QUILOMBO: Death Metal Contra o Racismo

Para mim é motivo de muita alegria encontrar projetos e bandas dentro do metal que falem sobre a ancestralidade, denunciem a diáspora e a atual segregação do preto no Brasil e mundo. Bandas como Black Pantera, Desalmado, Crexpo, Punho de Mahim dentre outras estão em atividade e tem muita importância nesse espaço. Para somar forças a essa galera, a banda Quilombo apresenta seu primeiro trabalho, a Itankale.

Com inspiração na realidade vivida pelo povo preto desde sempre, o EP conta com seis músicas, com lançamento pela Sangue Frio Produções.

Buscando fugir da historiografia contada pelo povo opressor (que tentam justificar o injustificável), as letras contam com um estudo aprofundado, além da participação do percussionista Binho Gerônimo, que trouxe elementos originários da África no EP. Resumidamente, o lançamento fala da cultura africana e seus descendentes, com a Diáspora africana; como a cultura e costumes se espalharam pelo globo, sincretismos, intercâmbios de ambos os lados, que moldaram algumas partes do mundo, como é nosso caso aqui no Brasil.

Faixa a Faixa

“Melanina” abre o EP com um cântico africano, que dá lugar ao death metal oitentista, com vocal potente e riffs poderosos. É um som mais longo, mas nem por isso cansativo. “Ancestralidade” começa com um blues que cede o espaço a um metal um pouco mais cadenciado, com melodias tensas. “Treze Nações” começa ao som de um berimbau e palmas típicas da capoeira, seguidas da brutalidade em pedal duplo e riffs na velocidade da luz. Na sequência temos “Descendentes de Reis” que também conta com uma introdução de cânticos africanos. É um som curto e impactante, que vale a pena de ser ouvido mais uma vez para se prestar atenção aos detalhes. “Semideusas” é o som que eu mais curti, é daqueles que a gente bangueia e abre o circle pit. Tem referências de Morbid Angel e Napalm Death. Fechando o EP, temos “Diáspora” que é um murro de brutalidade na nossa cara. Destaque para o vocal raivoso.

O trabalho está muito bom, necessitando de alguns acertos de mix e master apenas, mas criativo em composições instrumentais, vocais muito bem encaixados, com potência e precisão e temática mais que necessária. Eu, como homem preto e nordestino dentro do metal, só tenho a agradecer por esse trabalho.