Os fãs da banda punk rock Blind Pigs, que anunciou o seu fim em 2016, não têm do que reclamar. Neste ano, os porcos cegos decidiram abastecer as prateleiras de vinil dos colecionadores que clamam pela volta da banda. Após o lançamento do inédito “Lights Out” no início do ano, e da edição comemorativa do clássico “São Paulo Chaos”, é a vez do “The Last Testament”, um EP doze polegadas com tecnologia ainda inédita no Brasil.
Com impressão UV digital, o EP parece ser um ‘picture disc’, mas o vocalista Henrike explica que, apesar da semelhança, a sonoridade é outra. “O picture disc tem as ranhuras impressas em uma película de plástico que é colada no vinil, deixando a qualidade sonora aquém de um LP comum. Já o disco com a impressão UV é um vinil transparente, com as ranhuras prensadas direto no lado A do vinil, e a impressão a laser do lado B, que não toca”, revela.
“The Last Testament”, é assinado pela gravadora americana Pirates Press Records e conta com as três faixas autoriais do álbum “Lights Out”: “Restless Resistance”, “Steel Toe Judges” e “Not Dead Yet”. Além do formato especial, as músicas do novo lançamento foram remasterizadas nos Estados Unidos por Dan Randall, deixando o som da banda ainda mais potente. “Com essa nova masterização, consegui ouvir nuances que não ouvia antes. O som agora parece um soco na cara” diz o guitarrista Gordo.
Apesar do Blind Pigs ainda não cogitar uma retomada nas atividades, a banda diz que pretende manter os lançamentos em vinil. “Ano que vem, teremos algumas surpresas inéditas em vinil para a ‘legião de inconformados’. Posso adiantar que pelo menos dois compactos serão lançados, um deles é o EP ‘Porcos Cegos’ de 2002”, conta Henrike.
“The Last Testament” já está à venda pelo site da Pirates Press Records. Garanta a sua cópia:https://cutt.ly/hRuKepW
“Humanos em Conserva” é um relato das vivências dos integrantes e suas visões políticas e sociais
Uma perspectiva de cronista sobre a realidade ao seu entorno em um retrato caótico, catártico e sem perder o sorriso surge em “Humanos em Conserva”, disco de estreia da banda potiguar Peixe Frito. Retratando a realidade do interior do Rio Grande do Norte, o grupo quer se conectar com histórias deixadas de lado pelos grandes centros em uma roda punk e no ritmo do hardcore. O álbum está disponível em todas as plataformas de música.
Formada por Nogueira (guitarra e voz), Lenin (baixo) e Piel (bateria) em 2018, a banda é nativa da cidade de Pau dos Ferros. Depois de “Cosmos Sessions”, EP ao vivo lançado em 2019, a Peixe Frito consolida uma jornada que começou despretensiosamente como um punk rock escrachado entre amigos.
Isso se reflete nas canções do álbum. Com produção musical de Paullo Medeiros (Estúdio Mente Aberta), o trabalho foi registrado em uma técnica antiga ao ser gravado ao vivo com os membros regravando seus instrumentos por cima, tentando manter a fluidez e o calor da performance do trio.
“Humanos em Conserva” contou com financiamento da Lei Emergencial de Cultura Aldir Blanc, Fundação José Augusto, Governo do Estado Rio Grande do Norte, Prefeitura de Pau dos Ferros e Governo Federal. O álbum está disponível para audição em streaming.
Compacto de estreia da Solana Star contém seis faixas lançado de maneira 100% independente
A banda de Hardcore Solana Star acabam de lançar seu primeiro EP. Intitulado ”Moral Pra Movimentar” (além para perceber) o compacto contém seis faixas lançado de maneira 100% independente, já disponível nas plataformas de streaming. O grupo Porto alegrense é formado por Northon – Vocal e Guitarra, Matheus Bastos – Guitarra, Matheus , Mineiro – Guitarra, Pedro Lara – Baixo, Coi – Bateria. Contatos:
O punk/hardcore do Cosmogonia ultrapassa gerações e traz a temática feminista para o meio. Nascida nos anos 90, a banda teve uma importância na história do movimento riot grrrl e, hoje, em uma nova formação, continua levando uma mensagem forte com um som bem definido e com qualidade, além de ocupar os espaços que são delas por direito. Conversamos um pouco sobre a trajetória e a cena com a banda. Confira!
Foto Andréia Assis
Após um hiato de 13 anos, vocês voltaram com força em uma sequência de shows muito grande. Isso ajudou no processo de composição do EP? Falem um pouco sobre o processo de gravação.
Na verdade já tinha som quase pronto quando paramos em 2007. A Teté sempre esteve
Foto por Maya Melchers
ativa de alguma forma, tocando, criando, compondo. Quando voltamos, a gente já quis trazer músicas novas. Era importante pra gente expressar os nossos sentimentos e musicalidade atual. Nossa música “Mentiras”, apesar de não termos registrado, já era um som de 2006. Fizemos alguns ajustes nela e criamos a “Abusivo” e “Sem Silêncio” logo que retornamos com a banda. A gente não imaginou que iriam rolar tantos shows, foi uma surpresa enorme receber os convites, reencontrar amigos antigos da banda dando força e somando… E aí, enquanto iam rolando os shows, surgiu a “Tempo” e gravamos o EP pelo Experência Family Mob no estúdio Family Mob em São Paulo, o qual selecionou a banda para uma diária no projeto Experiência Family Mob, teve mix e master externas, por Vinícius Buchecha no Estúdio 1100, em Diadema. Pouco depois da gravação do EP, a música “Privilégio” surgiu, que sairá no próximo trabalho nosso, ainda sem data prevista. Mas estamos sempre trabalhando continuamente em novas composições. Estar tocando ativamente, participar de festivais, ir pra estrada tocar fora são vivências que nos dão inspiração para surgirem as letras, melodias, riffs e etc.
A banda já passou por diversas formações, mas de acordo com as publicações de vocês, sempre teve a Elis (membro fundadora) por perto e vocês demonstram uma gratidão. Como é a relação com as ex-integrantes? Como está a formação atual?
Bom, a Elis é o início de tudo! Sem a Elis, Cosmogonia não existiria. Ela é a fundadora e idealizadora de tudo o que a banda é e representa. Ela sempre esteve presente nas nossas decisões, é presente até hoje nessa atual fase da banda. Ela é o nosso elo mais forte com a ideologia e essência da Cosmogonia. A Elis fez parte da nossa formação como mulheres feministas e como seres humanos que almejam uma sociedade mais justa e igualitária. E com ela, diversas mulheres passaram pela banda. Elas deixaram suas marcas, vivências e contribuições para que hoje a gente possa ainda estar aqui resistindo e insistindo em nossa luta e em transmitir nossa mensagem e som. Hoje em dia, graças as redes sociais, tivemos a possibilidade de reviver coisas maravilhosas. Quando começamos a retornar, fomos resgatando também toda a história e memória da Cosmogonia. Pedíamos nas redes para as pessoas enviarem registros nosso e fomos recebendo fotos, flyers, mp3, coletâneas, e até a nossa primeira fitinha demo K7 gravada em 1998. Tudo isso fez a gente se reencontrar com diversas pessoas que já passaram pela banda ao longo dos tempos. Tudo isso nos motivou ainda mais a reviver e também é algo que nos atenta ao fato de que não podemos mais parar, de que precisamos continuar o legado de levar nossa mensagem pra quem chega, pra quem junto luta e nos possibilita estar aqui hoje. A formação atual é a Gabi nos vocais, Teté na guitarra e backing vocal e Fernando no baixo. Com a saída recente da Dani, no momento, estamos em fases de teste, buscando uma baterista mulher, então enquanto isso, contamos com a ajuda de dois amigos que se revezam, que são o Nautilus (que também toca na banda TxP com o Fernando nosso baixista) e o Roberto (que atua nas bandas Running Like Lions e Bad Canadians). Eles estão segurando as pontas até encontrarmos nossa diva das baquetas!
Apesar de não fazer parte da banda nos anos 90, vimos em uma entrevista em que a vocalista Gabi diz que acompanhava a banda desde sempre que a Cosmogonia era sua maior inspiração. Fale um pouco sobre o cenário riot dos anos 90.
A Gabi era muito nova naquela época. Ela tinha apenas 14 anos e na medida do possível estava sempre nos rolês promovidos pela Cosmogonia, ou pelas bandas de amigos daquela época. As coisas eram bem diferentes do que era hoje em dia. Tanto os rolês como o comportamento das pessoas, o engajamento em causas, e até mesmo a convivência e comunicação com as pessoas era muito diferente do que vivemos hoje. O punk se mobilizava por diversas causas dentro do cenário underground, porém as bandas com mulheres e de mulheres sempre foram excluídas de muitas vivências (como também hoje em dia). Dependíamos muito do contato com amigos para por um festival de pé, pra trocar zines, correspondências pelos correios. A cena, naquela época, girava de uma forma em que éramos total dependente de comunicação assíncrona, então nos preocupávamos mais em termos de apoio às bandas, comprar material, colar nos rolês, e também fazer rolês para ajudar quem mais precisava era muito comum. Hoje em dia o fácil acesso ao material e aos rolês, para a maioria das pessoas que estão nos grandes centros não são tão valorizados por aqueles que consomem material. Nós vemos isso toda vez que saímos de São Paulo pra tocar. Regiões mais carentes de rolê como cidades do interior e de outros estados estão sempre com a casa cheia, pessoas na medida do possível apoiam, comparecem, compram material, e curtem o que você faz nas redes sociais das bandas. Antigamente o engajamento do público com as causas e com as bandas, era muito maior.
Apesar do movimento empoderar as mulheres no punk rock, havia muita disputa naquela época. Como você avalia as mudanças de comportamento daquela época para a atual? As mulheres estão mais unidas?
Havia (e ainda há), muita disputa entre as bandas do underground. A Teté, que é a mais antiga e entrou em 2003 teve a vivência dos shows daquela época. Ela inclusive, inicialmente, notou de imediato essa disputa que rolava bastante entre as minas e bandas das minas. Ela não sentia a mesma sororidade que vemos hoje das manas. Havia muita desunião, exclusão, inclusive de fests de mina e também da própria história do Riot no Brasil. Cosmogonia mesmo com toda sua importância e representatividade desde 1993 na cena, por conta de ser uma banda da periferia, que não tinha acesso a gravar material, a produzir vídeos (que também na época era bem mais difícil), acabou por muitas vezes quase que apagada das citações, documentários e etc sobre o movimento Riot brasileiro. Já passamos por situações onde mulheres de outras bandas colavam no rolê pra julgar nossas roupas, nossos equipamentos, rolava até questionamentos se possuíamos conhecimento teórico sobre o movimento feminista! (risos) Não que isso não aconteça hoje, pois ainda continua acontecendo, mas é de uma maneira mais isolada e até camuflada. Mas hoje em dia, quase que em 98% dos casos, as minas colam pra apoiar, curtir o som e tal. Quando retornamos, sentimentos que a conscientização e a união das próprias mulheres entre si está bem mais forte, bem mais evoluída e isso também foi e ainda é extremamente o que nos mantém ativas e com vontade de seguir e focar na banda.
Ano passado e esse ano vocês participaram de dois festivais grandes de hardcore. Como foi a experiência? Vocês acreditam que os produtores estão incluindo as bandas com mulheres por entenderem a necessidade ou ainda tratam como “cota” para calar as cobranças do público?
Sinceramente, infelizmente achamos que muito dessa nova inclusão de bandas feministas e femininas em festivais ainda são “cotas” . Devido ao fato de que o Empoderamento Feminino e o Feminismo serem temas que cada vez mais têm se inserido na grande mídia, nas redes sociais, nas empresas e em diversos espaços, consequentemente chegou também nos grandes festivais. Então, notamos que ainda, as grandes produtoras estão preocupadas com as cobranças. Apesar de termos tido super apoio nos fests, tanto da equipe de produção, técnica, quanto das outras bandas que tocamos, fica visível o quanto ainda é pouco e o quanto ainda falta lutarmos para chegarmos num equilíbrio justo e igualitário. Afinal, é um espaço que também é nosso por direito! Mas, ao mesmo tempo, os fests maiores nos dão também a maravilhosa possibilidade de mostrar para o público que comparece neles (que não são os mesmos que frequentam os rolês mais undergrounds), que existimos! E que nossa existência, nossas mensagens, nossos pontos de vista e nossa música também precisam fazer parte dos fests. Quando tocamos nesses festivais maiores, buscamos sempre focar sobre o simples fato de estarmos ali e aí vamos tentando plantar a sementinha de que a participação da mulher ainda é muito pequena. Acreditamos que fazendo isso, a conscientização de que é necessário cada vez mais aumentar as bandas como a nossa vai se difundindo e também vai aumentando as cobranças, fazendo com que cada vez mais, os produtores de festivais tenham sempre que pensar em incluir minorias nesses festivais.
Quais são os planos futuros da Cosmogonia?
Lançar um álbum full. Ainda é um sonho, mas estamos trabalhando com passinhos pequenos para alcançá-lo. E cair na estrada e fazer o máximo de shows em lugares que antes nunca estivemos é uma vontade grande. E nunca mais parar de tocar.
Indiquem 5 bandas que vocês ouvem e acham que todo mundo deveria conhecer.
Bioma, Sapataria, HAYZ, Mau Sangue e Vesta
Qual foi o principal aprendizado nesses anos todos de underground?
De que não estamos sozinhas, que sozinhas não chegamos à lugar nenhum, que não vamos nos calar, não vamos desistir de levar nossa mensagem pro máximo de pessoas possíveis. Que mesmo sendo uma banda de minorias, com mulheres, ainda somos muito privilegiadas, dar um passo atrás e trazer aquelxs que tem mais dificuldades que nós nesse mundão underground injusto e excludente.
Considerações finais.
Não estaríamos de volta à ativa, principalmente se não fosse a força de canais de comunicação faça você mesmo. Somos muito gratas por cada um que curtiu, compartilhou, consumiu qualquer tipo de material que tenhamos disponibilizado esses anos todos. Apoiem as bandas com mulheres ou de mulheres. Chamem mulheres fotógrafas, zineiras, designers, técnicas de som, que fazem comida pros seus rolês. Fortaleçam cada minoria que tenta sobreviver no underground. Juntos somos mais fortes.
Quem disse que irmãos não se dão bem trabalhando juntos? A realidade é que fazendo um som o duo Carrapato´s mostram que a irmandade vai além dos laços sanguíneos. Com letras e atitude de protesto naturais do punk, eles vem produzindo tudo ao estilo do it yourself; zines, patch, camisas feita a mão, cartazes de protesto, clipes, CD, etc.
Para comemorar os oito anos de existência, eles lançaram o EP “Chegou a Hora”. A banda de João Pessoa/PB resolveu fazer a versão física do EP ao estilo “CD Pirata Original”. Confeccionado de modo artesanal, conta com artes em formato de um setlist de show.
O trabalho se inicia com o som “Antes torto do que reto”, que traz a rebeldia sobre adequar-se aos padrões. “Do Lado de Fora, os Excluídos” é cantado pela baterista Flávia Silveira. É um som empolgante com riffs clássicos do punk. “Chegou a Hora” é o som mais enérgico do EP, em que os irmãos dividem os vocais. Na sequência temos “Bem vindo a Minha Realidade” que é mais um som sobre rebeldia. Fechando os sons, temos “Vaquejada é tortura”, que demonstra o posicionamento abolicionista da banda.
Carrapato´s vem nos lembrar que o DIY é mais que necessário e a autogestão precisa ser colocada em prática.
Xavosa é uma banda de Brasília/DF, d em atividade desde 2017. Com influências como Bikini Kill, Dominatrix e Tsunami Bomb; a banda transita entre o punk e o hardcore melódico, carregado de mensagens politizadas calcadas na militância pessoal e profissional das integrantes. Seu primeiro EP, “Luta (s.f.)”, lançado em fevereiro de 2019, foi gravado no 1234 Recording Studio por Pedro Tavares.
O trabalho se inicia com “Rivotril”, que é um som mais na pegada do hardcore melédico que lembra um pouco a extinta banda Killi. A temática é o adoecimento psicológico nos tempos atuais, em que ao mesmo tempo em que se evidencia a crise, se coloca que é necessária a luta. “Corpos” por sua vez tem uma pegada mais rock´n´roll e traz uma mensagem forte feminista. Destaque para o vocal, que mais raivoso, nos trás confiança e empolga. É, para nós o melhor som do EP. Na sequência temos “Cidade”, que é um desabafo sobre o ser mulher em uma cidade, sobre o endurecimento da mulher não como algo natural, mas imposto por uma sociedade de estruturas patriarcais. Já numa pegada mais punk rock, “Marta” é um som bem gostoso de se ouvir, apesar da temática sobre a necessidade de liberdade. Vale a pena colocar no repeat. Com mais peso nos riffs e batidas “Básica” tem o clima exato para a letra que fala da mulher explorada, agredida, que vive nas periferias, com subempregos. Há um recorte de classe muito importante nesse som. “Correnteza” é aquele som que você dança. Isso mesmo, dança. Me peguei aqui na cadeira dançando o som. “Luta s.f.” que dá nome ao EP é um punk rock/hardcore que coloca a luta como substantivo feminino. E não é?
No geral o trabalho é muito bom, criativo, com vocal muito marcante. Chamamos a atenção apenas para a pós produção do som, pois sentimos o instrumental um pouco apagado. Nada que tire o mérito das composições. Esperamos por novos trabalhos da banda que está de parabéns.
Quem viveu o final dos anos 90 vai se recordar do boom de bandas riot grrrls que aconteceu no Brasil. Dentre elas, uma das mais importantes foi a Cosmogonia. Treze anos após o último lançamento, e um hiato de shows, a banda volta com uma grande bagagem de apresentações e lança EP com três sons inéditos.
Gravado no estúdio Family Mob em São Paulo, o qual selecionou a banda para uma diária gratuita no projeto Experiência Family Mob, teve mix e master externas, por no Estúdio 1100, que fica na mesma cidade. A arte da capa ficou a encargo de Julia Rennhard.
“Abusivo” é o som mais pesado da banda, sem perder a essência do hardcore. Destaque ao vocais guturais que a vocalista Gabi Delgado ousou colocar no som. “Sem silêncio” é o som do hardcore clássico, que trata de superação dos traumas das mulheres e incentiva a denúncia. “Tempo” é o som mais empolgante da banda que conta com uma quebrada pesada, porém de base no melódico.
É notória a evolução da banda e a energia positiva que o EP possui. Parabenizamos e aguardamos um full album.