkkkkkkkkk O Primeiro da banda “O Preço” porque foi um lançamento sozinho de 500 cópias (Uma loucura) mas que me fez transpor uma barreira daquilo que entendo por arriscar. O Christian Targa (Vocal e Guitarra) que foi do Blind Pigs me procurou propondo isso. Achei insanidade, mas quando escutei as músicas que falam de revolta, mensagens positivas em um contexto crítico e não ilusório eu aceitei. Vai demorar um bom tempo pra pagar (rindo de nervoso). Mas não me arrependo. Principalmente porque a banda me dá um apoio e uma moral incrível. Não são aqueles que pedem o suporte e desaparecem. Tornou-se uma parceria mesmo. O segundo que está a caminho de Fortaleza, é o Split Inflamar com quatro bandas de crust com vocal feminino. Manger Cadavre?, No Rest, WarKrust e Vasen Käsi. Escutei no Deezer logo que saiu e foi um impacto porque são gritos de alerta para nossa situação política e são gritos de representatividade e luta feminina. São elas que hoje formam a postura no underground. Fato. Assumem posicionamento abertamente, organizam festivais, denunciam e combatem de frente. Tem que ser respeitado e apoiado sempre. Além de ter feito parte desse projeto graças ao contato com a Nata vocalista da Manger Cadavre? Que desde o lançamento do Anti Auto Ajuda também pelo selo eu considero uma das bandas mais importantes o cenário nacional.

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Quais são os planos para 2020? Já existem lançamentos fechados?

Plano principal é sobreviver mais um ano como tenho feito sempre. Mas dessa vez tentando ir para lugares fora de Fortaleza. Estarei no grande Abril Pro Rock com a Vertigem Discos e pretendo, na medida do possível, atingir outros festivais. Pelo menos na Região Nordeste. Tem a parceria com a Medusa Store e vai rolar camisetas e bonés em breve. Lançamento tem a banda de Thrash daqui a Dead Enemy (ESCUTEM!) que estou ajudando a juntar selos para o lançamento em CD falta apenas um por sinal. E é isso.

Eu já estive no festival ForCaos e pude notar que a cena por aí é bem forte e unida. Conte um pouco sobre o underground daí.

Não só no Ceará mas o Nordeste como um todo tem emergido uma gama de bandas incríveis e em diferentes segmentos musicais. Isso relevando qualidade sonora, material e criatividade. Aqui em Fortaleza existem pessoas que lutam o ano inteiro para movimentar a cidade com festivais e bandas que se esforçam ao máximo para conseguir gravar. Esses espíritos combativos acabam se juntando e fazendo acontecer. Ressalto o papel histórico da ACR (Associação Cearense de Rock) e o incrível trabalho do Coletivo Girls To The Front. E não são os únicos diga-se de passagem. Esses grupos mesmo com os ataques que sofrem pelos cortes e ameaças de fechamento de casas culturais resistem bravamente.

Um selo não é apenas um canal que lança bandas. Os valores são demonstrados desde a curadoria dos lançamentos. Quais são os valores mais importantes da Vertigem Discos?

Ser um selo/distro que apoia e divulga bandas antifascistas, combativas, que se esforçam para que o seu trabalho seja reconhecido não como um produto do mercado mas como uma voz que enfrenta. E claro. Ter significado na vida das pessoas.

Obrigado pelos grandes lançamentos que você ajudou a proporcionar esse ano. Deixe um recado para a galera!

Eu agradeço imensamente ao Colecionador porque nunca imaginaria que responderia uma entrevista. Isso é um marco. Agradeço a todos que cruzam os caminhos da Vertigem Discos desde o começo e apoiam na base da amizade, comprando os materiais, divulgando, sugerindo, conversando e dando aquele combustível para continuar. Sou muito honrado. Grato pelas bandas por termos uma relação muito justa e algumas até de amizade incrível. E a você que leu até aqui. Como faço nas minhas postagens: APOIE AS BANDAS UNDERGROUND E A DISTRO/SELO LOCAL.

Hardcore Crust da Amazônia: conheça um pouco mais sobre a Klitores Kaos de Belém/PA

Klitores Kaos é uma banda de crust feminista, de esquerda, antifascista. Formada em fevereiro de 2015, pelas vocalista Grace Dias e baterista Débora Mota, a partir de uma vontade e necessidade de bandas formadas só por mulheres no cenário hardcore punk da cidade, com uma ideologia de fato feminista, como uma forma de expressar nossas ideias, criticar o sistema opressor que serve aos interesses da elite burguesa do país, a desigualdade e caos social de nossa cidade, e enfatizando a questão de gênero também. Fazem um som politizado, pesado e cru! Conversamos um pouco com elas e com a ex-vocalista Grace que continua ativa na banda, apesar da distância.

A banda passou recentemente por uma mudança de formação, devido a viagem da vocalista Luma para Portugal. Falem um pouco sobre essa transição.

Acho que uma das principais dificuldades foi a mudança de formação, quem ficaria no vocal, passaram a Thyrza que segurou as pontas em alguns shows importantes que ja estavam marcados. Depois encontrar uma vocal q ficasse permanente era o desafio. Agora já estão mais orientadas as coisas e a batera assumiu o vocal e ta se saindo muito bem, apenas tendo que se ajustar algumas coisas nas músicas.

A imagem pode conter: 4 pessoas, pessoas em pé, sapatos e óculos de sol

A Klitores Kaos é uma banda com postura e letras antifascistas. Como é o cenário independente em Belém? Há apoio ou repúdio à postura da banda?
A gente recebe muita manifestações de apoio na cena de Belém, muitas minas passaram a ir nos shows depois de um tempo afastadas do cenário, pois se sentiram acolhida com nosso som e letras. Mas claro que há ainda muito machismo, que são expressos através de xingamentos bem baixos na página da banda e até mesmo com assédio de homens em alguns shows. Caras que dizem apoiar a banda, mas tem atitudes super machistas e misóginas, parece que não lêem as nossas letras e nem sacam a ideologia da banda. Apoio que é pura falácia no fim das contas. Somos uma banda de composta por mulheres, feminista e antifascista!

Vocês fizeram um financiamento coletivo para ajudar na gravação do próximo trabalho de vocês e conseguiram angariar os fundos. Como foi esse processo? A galera ajudou na divulgação?

Fizemos no site do vakinha e no começa não tínhamos muita confiança que conseguiríamos arrecadar a grana, mas felizmente valeu a pena a iniciativa pois teve muita divulgação da galera de Belém e de outros Estados, doações da nossa cidade e de fora também, e conseguimos bater a meta que propomos! Aproveitamos pra agradecer novamente todos que ajudaram e divulgaram! Já finalizamos a gravação do EP e esperamos que em breve fique pronto!

Como foi o processo de gravação? Quando o material estará disponível?

O processo de gravação foi algo bem novo pra todas nós, apesar de que já tínhamos passado pela experiência de gravar um tributo a banda Bulimia, tocando uma versão de uma das músicas, gravar nosso próprio som foi diferente, tivemos que ajustar algumas coisas, mas tivemos muito apoio e orientação do Zé Lucas, da banda Sokera, que ta produzindo a gravação do EP, enfim, foi bem emocionante particularmente pra mim registrar nossas músicas próprias, um sonho realizado! O EP ta em processo de finalização da mixagem/produção das músicas, esperamos que em breve fique tudo pronto,pois queremos lançar não apenas em formato digital, mas também físico(inclusive os selos e distros que tiverem interesse em lançar nosso material, só entrar em contato, estamos disponíveis para.conversar, como eu disse,é um procedso novo pra todas nós, de gravação, produção, lançamento, e quem tiver dicas etc para nos passar, agradecemos muito.

A imagem pode conter: 3 pessoas, pessoas no palco
Formação anterior da KK

Indiquem 5 bandas do Pará que vocês curtem e que tem o posicionamento ideológico próximo ao de vocês.

Bad Trip, Alcoólicos Anônimos, Setembro Negro, Aurora Punk e Contraponto Crust.

Quais são os planos futuros da banda?

Em relação a planos futuros, agora que eu e Camila estamos morando bem longe de Belém, acho que principalmente manter s banda na ativa, continuar passando nossa mensagem, mediante as várias dificuldades de cada uma das integrantes (manter uma banda no undeground não é fácil, ainda mais sendo só de.mulheres, com ideologia de esquerda/combativa) escrever e compor mais músicas, para podermos gravar um CD completo um dia, tocar em outros Estados onde ainda não fomos e quem sabe um dia fora do país.

Considerações finais.

Agradecemos a oportunidade em poder falar um pouco sobre a esse processo de resistência que é formar e manter uma banda de mulheres, feminista, formada por proletárias/mãe solo/moradoras de periferia/ estudantes/ lgbt, nesses 4 anos de existência da Klitores Kaos. Esperamos ver cada vez mais minas pirando nos nossos shows, se sentindo mais seguras nesses espaços e incentivar a criação de mais e mais bandas de minas!!! Só a Luta muda a vida!!!!

O Blackned Crust do Mácula Como Resistência na Bahia

A Bahia nos presenteia com bandas de muita qualidade e uma delas nos inspira na resistência por uma postura concreta e repleta de atitudes do “Faça Você Mesmo” na prática: conheça o blackned crust do Mácula.

A banda se formou em 2010 em Simões Filho/BA. Fale um pouco sobre o começo da Mácula e a cena baiana.

Na verdade, a Mácula é uma banda que surgiu de um outro projeto chamado “Nuvens negras”, idealizado a partir das conversas entre Caleb e Italo, após o término de seus respectivos grupos (Lágrimas de Ódio e Choque Frontal). Ao vir morar na Bahia, a Debie assumiu o baixo e, assim, ao lado dos supracitados e do Bal, nosso batera, formamos a Mácula. Iniciamos as atividades tocando músicas já construídas anteriormente, algumas delas – como Ideias Incendiárias – fazem parte do nosso repertório até hoje e sintetizam um tanto dos nossos pensamentos e expectativas.

Embora a Mácula tenha dado seus primeiros passos em Simões Filho (ensaios, encontros e tudo mais), Italo, na época, morava em Camaçari – e hoje, em Salvador, ou seja, dizer que somos um grupo simõesfilhense seria algo um tanto equivocado, rs. Sobre a cena, boa parte das bandas daquele período já não está mais em atividade, outras seguem firmes, como a Orelha Seca e a Asco, a Rancor e a Agnósia (projetos nos quais membros da Mácula também estão envolvidxs), entre outras.

No último ano o selo Crust or Die, o qual vocês são envolvidos fez uma rifa para angariar dinheiro para comprar uma nova guitarra para o Itálo. Vocês conseguiram? Podemos esperar a volta da banda às atividades?

Como você tocou no assunto, queremos aproveitar o espaço para agradecer a todxs aqueles que nos ajudaram de alguma forma, comprando a rifa, compartilhando a ideia, comentando, etc agradecemos demais, pessoal! No entanto, cabe ressaltar que, na realidade, a rifa foi para conseguirmos recursos para a compra de captadores semelhantes aqueles que estavam na guitarra do Italo quando ele a perdeu. Sim, embora não tenhamos conseguido passar adiante todos os números da rifa, ela deu certo. Agora estamos nos reorganizando para a retomarmos os ensaios e continuarmos nossas atividades, ainda mais com dois lançamentos – os splits com a Reiketsu e Extinction Remains – batendo à porta.

Fale um pouco sobre o processo de composição dos sons e sobre os lançamentos dos splits com o Reiketsu e com a Extincion Remains.

Nenhuma descrição de foto disponível.

Podemos dizer que a Mácula compõem suas músicas em conjunto: um chega com uma base, geralmente Italo e/ou Caleb, passamos as cordas, Bal vai pensando e desenvolvendo a bateria, o instrumental vai sendo passado e todxs, na medida do possível, vão opinando, após essa etapa, Caleb vai encaixando as letras (ele tem um caderninho cheio delas, rs); às vezes acontece de Caleb enviar algum esboço de letra para Italo pensar nas melodias e talz. Como você bem colocou, nesse ano está previsto o lançamento desses dois splits: Mácula e Reiketsu é um projeto de longa data que finalmente se concretizará nesse ano, será nosso primeiro lançamento em vinil, e estamos extremamente empolgados com esse lançamento, pois a Reiketsu é nossa banda irmã, tocamos juntos algumas vezes e a parceria é grande (<3); já o split com a Extinction Remains é algo, de fato, novo: ainda não tocamos nenhuma das faixas, e todas elas foram criadas já para compor um material compartido. Ambos os materiais mostrarão uma nova Mácula, uma Mácula diferente: algumas dessas mudanças, tanto na parte instrumental como na lírica, poderão já ser observadas nas composições que farão parte do split com a Reiketsu (apesar das letras claramente politizadas, um lado mais introspectivo, existencialista – para alguns, diríamos, pessimista toma formas) e se tornarão mais nítidas no material a ser lançado com a E.R. (onde, inclusive, o hardcore crust que caracterizou nossos primeiros trabalhos pouco aparecerá).

Nazifascimo Tropical é um som extremamente atual que foi composto em 2015. Como vocês avaliam o cenário político atual e como ele está influenciando na cena?

O mundo todo parece estar seguindo uma nova onda política que que não nos cheira nada bem, o Brasil apenas confirmou que ele, infelizmente, não é exceção. Começamos a reparar esse declínio, por assim dizer, há algum tempo, em 2015 (ano da composição) isso já se mostrava de forma muito temerária, já era previsto, sabe? Depois de tanto pensar e pesar, tanto refletir sobre, hoje podemos dizer que o momento político do qual compartilhamos e no qual vivemos é, primeiro, uma excelente peneira, pois permite, de certa forma, perceber quem é quem na dita “cena”, através dos posicionamentos que bandas, coletivos e indivíduos assumem; segundo, dizem que não há movimentação quando o período é de acomodação, ou seja, em um momento como este, somos impelidos a agir, a nos mexer e arcar com nossos posicionamentos – não é um bom momento para medrosos. Esse triste cenário que assola todo o mundo tem derrubado máscaras e dividido “cenas”: proporcionando que diversos ratos saíssem do esgoto e dessem as suas caras. As pessoas, aparentemente, têm se tornado menos “apolíticas”; acreditamos que isso possa contribuir para uma movida mais madura e consciente e que, no final, possamos nos mostrar mais fortes.

Indiquem três bandas nacionais que vocês ouvem e curtam o som e posicionamento. Fale um pouco sobre elas.


Só três? Putz!
Pode parecer clichê, mas aí vão 3 bandas que estão diretamente ligadas ao Crust Or Die (até pq, caso não acreditássemos nelas, não abraçaríamos seus respectivos lançamentos):
1.  Manger Cadavre? – A Manger virou uma banda parceira desde o ano passado, quando fizemos um re-lançamento do “Origem da Queda”. Já gostávamos bastante do trabalho da banda, não só pelo som, mas principalmente pelo posicionamento político da banda, principalmente da Nata, vocalista, sempre muito ativa tanto no underground quanto fora dele. Nesse ano tivemos o prazer de editar o primeiro Full deles, chamado “AntiAutoAjuda”, que trouxe uma temática importante e atual: a questão de como o capitalismo contribui para o surgimento de doenças como a depressão e a ansiedade.

2. Reiketsu – Como falamos anteriormente, são como irmãos para nós, temos compartilhado boas histórias e experiências há algum tempo, sabemos dos corres dos meninos (nem tão meninos, kkkk) e, além de tudo, há uma grande identificação com os sons (letras e músicas).

3. Malespero – Temos enorme apreço por esses mineiros, já compartilhamos espaço e fomos muito bem acolhidos por eles, temos consciência dos corres de alguns integrantes do grupo e do posicionamento do grupo como um todo mesmo, contrário a esse projeto fascista que paulatinamente veio se desenvolvendo no Brasil.

Sabemos que você pediu apenas 3 nomes, mas, embora tenhamos citado 3 bandas do eixo sudeste, seria injusto não aproveitar o espaço para pedir aos leitores que abram seus ouvidos e mentes para as tantas bandas fodas da Bahia e do restante do NE, que há muito vêm trampando e se posicionando e, muitas vezes, por falta de espaço, por situação geográfica e outros tantos fatores continuam esquecidas ou simplesmente encerram suas atividades sem as oportunidades e o espaço dos quais poderiam usufruir.

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Quais são os projetos futuros da Mácula?

Bom, estamos à espera desses dois novos álbuns (splits), uma das coisas a fazer é conseguirmos manter uma boa sequência de ensaios e, futuramente, apresentações para espalhá-los como praga pelo mundo afora – ou seja, pronto esperamos convites para infernizá-los em todo e qualquer lugar. Depois, queremos sentar com calma, pensar e desenvolver a ideia de um full-length, projeto que nos persegue há algum tempo.

Considerações finais.

Queremos agradecê-lo pelo espaço aberto, pelo convite que você e tantos outros nos fazem, mesmo estando paradxs há algum tempo, para falarmos de nós, de nossos projetos, de nossas ideias e para enchermos o saco, como bem sabemos, de todxs. Isso é muito gratificante e nos estimula a não ceder e não parar, mas a seguir em frente.
Àquelxs que não nos conhecem, abaixo estão alguns endereços virtuais, bem como nossa caixa postal, para que conheçam um pouco mais, troquem ideias, interajam conosco:

– Caixa postal 113 – CEP 43700-000 – Simões Filho/BA          

https://macula.bandcamp.com/

– Spotify: https://open.spotify.com/artist/0DyTj2GWyxYVq4HkohWgwP

Obrigado a todxs que têm nos acompanhado e “suportado”. Abraços livres!