Gui Caiaffa: Bateria e Inclusão Social, pois o amor ao instrumento é para todos

Um novo canal de YouTube tem estimulado muitas pessoas a saírem do campo das ideias e colorem em prática aquilo que desejam fazer. Gui Caiaffa, é um baterista que nasceu com a síndrome de Apert, a qual uma das características é a fusão dos dedos da mão. Mas isso não o impediu de estudar o instrumento e se profissionalizar como músico. Em seu canal, a mensagem é clara: a bateria é para todos e todos podem aprender as técnicas, rudimentos e, o essencial, tocar com muita paixão e energia. Conversamos um pouco com o Gui. Confira a entrevista!

Foto por Estevam Romera

Sabemos que o seu interesse pela bateria começou na infância. Conte um pouco sobre esse despertar.

Eu era muito pequeno quando comecei. Minha mãe conta que quando eu tinha uns 3 anos, ela ia cozinhar e me punha no chão com um monte de panelas em volta e me dava colheres de pau para ficar brincando. Sempre nesse momento tinha uma música tocando e ela percebeu que, dependendo da música, eu batia nas panelas no mesmo ritmo. Foi então que ela ligou para um amigo maestro, e ele pediu para me ouvir. Ele deu a idéia para ela de esperar até eu ter uns 5 anos e me colocar na aula de musicalização pois achava que eu ia me dar bem. Nessa mesma época das panelas, lembro que meu pai me chamava para ver bandas tocando ao vivo na tv e na primeira vez em que eu vi alguém tocando batera, me hipnotizei de tal forma que quando cheguei na minha primeira aula de música, ja sentei no banquinho da batera e de la não sai mais.

Você possui a síndrome Apert, que tem como uma das caraterísticas a fusão dos dedos das mãos. Em algum momento essa síndrome te desestimulou nos estudos da bateria. Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou?

Quando eu comecei a tocar ja tinha feito todas as cirurgias para a abertura dos dedos e foi muito natural para mim o começo do aprendizado. Usava baquetas bem leves e não tive nenhuma dificuldade para aprender as levadas básicas. A medida que fui aprimorando meus estudos e a tocar coisas mais difíceis, as dificuldades que tive foram de aprendizado de técnicas, rudimentos, articulação e frases dependendo da música que eu ia tirar. Hoje em dia toco com uma baqueta 5B e continuo exercitando meus “pontos fracos”. Com relação a desestimulação nunca tive momentos que me fizeram querer desistir de tocar. Pelo contrario. Acho que foi um instrumento que para mim, sempre me deu forças para me manter firme e seguir meu caminho.

Foto: Estevam Romera

Você começou no som pesado, heavy metal e tal. Teve uma banda de pop e a escolha do seu primeiro drumcover foi um som do Muse, que é de rock alternativo. Fale um pouco sobre as suas influências de som.

Desde pequeno sempre tive influencia do rock. Mesmo meus pais não sendo músicos, eles sempre gostaram de música e colocavam bastante coisa para eu ouvir. O primeiro CD que eu escutei foi uma coletânea de rock alternativo que tinha The Cure, Killing Joke, David Bowie e vários outros. A medida que fui crescendo, fui conhecendo outras coisas como Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, Guns N’Roses, até chegar na minha adolescência que foi quando eu descobri o som pesado mesmo. Aí escutava direto Metallica, Sepultura, Motorhead, Slipknot, Pantera e por ai vai. O Muse e outras bandas de rock menos pesadas também fizeram parte dessa época ( Dai a escolha de Hysteria). Mas paralelamente ao rock, sempre procurei ouvir outros estilos também como Pop, R&B, Funk, Soul e um pouco de jazz também. Hoje em dia o as bandas que escuto mais são Clutch, Queens Of The Stone Age, Kyuss, Nick Cave And The Bad Seeds e Mike Patton. Se fosse falar de tudo que eu curto a lista ia ser extensa, hehe.

Você está gravando no Family Mob, em São Paulo e é aluno do Jean Dolabella (ex-baterista do Sepultura atual Ego Kill Talent). Conte um pouco dessa relação na ideia de criar o canal.

Conheci o Jean quando eu tinha 18 anos. Li uma matéria sobre ele na Modern Drummer na época, e resolvi mandar um email para marcar uma aula. Na época fui na casa dele para ter aula. O Family Mob nem existia ainda. Achei que ia aprender técnicas de pedal duplo e tocar metal na primeira aula, mas foi totalmente o contrário, hehe. Quando ele colocou para tocar Cherish da Madonna para eu tocar junto estranhei um pouco no começo, mas vendo os toques que ele me passava com relação a técnicas, dinâmicas e outras maneiras de tocar, comecei a ter uma outra percepção da bateria e de outros estilos musicais . As aulas com ele foram esporádicas por uns 5 anos. Sou de SP capital, mas na época estava morando em Floripa e sempre quando vinha para cá, marcava as aulas. Faz 5 anos que voltei a morar em Sampa para me focar mais no meio musical e estudar. Nessa época o Family Mob ja existia e na primeira vez que entrei la, ja tive vontade de gravar alguma coisa la. Tendo aulas a quase 10 anos com o Jean, a gente construiu uma relação que acho que vai além de Professor/Aluno. Além de tocar, a gente conversa bastante também, e foi numa dessas conversas que a idéia do canal surgiu. Minha idéia inicial era só fazer drum covers e montar um portfólio para apresentar para amigos ou bandas que precisassem de um batera. Mas, conversando mais a respeito, fomos tendo a idéia de criar um diferencial para o canal e além dos drum covers, eu sempre iniciar os vídeos falando um pouco sobre mim, minhas próprias percepções com relação ao aprendizado e falando um pouco sobre a música do vídeo.

Foto: Estevam Romera

Ficamos muito inspirados com o seu intuito de trazer a questão da inclusão social para o canal. Além de ser um baterista excelente, sua história é fantástica. O que você pensa em trazer para o canal sobre a temática? 

Estou vendo a melhor maneira de encaixar este tema no canal. Mas principalmente quero fazer as pessoas acreditarem mais em si (Tendo elas alguma diferença ou não) e mostrar que por mais que hajam “limites”, cada um pode superar o medo e vence-los. Há cinco anos atrás conheci um projeto chamado Alma De Batera. É um projeto criado por um cara chamado Paul Lafontaine para oferecer aulas de bateria para pessoas com algum tipo de deficiência. Na primeira vez que fui assistir a uma aula, aquilo me transformou de tal maneira que me fez ter outra visão sobre essas pessoas e sobre mim mesmo. Tive a oportunidade de fazer alguns trabalhos voluntários como assistente dele e ver o quão amorosos e empáticos temos que ser não só com quem tenha alguma deficiência, mas sim com todos com quem convivemos.

Além dos drumcovers, quais serão as pautas do seu programa?

Vou falar do porque da escolha do set de batera e de pratos para cada música. Futuramente quero falar sobre inclusão no meio musical e fazer algumas entrevistas com algum outros bateras ou outros músicos até para possíveis participações nos covers. Quero ter uma interação maior com os inscritos também. A partir do segundo vídeo que vai ao ar nesse sábado (27 de Junho) eu falo para as pessoas fazerem perguntas para quem quiser saber mais sobre a síndrome e vou pedir também sugestões de músicas para futuros covers e qualquer outra pergunta que as pessoas queiram fazer relacionada a bateria. Acho assim, um jeito bem legal de construir os próximos conteúdos.

Parabéns pela iniciativa e muito obrigado pela atenção. Desejamos sucesso no canal. Espaço é seu! Deixe suas considerações finais e uma mensagem para quem quer se iniciar na música.

Eu que agradeço pelo reconhecimento do meu trabalho e pelo espaço que vocês estão me dando. Mesmo o canal tendo sido recém lançado, vocês do O Colecionador ja me apoiam e acho que podemos construir uma relação bem legal. Quero dizer para todos que queiram aprender algum instrumento, que não criem barreiras com relação a idade ou vocação para tocar. Vá atras do que acreditam e apenas façam o que gostam.

Canais de YouTube: Gui Caiaffa – Bateria e Inclusão Social

O baterista Gui Caiaffa lançou no último dia 13 de julho, dia do rock, um canal no YouTube sobre bateria. Ele, que iniciou as práticas do instrumento aos cinco anos de idade, inaugurou o canal com o drumcover da música “Hysteria” da banda de rock alternativo Muse. 

Gui é portador da síndrome Apert, a qual uma das características é a fusão dos dedos das mãos. Mas isso nunca o impediu ou limitou os estudos na bateria, pelo contrário: a identificação se tornou uma profissão. Após algumas cirurgias para separação, mesmo com os dedos menores, ele passou a ter total liberdade e independência para tocar.  

A ESTRADA

Aos dezoito anos, Gui ouvia muito som pesado e era fã de Sepultura. Por isso, ao descobrir que o ex-baterista da banda, Jean Dolabella, dava aulas, imediatamente o procurou para aprimorar os estudos.


Tendo passado por uma banda de pop que atuou em bares e pubs, Gui acumulou a experiência da dinâmica de palco e acrescentou novas formas a sua maneira de tocar. 

INCLUSÃO SOCIAL

A partir das aulas com Jean, a ideia do canal surgiu para que Gui pudesse mostrar um pouco sobre a sua profissão, como uma espécie de portifólio. Paralelamente a isso, a ideia de incorporar a inclusão social foi amadurecendo. Abordando a síndrome, adaptações e a própria evolução, Gui é um produtor de conteúdo que influencia outras pessoas (com diferenças físicas ou não) a superarem os medos e iniciarem a prática desse instrumento que é libertador e a fazer qualquer coisa que tiverem vontade. Afinal, a bateria é para todos. 

Conheça:

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