DIOKANE “This is Hell We Shall Believe”

Ficamos muito empolgados quando conhecemos bandas que nos surpreendem desde o primeiro EP. Esse é o caso da banda de hardcore Diokane. Natural de Porto Algre/RS desde 2016, conta com um time experiente e com todo o gás para levar o som a frente. Aqueles que curtem bandas como Cursed, devem adquirir o CD físico de “This is Hell We Shall Believe”. A formação atual é: Duduh Rutkowski (baixo), Gabriel ‘Kverna’ Mota (bateria), Homero Pivotto Jr. (voz) e Rafael Giovanoli (guitarra).

O trabalho da Deus Cão conta com cinco sons e uma intro, é um EP bem rápido, com pouco mais de 11 minutos, mas que causa impacto e faz você querer ouvir novamente. Conta com influências variadas, o que é comum a bandas de hardcore do estilo, que acabam se definindo por essa variedade que vai do metal ao punk, assim como a citada Cursed. Apesar do som enérgico, as letras possuem um niilismo. A desesperança causada pela falta de tempo, opressões no trabalho, descontentamentos sociais estão representados nas letras.

O EP começa com “Intro (EvilSounds to Make You Shake” abre os caminhos para “The Light That Makes Us Blind”, um som muito bem trabalhado, criativo, que conta com riffs que ora trazem o death metal ao hardcore, ora o inverso. Com um baixo brilhando, “Desacreditado” é o único som em português. Apesar da banda ter o inglês como base, acredito que a nossa língua natal seria a ideal para a banda passar a mensagem de forma clara. As métricas estão precisas e o vocal raivoso só ganhou com isso. “Under the influencer” é o som mais hardcore da banda, enquanto a “Born with a curse” retoma algumas palhetadas mais do metal. Por fim, temos “Days of Summer”, que a banda explicou em uma entrevista que trata-se de uma referência a quando o governo do estado do Rio Grande do Sul discutia a venda de estatais e parte da população foi às ruas protestar contra essa possibilidade. O clima pegou fogo, com a polícia reprimindo as manifestações. Aquele lance do calor da hora, que deixa o sangue fervendo e um torpor no ar.

O material saiu em CD prensado e capa de envelope pelos selos Helena Discos, Brado Discos, Two Beers or Not Two Beers e Poeira Maldita. Gravado, mixado e masterizado no (recorded, mixed and mastered at) TungStudio (Porto Alegre).  Produzido por (produced by) Stenio Zanona/Diokane. Arte da capa (artwork): Rafael Giovanoli. 

Entrevista: Manger Cadavre? fala sobre álbum AntiAutoAjuda e 8 anos de underground

Manger Cadavre? é uma banda de hardcore crust do interior de São Paulo (São José dos Campos e Pindamonhangaba), que possui oito anos de correria e amplo apoio ao underground nacional, seja produzindo eventos, lançando bandas com os selos dos integrantes e com ilustrações do guitarrista. Eles dão uma aula de “Faça Você Mesmo” e se firmam como um dos nomes mais ativos e com qualidade sonora no Brasil. Conversamos um pouco com os integrantes sobre o novo álbum AntiAutoAjuda e sobre a correria de se manter uma banda de forma totalmente independente.

Foto por Stefano Martins

Vocês lançaram um mini doc que retratou como foram os dois dias de gravação do álbum AntiAutoAjuda. Falem um pouco sobre a gravação do disco e sobre a ideia de documentar esse trabalho.

Desde o EP “Senhores da Moral” a gente adotou o Family Mob como o estúdio ideal para registrar o nosso tipo de som. Com eles, aprendemos que gravar ao vivo, com overdubs de guitarra e vocal é forma de manter o som com mais energia e otimizar o tempo de gravação. O Hugo Silva que foi o engenheiro de som responsável pelos 3 últimos trabalhos já conhece bem o nosso estilo e nos ajuda a melhorar sempre. O Otávio que nos assistiu também nos ajudou a ficarmos tranquilos. Como muita gente não entendia como esse processo se dá, nosso amigo/roadie/filmaker/editor João Lucas resolveu registrar todo o processo. Ele nos acompanha desde sempre e foi muito legal. Ele registrou os três últimos ensaios de composição e os dois dias de gravação. Como estávamos bem ensaiados, tudo aconteceu naturalmente. O Family Mob é um dos maiores estúdios de São Paulo e valeu muito a pena gravar lá. Ah, vale ressaltar que conseguimos pagar as despesas da gravação com a venda de material de merch.

Falem um pouco sobre o desenvolvimento da temática do AAA.

Nós passamos o segundo semestre de 2018 em processo de composição, paralelamente aos shows. Isso foi um pouco difícil, pois estávamos estressados com a quantidade de atividades somadas aos problemas pessoas que os quatro estavam enfrentando. Como perdemos alguns amigos e nós mesmos e muitas pessoas próximas estavam em uma situação de adoecimento/sofrimento metal, pensamos em produzir algo que não tivesse um viés niilista, como boa parte das bandas do gênero. No EP “Revide” propusemos que as pessoas se organizassem e revidassem aos avanços do conservadorismo e das práticas neoliberais impostas pelo golpista Michel Temer. No AAA, já em um cenário de sangria, a gente quis abordar as doenças psicológicas causadas pelo capitalismo e propor uma saída, a cura pela luta. Vivemos uma época extremamente individualista e mesmo parte da psicologia coloca que devemos aceitar as coisas e pessoas que não mudam e que isso é ser adulto. O sistema nos coloca em ambientes de superexploração, competitividade, extinção da solidariedade de classe e é impossível sair ileso desse cenário. A narrativa que compõe as letras contaram com apoio teório de leituras da Maria Rita Kehl, Ricardo Antunes, Freud entre outros. A revisão eembasamento foram feitos pelos psicólogos Thiago Bloss (Professor de Psicologia na Uninove) e Elis Cornejo (Prevenção e Posvenção ao Suicídio no Instituto Vita Alere). Ambos participaram do nosso Mini doc. O conceito foi: sentir-se mal é sinal de saúde mental.

Vocês financiaram a gravação com a venda de material de merchandising. Isso é algo formidável nos dias de hoje em que o apoio tem se resumido a likes e compartilhamentos. O que vocês tem a dizer sobre o período atual em que o engajamento em mídias sociais tem se mostrado mais importante que as atividades em espaços coletivos.

Sim! Nós quatro do Manger não temos uma situação financeira muito boa, os quatro trabalham informalmente e as dificuldades são muitas. Felizmente estamos tocando bastante e é nas feirinhas independentes que a venda acontece. Também fizemos uma lojinha virtual, e como por lá é possível parcelar valores no cartão de crédito, muita gente tem adquirido nossos materiais por lá.
Sobre o comportamento atual, acreditamos que é um reflexo do individualismo pregado por essa etapa do capitalismo. A exaltação excessiva de selfies, as bolhas criadas por algorítimos, as rivalidades… isso tudo é pensado. No entanto, na contramão desse comportamento, as mídias sociais (apesar de não serem democráticas, pois você tem alcance reduzido, caso não pague anúncios), ajudaram a conectar pessoas e coletivos de todos os cantos do país. Se pensarmos que o Brasil tem dimensões continentais, isso é algo formidável. Nós utilizamos as mídias como braço para a divulgação do nosso trabalho e propagação da mensagem, é um caminho meio que sem volta, mas investimos nosso tempo no offline. Debates, festivais, fanzines, rodas de conversas ainda são formas efetivas de conscientização.

Nenhuma descrição de foto disponível.

Vocês acabaram de lançar 1200 unidades do AntiAutoAjuda por um coletivo de selos e menos de um mês desse lançamento, anunciaram que mandaram prensar mais 500. Como conseguiram?

Sinceramente foi uma grata surpresa a quantidade de vendas que tivemos da nossa cota de CDS e alguns dos selos venderam um número de muito alto logo de cara e nos pediram mais CDs. Acredito que a distribuição por selos em todas as regiões do país ajudaram muito, pois as pessoas podem economizar em frete ou adquirir pessoalmente em eventos. Diferentemente do passado, em que selos e gravadoras mantinham o controle da distribuição e muitas vezes acabavam com material parado, coletivos ajudam em muito na divulgação do trabalho das bandas e na facilitação das vendas. Não temos palavras para agradecer o trabalho duro e sério dos selos Sacrilégio DistroCrust Or Die Collective, Distro & LabelXaninho DiscosElectric Funeral RecordsVertigem DiscosTerceiro Mundo Chaos Discos,Brutal Grind Recs#MetalIslandManaós distro,Helena DiscosResistência Underground Distro e Prod. e #SertaoAttackRecords.

O Marcelo (baterista) e o Jonas (baixista) possuem selos (Helena Discos e Poeira Maldita) respectivamente que colaboram muito com o underground nacional. Como é manter um selo na era do streaming? Ainda vale a pena?

Marcelo: Sim, vale muito a pena, pois mesmo com todo material disponível em streaming que existe hoje em dia (o que é muito bom para se conhecer novas bandas), tem um grande público que consome a forma física da música (CD, LP, DVD, Cassete). Dentro do rock e suas diversas vertentes sempre existiu a cultura do colecionar. Sem contar que existem inúmeras bandas no Brasil que são muito boas.

Jonas: Manter um selo é um ato de resistência, e sim vale a pena, pois quem realmente gosta de ter o material físico em mãos, nunca parou de consumir e sabe que sem o apoio dos selos dificilmente as bandas independentes conseguiram lançar seu material.
Quem contribui com os selos, contribui com as bandas e contribui diretamente para a cena sobreviver.

A imagem pode conter: 1 pessoa, no palco, tocando um instrumento musical e show
Foto por Anderson Chino

O Marcelo Augusto, guitarra da banda, está se destacando como ilustrador com um traço muito foda e desenhos questionadores e políticos para capas de cds e cartazes de shows. Fale um pouco da sua atuação do cenário underground.

Marcelo Augusto: Muito obrigado pelo elogio!
Tenho feito ilustrações para bandas do underground desde meados de 2014, e o que começou como algo despretensioso acabou virando profissão. É muito gratificante poder contribuir com o meu trabalho para a divulgação das bandas, seja com arte para flyers ou merchandising, que é algo indispensável para que as bandas mantenham-se ativas.
Também é muito legal ver que praticamente todas as bandas que me procuram para elaborar uma ilustração, sempre pedem algo contestador em relação ao atual governo golpista, mostrando que o underground está mobilizado contra a corja bolsonarista.
Em breve tem mais ilustrações provocando os conservadores.

Indiquem algumas bandas que vocês curtam e que tem o posicionamento parecido com o de vocês.
São muitas, é difícil indicar poucas, mas não podemos deixar de citar a Desalmado (deathgrind), Surra (Thrashpunk), Red Razor (Thrash Metal), Cosmogonia (punk, hardcore), Warkrust (crust), Cruento (Crust Punk), Discorde (Hardcore), Expurgo (grindcore) Mácula (Crust), Brazattack (Hardcore), Fuck Namaste (Fastcore), Klitores Kaos (hardcore), Bad Trip (Hardcore), Terror Revolucionário (Hardcore), Miasthenia (Black Metal), Rastilho (crust), Vasen Kasi (crust), Crânula (death metal), Rest in Chaos (death metal), Facada (grindcore), Re-Animation (crossover), Kultist (Thrash Metal), Eskröta (crossover)… São muitas! Vamos sempre ficar devendo pois a cena brasileira não deve em nada pra gringa.

Considerações finais:

Muito obrigado pelo espaço! Faça você mesmo, sempre.

Brazattack “Oposição Cotidiana”

O Distrito Federal Caos é o principal celeiro de ótimas bandas de hardcore. Brazlândia, que é uma das cidades satélites do DF não poderia ficar de fora. É de lá que vem a banda Brazattack, que lançou esse ano o seu primeiro trabalho, o EP “Oposição Cotidiana”.

A sensacional arte da capa foi feita pelo ilustrador Marcelo Augusto (que também é guitarrista da banda Manger Cadavre?), com uma caveira antifascita crossover com a cabeça arrancada de um empresário que tem um cifrão riscado na testa. Nada mais justo. Formada por Henrique Janssen no vocal, Márcio Medeiros na bateria, Raphael Gomes na guitarra e Rodrigo Guga no baixo, a banda entrou em estúdio, pela primeira vez, em 2017 impulsionada pela ascensão da extrema direita no Brasil.

Oposição Cotidiana é um EP extremamente politizado, que conta com seis músicas muito bem executadas e com um vocal visceral. Com o “faça você mesmo” como lema, a banda merece destaque nas produções atuais.

O trabalho se inicia com o som “Resilientes”, que conta com influências de Madball principalmente na batera, mas os riffs são do hardcore clássico do DF. “Não deixe passar” conta com uma pequena intro quebrada, que dá lugar a um hardcore veloz, daqueles que faz o mosh pegar fogo. Na sequência temos “Institucional” que se destaca pela levada das cordas, já “Supervalorização” é com certeza o som em que o vocalista Henrique coloca mais ódio. “Herança colonial” é o destaque do trabalho. Com muito peso e crítica ferrenha a perpetuação nos dias atuais da exploração dos povos originários e o sequestrado para viver como escravos no Brasil, a banda se posiciona com afinco. Fechando o EP, temos “Faça Você Mesmo”, música que foi lançada como singles em 2017 e possui um clipe muito bacana.

A gravação foi feita na 1234 Recording Studio, em Brasilia/DF. A Mix e Master foi feita pelo Pedro Tavares. O material físico saiu pelo Helena Discos, porém verificamos que já está esgotado, aguardando reposição.

Re-Animation “Exército de Fudidos”

Os saudosos da banda Cursed Sluaghter podem comemorar! O ex vocalista da finada banda montou um novo projeto com uma galera responsa do thrash crossover paulista: estamos falando do Re-Animation.


Com Daniel Pacheco no vocal, Marcelo Araújo na guitarra, Bruno Morais na bateria e Jhonata Figueredo no baixo, eles disponibilizaram o primeiro EP “Exército de Fudidos” em 2018, mas somente esse ano o material foi prensado em cd por envelope, com encarte. O lançamento saiu pelo coletivo de selos Helena Discos, HC80, Brado Discos e Poeira Maldita Records. As ilustrações do material são elementos à parte! Assinadas pelo nosso conterrâneo Wendell Narkedmi, mostra o exército da burguesia, com homens brancos engravatados ou com camisetas da CBF, fazendo a co-relação ao período do golpe contra o governo de Dilma.

“Herói do povo” abre o EP com uma introdução tensa que logo dá lugar a riffs velozes que chamam o mosh. A letra trata da classe média que ajudou a dar ao golpe ares de democracia. Elementos como armamentismo e as panelas estão presentes. Na sequência, temos “Escravo do Sistema”, por sua vez fala do trabalhador que vende sua força de trabalho, mas continua miserável frente aos donos do capital. Nesse som, mais uma vez o destaque fica para a guitarra do Marcelo, que trouxe o thrash pro crossover da banda. “Exército de fudidos” que entitula o trabalho, começa com a intro do “hino da dancinha dos patos” que marcou a época como uma das maiores vergonhas alheias. Esse é um som extremamente rápido, e que tem o destaque as batidas do Bruno. “Lixo Humano” fecha com muito peso e deboche. O som nos remete a clássicos do Ratos de Porão, e é pra nós, o melhor som.

Essa é uma das novas bandas que chegam com bagagem de sobra. Alguns detalhes de mix poderiam ter deixado as músicas ainda melhores, mas nada que tire a energia do EP. Agora é aguardar pelo próximo trabalho.

Links relacionados:

https://www.facebook.com/reanimationcrossover/
https://www.youtube.com/watch?v=3X2c1LNQ_PQ