Raiva, Revolta e Melancolia Como Os Elementos Fundamentais Para O Som Pesado em 2021 | Melhores Lançamentos do Ano

A pandemia arrebatou a vontade de muita gente. Não é pra menos, visto que perdemos familiares, amigos queridos, pessoas que amamos ou que admiramos. Somos em essência seres sociais e, para nossa proteção, privados do coletivo, perdemos muito daquilo que somos. Aqui mesmo no O Colecionador, perdemos os braços de parte da equipe que, por sua vez, perdeu o sentido em trabalhar para a cena independente. Mas esse estado de hibernação em que fomos colocados e seus sentimentos que surgiram como consequência foi a gasolina necessária para que muitas bandas criassem (e digo com toda a certeza do mundo, visse) uma das melhores safras de álbuns e EPs dos últimos 10 anos. Dito isso, vamos aos lançamentos mais expressivos de 2021.

Recomenda-se o play nas 20 faixas que selecionamos para acompanhar a leitura.

Álbuns

Nervosa “Perpetual Chaos”

A nova formação da banda (o dream team) trilhou a sonoridade de volta para a proposta inicial naquilo que o Nervosa faz de melhor: thrash metal visceral e até uma pitada de hardcore no trabalho. Perpetual Chaos é o ponta pé inicial que virou um golaço, mas na goleada que está por vir, temos certeza que virão bicletas.

Crypta “Echos of the Soul”

A nova banda de Luana e Fernanda Lira (Ex-Nervosa) já chegou com uma formação de peso, que somou forças à Tainá e Sônia Anubis nas guitarras. Echos of The Soul é um death metal com muitas referências a Morbid Angel e riffs homéricos na melhor pegada do Black Metal.

Desalmado “Mass Mental Devolution”

Álbum que fez o Desalmado despontar pra fora do Brasil, tanto que a banda já está com shows agendados na Europa, com destaque ao Obscene Extreme e na América Latina. MMD é o abandono do grindcore e o abraço ao metal extremo, principalmente ao Death e ao Sludge, mas a porradaria continua viva nas veias da banda.

Manger Cadavre? “Decomposição”

Decomposição marca um salto gigantesco na evolução do som do Manger Cadavre?. Com o vocal mais visceral de Nata, pedais duplos na medida certa de Marcelo, riffs insanos de Paulinho, e os graves de Bruno, as composições vem numa pegada mais metal punk, lembrando muito Disfear e Wolfbrigade e com elementos do death metal, como Obituary e Gatecreeper.

Sangue de Bode “Seja Bem Vindo De Volta Pra Cruz”

Com 15 faixas, o trabalho mostra um amadurecimento dos integrantes e uma preocupação maior com a produção das músicas. “Seja Bem Vindo De Volta Pra Cruz” é um álbum extremo. Temos death, black metal, mas também temos referências ao hardcore e ao new metal nas composições.

Bode Preto “Goat Spells”

Terceiro álbum completo da banda de metal extremo que conta com membros rotativos. Com um reconhecimento maior fora do país que dentro, o Goat Spells fez o público brasileiro finalmente conhecer e agraciar o seu black metal poderoso.

Corja! “Insulto”

“Insulto” é o primeiro álbum da banda de Fortaleza Corja!. Só consegui dar a devida atenção ao trabalho, depois de ter ficado impactado com toda a potência da vocalista Haru Cage na apresentação no Canal Scena. Temos groove metal, metalcore e um pouco de new metal na sonoridade do trabalho. Acreditamos que a banda seja um dos próximos expoentes do metal nacional.

Ankerkeria “Matriarchy”

Um dos nomes que deveriam ter aparecido mais em 2021 é o do Ankerkeria, que no início de 2021 lançou o excelente “Matriarchy”. Se você é fã de death metal técnico, djent e metal progressivo, essa é uma audição obrigatória e a exaltação do talento dessa banda de Fortaleza se faz necessária.

Nervochaos “Dug Up (Diabolical Reincarnations)”

A máquina do metal morte Nervochaos não para! Essa, que é uma das bandas mais ativas no país, trouxe um álbum excelente para os apreciadores do som extremo. Ocultismo aliado ao death e ao black metal com passagens repletas de peso e técnica.

Viollen “What to Kill For”

Álbum de estreia da banda de thrash metal antifascista de Fortaleza. Com oito faixas extremamente enérgica, coloca a banda em destaque no cenário nacional.

Rot “Organic”

O álbum conta com 25 faixas repletas do ódio necessário na composição de todo clássico de grindcore. Último trabalho gravado pelo grande Alexandre Bucho, que faleceu em decorrência da Covid-19.

Cerberus Attack “Abyss Of The Lost Souls”

O Abyss of Lost Souls” colocou a banda no radar da galera do colete cheio de patchs e do tênis branco de cano alto. Enérgico do começo ao fim, e com a participação ilustre de Caio Augusttus do Desalmado na faixa que dá título ao álbum, mostra que a banda tem tudo para se tornar um dos grandes nomes do thrash nacional e quem sabe caia nas graças do mundo.

Aneurose “Made in Rage”

A banda mineira voltou a produzir com tudo! De todos os sons do brutal “Made in Rage”, três faixas ganharam clipes muito bem feitos. O álbum tem elementos muito marcantes do thrash metal e de outras vertentes de som. Se você curte as sonoridades do Pantera, essa é a banda pra você.

Mountain Chicken “You´re Going To Brazil”

A descoberta do ano foi desse álbum da banda que é natural de Brasília/DF. Apesar da pouca idade, os integrantes mostram uma técnica e criatividade ímpar. Som instrumental, prog metal com djent e qualidade nas alturas.


EPs

Heuristica “Paramont Symetry”

Excelente EP que saiu em novembro. Heuristica é um duo situado na Irlanda mas que conta com os brasileiros Igor e Maysa. O Ep conta com quatro faixas de puro death metal em sua pegada mais técnica e com elementos progressivos. É o jazz do metal!

The Mist “The Circle of the Crow”

Até o momento da publicação dessa lista, foram lançadas apenas duas das quatro músicas do novo EP, mas só pela My Inner Monster e pela Over My Dead Body, o lançamento precisava figurar entre os melhores do ano. Temos aqui o thrash metal que o brasileiro tanto ama.

Troomps of Doom “The Absense of Light”

EP temático, com músicas interligadas entre si, mostra que a banda liderada pelo grande Jairo está pronta para ganhar o mundo. Brutalidade na bateria, riffs marcantes, vocal excelente, graves preenchendo nossa alma com escuridão.

Surra “Ninho de Rato”

Com, 12 faixas em sua maioria com menos de 1 minuto, sendo dois covers, a tentativa de um EP de grindcore do Surra foi muito bem sucedida. Ódio extremo e velocidade da luz são os principais elementos do lançamento.

Singles

Forceps “Anthropoviral Amalgamation”

Após um longo período sem novos lançamentos, a banda de death metal carioca liberou o single e o clipe de  “Anthropoviral Amalgamation”, som com letra ao melhor estilo Mad Max, em um futuro distópico nem tão distante assim. Som brutal e evolução sonora marcam a música.

Invisible Control “Cold Blood”

Single de estreia da banda com integrantes de diferentes localidades do nordeste brasileiro. Death metal mesclado com outros elementos somados aos vocais viscerais de Daniela Serafim.

Drowned “Hail Captain Genocide”

Rapidez, agressividade e peso fazem parte da fórmula mágica da banda mineira de death/thrash Drowned e o single “Hail Captain Genocide” ainda conta com a revolta contra ao desgoverno atual que levou a vida de mais de 600 mil pessoas em nosso país.

Sinaya “After Life”

Com uma nova formação, a banda Sinaya resolveu incorporar novos elementos do hardcore ao seu death metal. Afterlife é um single de deathcore que conta com a participação de CJ MacMahon e é indicada a fãs de Down pelos riffs muito bem feitos.

Até 2022! Boas festas a todos e cuidem-se.

MELHORES DO ANO: Provando Que 2020 Não Foi Perdido

Saudações a todos que acompanham a minha singela coleção virtual, ilustrada em textos. Agradeço ao apoio de todos que fortaleceram o trabalho do blog e que aumentaram a lista dos títulos de discos aqui em casa, enviando material. Nesse ano tivemos tudo de ruim. Queimadas, desgoverno de um lunático de extrema direita, pandemia, desemprego em massa e a lista de coisas tristes só aumenta. O que seria de nós se não fosse a música para nos salvar? Por isso, para não sentar e chorar, vamos falar das coisas boas de 2020. Chegamos a nossa clássica lista de melhores do ano, na nossa opinião.

SINGLES

Nervosa “Perpetual Chaos”

Prika Amaral apresentou a nova formação da Nervosa na velocidade da luz, apresentando dois singles, que tiveram produção de Martin Furia e foram gravados na Europa. E, meu irmão e minha irmã, o grupo já se mostrou ser mais que uma super banda: Nervosa é uma potência mundial.

Creatures “Lighting in my Eyes”

O heavy metal brasileiro ganhou um novo fôlego e voltou às suas raízes verdadeiras de satanismo, revolta e NADA de conservadorismo. O grande destaque de Lighting in my Eyes é o vocal afinadíssimo e os solos envolventes. É o som que a galera fatidicamente estaria dançando se voltássemos aos anos 80. Como diria o pessoal do Canal Scena, uma banda sensual.

AnkerkeriA “Baph Metra”

Fortaleza conta com bandas incríveis de variados gêneros. Um deles é o death metal. A AnkerkeriA lançou o single Baph Metra com um clipe impecável em termos de produção e enredo (para assistir, você precisa estar logado no YouTube e ser maior de 18 anos). O som é muito bem executado, com variações que fogem do óbvio e coloca a banda dentre as grandes no país.


Inraza “(Still) Stuck

O primeiro dos dois singles lançados pela banda durante 2020 é o que mais me chamou a atenção. A banda que faz um metal moderno está caminhando para a maturidade, evoluindo conforme vão lançando mais materiais. Destaque para os vocais extremos intercalados com os limpos da vocalista Stefanie. Aguardamos um full album para 2021 e uma tour no nordeste assim que a pandemia acabar.

EP´s

Desalmado “Rebelião”

A banda citada por Max Cavalera não poderia ter soltado nada menos que um EP espetacular. Voltando ao português, a banda mandou o recado reto sobre os tempos que enfrentamos desde o golpe, em uma ode para que o povo se organize contra as opressões da extrema direita. Qualidade técnica, agressividade, arranjos empolgantes e vocal furioso. Rebelião deveria ter sido um álbum. Destaque para “Esmague os Fascistas” que contou com a participação de Nata Nachthexen, vocalista da Manger Cadavre?.

Hellway Train “Lockdown Reborn”

Os mineiros do Hellway retomaram a banda com um EP incrivelmente forte! Com um clima cheio de energia que o heavy metal pede, o trabalho fala de transtornos psicologicos. Pra quem respira som dos anos 80, é uma indicação que você vai agradecer! Destaque para o vocal de Marc que lembra muito Rob Halford.

Isinkú “Damnatio Memoriae”

Com seis sons é uma ode ao black metal anti imperialista. A banda que é de Natal/RN, nasceu para fortalecer ainda mais o cenário brasileiro do gênero, com posicionamento claro antifascista. Aqui os destaques são para as composições dos riffs e o clima gerado nas músicas. Pode ouvir sem medo, pois o som é muito bom, assim como letras e ideias.

Surra “Trashpunk Teleport: Submundo 2121”

Esse EP chegou aos 45 do segundo tempo, mas foi um gol de placa do Santos, ou dos santistas do Surra. São cinco faixas bem raivosas, que saíram com um gibi (que infelizmente ainda não vi, mas pretendo adquirir em breve). O grande destaque fica para “Nossa Reação”, que nos faz imaginar a galera cantando juntos nos shows “pra – queimar – no inferno – e comemorar a consolidação do império” e que ainda tem solo, meus consagrados. Uma verdadeira obra de arte!

Expurgo “Entropic Breath”

Os mineiros do Expurgo mostraram mais uma vez porque são uma das maiores bandas de grindcore brasileiras. O EP “Entropic Breath” traz toda a brutalidade sonora que já conhecemos, acompanhada de letras precisas. Se você busca o grind raíz, esse EP é obrigatório.

Dead Enemy “Knowing the Enemy”

A renovação do thrash crossover brasileiro também está acontecendo! Após o lançamento da primeira demo, a Dead Enemy de Fortaleza mandou o incrível EP “Kwoing the Enemy”. Rock veloz que faz você colocar a bolachinha para rodar pelo menos umas três vezes. “Broken Shape” é o som que mais nos prendeu. Ainda ouviremos falar muito nessa banda.

Cruento “Mar de Ossos”

Indo para o interior de São Paulo, mais precisamente Jacareí, no Vale do Paraíba, Cruento faz um crust punk visceral, com a fúria clássica do estilo. Mar de Ossos é um EP que conta com cinco músicas que mostra o quanto a banda amadureceu nesses anos. “Homem Lixo” que também ganhou um lyric video, é o grande destaque desse trabalho.

Vermenoise “O Outro”

O grindcore paulista foi presenteado com o lançamento excelente do EP “O Outro” da Vermenoise. Com cinco faixas curtas, como é comum do estilo, a banda mostrou que está mais violenta que nunca, aliando a brutalidade do som aos ideais da banda, mensagens essas contidas nas letras. Destaque para o vocal monstro da Chris.

Carnal Atrocity “Degenerescência”

Com esse nome difícil de se pronunciar, foi uma grata surpresa nos depararmos com esse projeto, que trata-se de um duo: Karine Campanille fazendo os vocais, arranjos de guitarra, baixo e sintetizadores e Emiliano a bateria. Tem grind, tem death metal, indicado para fãs de Carcass.

Álbuns completos

Vazio “Eterno Aeon Obscuro”

Começando a listas dos full albuns com o melhor lançamento de 2020, indiscutivelmente. Apresentado a muitos como nós pelo Canal Scena, o álbum conta com um black metal que é um tapa na cara dos reacionários. Com base no punk, a banda conseguiu trazer toda a brutalidade do gênero aliado ao clima e com mensagens precisas. Falar do Vazio será sempre incompleto. É preciso contemplar a escuridão.

Exsim “Exsim”

Os nossos conterrâneos aqui de Recife do Exsim lançaram um álbum auto intitulado muito bom. Grindcore clássico, com batera a milhão, em um álbum que tem dezessete músicas. Mas não se engane, ele tem a rapidez que o grind pede. Então coloca no repeat e seja feliz!



Podridão “”Revering the Unearthed Corpse”

Pra quem curte um death metal mais primitivo, esse álbum que conta com onze faixas é um prato cheio. Metal morte com direito a sangue, doenças venéreas e diarréia. Se você é fã de Cannibal Corpse, com certeza vai curtir esse trabalho que conta com uma batera bem precisa e riffs brutos.

Postmortem Inc “The Coqueror Worm”

A banda de Pelotas/RS, vem mostrar como a água de lá é boa para gerar bandas excelentes de death metal. Da escola do Krisiun, o álbum traz um brutal death metal com extrema qualidade técnica, mas com aquele algo a mais, que destaca a banda: eles não buscam copiar as fórmulas prontas do gênero, a identidade aqui é única e é o que nos faz apostar nesse nome para os próximos anos. Destaque para “State of Conspiracy”.

Cäbränegrä “Abismo”

Mais uma banda de grindcore que lançou um álbum visceral, o Cäbränegrä já tinha começado com tudo com o primeiro trabalho e agora só consolidou o som. Banda catarinense que lançou ótimas onze faixas, com velocidade, peso e culminou em um trabalho muito legal. Destaque para o som “Qual a solução?” que aparece em duas versões geniais.

Rest in Chaos “Trapped by Yourself”

Com extrema qualidade técnica, a banda de Florianópolis Rest in Chaos apresentou o seu primeiro full album que conta com onze faixas recheadas de brutalidade. Com peso das cordas, vocal forte e preciso, o destaque é para a bateria de Marlon que preenche o som de forma impecável. Death/Thrash que dá pra abrir mosh e banguear (mesmo que seja na sala de casa). Destaque para a faixa “Let me Rest”.

Wargore “Cursed Existence”

Pra quem curte death metal oldschool a Wargore é a pedida certa. Em Cursed Existence, os caras arrepiaram desde o primeiro som com palhetadas pesadas e vocal de demônio. Eles, que são de cascavel, lançaram nove sons em julho desse ano e espero muito poder ver um show ao vivo para conferir toda essa podreira em ação. Destaque para o som “Cocaine”.

Mofo “Sick and Insane”

É thrash que brasileiro gosta? Pois tome, mermão! Os caras do Mofo, que são de Brasília, arrebentaram com esse álbum insano que promete rodas brutais em shows. Com uma intro macabra, podemos até notar uma pequena influência do death metal do Bolt Thrower no começo da faixa seguinte a “Adrenaline”, que dá lugar ao thrash tradicional. Uma das grandes promessas de renome para o thrash metal brasileiro.

Sangue de Bode “A Sombra que me acompanhava era a mesma do diabo”

Uma grata surpresa de 2020 foi conhecer o som dos cariocas do Sangue de Bode. Um álbum repleto de tudo aquilo que o metal extremo pede: death, black, fúria! Ouvi muito esse disco que fiz questão de adquirir o físico (arte gráfica muito bonita). Destaco a faixa “Minha refeição é no Lixão”.

Maddiba “Santo André”

Saindo um pouco do metal e adentrando ao hardcore, essa indicação foge do tradicional. Somando o rap e pick ups, Santo André é uma ode aos fãs de Suicidal Tendencies e Beastie Boys, mas com aquele tempero nacional, com pitadas de thrash que a gente gosta tanto. Outra banda que conheci por meio do Canal Scena e que não saiu do meu fone de ouvido em 2020.

Ao Vivos

Surra “Escorrendo pelo Ralo – Ao vivo em São Paulo”

Essa banda não está pra brincadeira! Com três lançamentos no ano, a máquina de fazer riffão também lançou um ao vivo gravado em São Paulo, no show em que tocaram todas as músicas do escorrendo pelo ralo. Saudades de um show, né, minha filha?

Labirinto “Live at Dunk Fest”

Esse ao vivo é tão perfeito que nem parece ser ao vivo. É aí que a gente vê quando a banda é realmente boa. Som instrumental, que mescla metal e sludge, com camadas sonoras muito fortes. Qualidade ímpar e sentimento que não precisam de palavras. Aliás, eu uso uma: impecável.

Manger Cadavre? “Ao vivo em Curitiba”

Sem alarde e divulgação, a Manger Cadavre? disponibilizou apenas no bandcamp um show ao vivo realizado em Curitiba no ano de 2018. É como se fosse um bootleg, mas dá pra matar um pouco as saudades do show dos caras, pois tem treze sons muito furiosos. Destaque ao vocal visceral de Nata.

Surra lança novo EP-gibi “Thrashpunk Teleport: Submundo 2121”

Nesta quarta-feira (9) será lançado o novo EP do conjunto musical Surra, em um formato inédito. Além de estar disponível para audição em todas as plataformas digitais, o material físico virá com um CD e um gibi original exclusivo.

A própria banda fez o roteiro do gibi, e o mesmo foi desenhado por Lobo Ramirez, da Escória Comix. Na historinha, a banda é teletransportada para um futuro distópico, onde eles vão contar com a ajuda de personagens insólitos para derrotar hordas de crentes ricos e armados e tentar voltar para o ano de 2020.

As cinco músicas do EP, que também contou com a ajuda da Läjä Records no seu lançamento, foram totalmente gravadas no Estúdio Foice (o próprio estúdio da banda em São Paulo) e foram mixadas e masterizadas por Leeo Mesquita, o guitarrista/vocalista da banda.

Junto com o lançamento desse material multimídia, estarão disponíveis no site da Cadeia Records (selo da banda) um combo exclusivo com camiseta e também, de forma separada, uma bermuda, as duas opções totalmente temáticas desse EP.

Surra Lança EP “EXPROPRIANDO SUA FÁBRICA”

Sem shows por conta da pandemia, o Surra decidiu passar grande parte de 2020 no estúdio. Dessa experiência surgiram várias ideias, e a primeira delas será desvendada agora. É o EP “100% Surra – Expropriando Sua Fábrica”, com homenagens a bandas da Baixada Santista, nosso local de origem.

A primeira escolhida foi a música Little Boy, do Sociedade Armada, banda icônica do hardcore praiano, com letras muito contundentes que, inclusive, servem de grande inspiração para nós. Nesse caso aqui, a música trata do maior atentado terrorista da história, as bombas atômicas lançadas contra o Japão no final da Segunda Guerra Mundial.

Em seguida temos Laje, do conjunto de Praia Grande Summersaco. Poucos sabem, mas essa cidade vizinha de Santos já teve algumas das melhores bandas do cenário extremo (além do Summersaco tivemos também o Entendeu?) e graças a esse pessoal nós tocamos nossos primeiros shows fora de Santos e abrimos nossa cabeça para sons e ideias diferentes. Mais ainda, fica aqui nossa homenagem para o nosso amigo Itzac, guitarra e vocal da Summersaco, falecido em 2019.

Não poderíamos deixar de destacar também o Larusso, banda que foi muito influente para nós no começo de nossa trajetória no underground. Na época em que éramos adolescentes e começamos a tocar Thrash, o Larusso era uma referência no Crossover santista, com várias pessoas que depois iriam se tornar grandes amigas e parceiras na formação da banda. Em um período de pouco público, eventos com cotas de ingressos e o auge do “pop punk”, esse pessoal nos mostrou qual era o caminho.

Para arrematar, temos um tributo ao grande Vulcano, uma das principais bandas que já saíram da Baixada para o mundo. “Total Destruição” é um hino do metal brasileiro e, para nos ajudar a afiar esse AÇO, nós tivemos o auxílio de Mauricio Nogueira (ex Krisiun, Torture Squad e Matanza) nos solos de guitarra e do vocal da destruidora Cacau Pinheiro.

Além do digital, o lançamento físico do material, extremamente limitado, será acompanhado de um skatinho de dedo com a capa do EP estampada no shape, que faz referência também ao nosso querido Charlie Brown Jr. e homenageia o grande Alexandre Magno, também conhecido como Chorão. A arte é assinada por Nathalia Neiva.

O trabalho foi todo gravado no nosso próprio estúdio em São Paulo, por nós mesmos, com mixagem e masterização de Leeo Mesquita e projeto gráfico de Guilherme Elias. E esse material é apenas uma amostra desse potencial, que em breve também poderá ser visto no nosso próximo EP de autorais inéditas, que sairá ainda neste ano conturbado.

Confira o lançamento aqui: https://youtu.be/dYnjGG6qJx0 

Disponível em todas as plataformas digitais nesta sexta-feira 02/10/2020

MELHORES DE 2019: A única coisa boa que Bolsonaro fez, foi inspirar grandes discos e discursos contra ele mesmo.

Eta ano bom de acabar! Só direito perdido, a milícia no poder, a polícia matando preto e pobre como nunca antes… A única coisa boa que Bolsonaro fez por esse país, foi inspirar bandas em grandes lançamentos. Então para fechar o ano com algo decente, fica aqui a nossa lista de melhores lançamentos (ou os que a gente mais gostou). Desde já agradeço ao apoio de todos que leram e compartilharam nossas matérias. O underground é feito por todos!

Álbuns

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SURRA – Escorrendo Pelo Ralo

Possivelmente a banda que mais tocou em 2019. O Surra elevou o seu thrash punk a um estilo único, sem medo de mesclar elementos do metal e até do grindcore. Grande destaque para as letras que estão mais maduras e nos inflamam para a resistência.

SPIRAL GURU – Void

Disco extremamente bem gravado e executado, que mescla o stoner ao melhor estilo Sabbath, com elementos experimentais, do doom e mesmo do pós-punk. Void colocou a Spiral Guru dentre os maiores nomes do gênero no Brasil e com certeza, fora do país a banda irá alcançar um público ainda maior.

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MANGER CADAVRE? – AntiAutoAjuda

Um dos discos que me fez chorar ao acabar de ler o encarte. Mas foram lágrimas de esperança. Um hardcore crust visceral, com uma estrutura narrativa, emociona pela construção dos elementos sonoros e temática anticapitalista que nos guia para um outro caminho possível.

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RED RAZOR – The Revolution Continues

Consciência de classe + Anticapitalismo + Cerveja. Essa combinação somada a músicos extremamente bons só poderia resultar em um álbum fuderoso, que faz você querer ouvir outras vezes e clamar a revolução. Felizmente eles estarão no Abril Pro Rock 2020 e poderei conferir de perto essa destruição sonora.

NERVOCHAOS – Ablaze

Mais satânicos do que nunca, o NervoChaos traz o seu melhor trabalho até então. com identidade e evolução criativa nas músicas. A banda apresenta um retorno ao death/thrash metal da velha escola, eles incorporaram também alguns detalhes do black metal com uma pegada mais crua, primitiva (nada mais acertado, tendo em vista a temática do álbum).

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BAIXO CALÃO – Necrológio

Grindcore niilista de Belém do Pará, já tinha nosso respeito, agora com o vocal de Monise, está ainda mais arretado. Com dezoito sons que fogem do grind mais do mesmo, ainda conta com vinhetas muito massas e uma linha que caminha para a morte. Excelente lançamento. Detonem no Obscene Extreme, pois vocês merecem demais.

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TORMENT THE SKIES – Impure

A banda de death metal de Natal (RN), Torment The Skies, uma das gratas surpresas do ano. O disco trata do conceito do Inferno, segundo Dante e leva os ouvintes para uma viagem ao submundo, ficando cara a cara com a podridão do ser humano. O último álbum havia sido lançado em 2014, e podemos notar uma grande evolução nas composições que estão mais trabalhadas e na qualidade técnica da gravação.

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HATEFULMURDER – Reborn

Um dos grandes nomes do Thrash/Death brasileiro nos presenteou com o álbum Reborn, que conta com nove sons intensos, raivosos e de qualidade técnica impecável. Os urros de Angelica Burns denotam o porque é considerada uma das grandes fronts brasileiras. Trabalho maduro que coloca a banda em um outro patamar.

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TEST – O Jogo Humano

Banda que possui longa jornada no underground, mas só conheci recentemente pelo álbum “O Jogo Humano”. O disco é composto de forma que o ouvinte pode montar a ordem que quer ouvir e ainda assim o disco fará sentido. Destaque as letras foram compostas por vários autores. Grindcore com Black metal que gerou um estilo próprio.

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AÇÃO DIRETA – Na Cruz da Exclusão

Com mais de três décadas, o Ação Direta ainda nos surpreende. “Na Cruz da Exclusão” é mais um dos excelentes trabalhos lançados em 2019 (em que as bandas estão inspiradas pelas desgraças do atual governo) e que tem tudo para se tornar um clássico.

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TERROR REVOLUCIONÁRIO – Campo de Esperança

Após completarem duas décadas de existência praticamente sem pausas, a banda de hardcore/crust Terror Revolucionário nos presenteia com uma compilação que conta com nada menos que SESSENTA E UMA MÚSICAS. É mole, mermão? É nada! É brutalidade na veia.

REALIDADE ENCOBERTA “Não Vivamos Mais como Escravos”

E falando em Ação Direta, uma ótima banda que bebeu nessa fonte foi a Realidade Enconberta que lançou o excelente “Não Vivamos Mais como Escravos” que tem o hardcore como base, num crossover com o metal. Posiconamento + som porrada!

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QUESTIONS – Libertem

Primeiro álbum da banda paulistana gravado ACERTADAMENTE em português. O hardcore dos caras que geralmente trazem o PMA, nesse discos está com bastante raiva conscientemente dirigida (e necessária nesses tempos de fascismo). No instrumental encontramos peso e muita energia.

CROTCH ROT – Brochas From Hell

O goregrind brasileiro conta com bandas muito boas, com um instrumental bem executado e as temáticas gore que para alguns causam ânsia, mas para a maioria dos fãs do estilo, são diversão pura. O Crotch Rot, que é uma banda de Curitiba, em seu novo trabalho conseguiu unir a temática à crítica a misoginia sem deixar o deboche de lado.

PATA – Shit and Blood

Em meados de junho, a banda mineira Pata lançou o álbum “Shit and Blood“, que conta com dez músicas. O trio, que é formado por Lúcia Vulcano (guitarra e voz), Beatriz Moura (bateria) e Luís Friche (baixo), possui influências do grunge e do punk, tendo como maior referência a L7. 

KULTIS – The Black Goat

Thrash metal que tem contos de H.P. Lovecraft como base nas letras, Kultist nos presenteou com o ótimo álbum “The black goat”. Fiquei muito contente em ouvir uma banda que puxa para o thrash mais arrastado, com riffs melhor trabalhados, com referências de Kreator e algumas coisas de Sepultura e Slayer.

EPs

MERCY KILLING – Escravo Neoliberal

Com três sons destruidores, Mercy Killing mostra porque é um dos grandes nomes do metal paranaense. Com o vocal poderoso de Tati, a banda mostra postura política e riffs empolgantes. Esperamos tê-los por Recife em breve, pois o trabalho é conciso e de qualidade.

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PETALS BLADE – Holocausto

Thrash Death Metal de Castanhal no Pará, a banda Petals Blade lançou o EP “Holocausto” que conta com seis músicas com muito peso e muita raiva. Letras contestadoras, totalmente em português, mostram a realidade nua e crua do Brasil. Anote esse nome, pois o potencial é para grandes álbuns futuros.

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BUFFALO LECTER – Bufalo Lecter

EP de estreia da banda natural de Recife, que faz um rock instrumental, com nuances experimentais muito concisas e criativas. A banda começou mandando brasa e enriquecendo a cena local pernambucana.

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TEMPOS DE MORTE – Depression

Para quem é fã de bandas de gótico pós punk como Plastic Noir, Depression é o EP lançado pela banda paulista Tempos de Morte que nos faz voltar para os anos 80. A mensagem não é positiva, mas por que não curtir o fim do mundo com ótima música. Som fuderoso, que agrada de góticos à headbangers.

QUILOMBO – Itankale
Com inspiração na realidade vivida pelo povo preto desde sempre, o EP conta com seis músicas, com lançamento pela Sangue Frio Produções. Buscando fugir da historiografia contada pelo povo opressor (que tentam justificar o injustificável), as letras contam com um estudo aprofundado, além da participação do percussionista Binho Gerônimo, que trouxe elementos originários da África no EP.

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COSMOGONIA – Reviva

Quem viveu o final dos anos 90 vai se recordar do boom de bandas riot grrrls que aconteceu no Brasil. Dentre elas, uma das mais importantes foi a Cosmogonia. Treze anos após o último lançamento, e um hiato de shows, a banda volta com uma grande bagagem de apresentações e lança EP com três sons inéditos.

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BRAZATTACK – Oposição Cotidiana

O Distrito Federal Caos é o principal celeiro de ótimas bandas de hardcore. Brazlândia, que é uma das cidades satélites do DF não poderia ficar de fora. É de lá que vem a banda Brazattack, que lançou esse ano o seu primeiro trabalho, o EP “Oposição Cotidiana”. Hardcore metal com muito conteúdo politizado.

SPLITS

“Inflamar” – Manger Cadavre?, No Rest, Vasen Käsi e Warkrust

Split 4 way com quatro dos grandes nomes do crust nacional (em diferentes vertentes). Para mim, foi o lançamento mais significativo do ano se tratando da temática, sonoridade, arte e importância no cenário underground.

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“Obliteration” Pandemmy & Abscendent

Pandemmy, uma banda de Thrash/Death Metal daqui de Recife, contou com Rayanna Torres no vocal nesse trabalho, que executou de forma impecável. Já o Abscendent, é uma banda de Death Metal originária da cidade de Lazio, na Itália. O trabalho está muito bem gravado e executado, e é motivo de orgulho que o nosso metal esteja ganhando o mundo.

Aphorism x Rabujos

Duas das bandas mais extremas do nordeste brasileiro se uniram nesse split que conta com brutalidade, sujeira, qualidade de execução e gravação, mostrando que não brincam em trabalho. Você encontra crust, death metal e nas duas bandas, vocais furiosos. Música extrema somada a consciência e qualidade elevada! Porrada no fascismo.

“Enfermo” – Narcose e Dësterrö

Barulho, distorção, duas baterias, gritedo e coisarada é o que você encontra no split. Tem sludge, mas tem um monte de outras coisas também incluindo desespero. O split foi registrado com gravação em apresentação ao vivo da Narcose, e por isso possui soa lo-fi, mas nem por isso perde sua identidade.

É isso! Estamos de férias e até manteremos as publicações de notícias, mas as resenhas ficarão para ano que vem. Continuem enviando material para ser resenhado. Obrigado por compartilharem nossos textos. Continuem produzindo som infernal. Que em 2020, sigamos o exemplo de nossos irmãos do Chile, enfrentemos o fascismo nas ruas até a vitória!

Damn Youth e Surra, as duas revelações do Thrash Crossover atual lançam novos clipes

Apesar de não serem tão novas assim, as bandas Damn Youth e Surra tem sido consideradas grandes revelações do Thrash e Crossover nacional, conquistando a cada dia mais fãs. Na última semana, ambas as bandas lançaram clipes muito arretados. Para os saudosos da MTV, já podem favoritar no YouTube de vocês, pois são produções para se ver de novo.

O Surra vem fazendo um ótimo trabalho de divulgação de seu último disco e o clipe, em poucos dias já atingiu a marca de 9 mil views. Se tratando de uma banda independente, esse é um resultado muito bom.

A Damn Youth optou por um registro ao vivo, que também agradou aos fãs.

Surra: Correria, Posicionamento e Som Brutal

Uma das bandas que mais tem tocado nos últimos anos é o Surra. Correria, posicionamento firme e som brutal que tem lotado shows e gerado rodas gigantes. Conversamos um pouco com o trio que contou sobre a trajetória, sobre o processo de composição e lançamento do novo álbum, shows, política e muito mais.

Foto: Mel Kato

O Surra é uma das bandas ascendentes do cenário independente que tem tudo para ocupar espaços de bandas que estão no mainstream. Para começar, falem um pouco sobre a trajetória de vocês e como estão conseguindo reascender a paixão da juventude pela música pesada.

Leeo Mesquita: Nossa trajetória começa um pouco antes do Surra, já tocamos juntos em outras bandas desde 2005. Entre 2008 e 2012 formávamos o Like a Texas Murder. Era um som quase que na mesma pegada, só que com algumas ideias confusas. Em 2012 decidimos montar o Surra, uma banda em trio e de som mais rápido, e desde então seguimos produzindo material e tocando em qualquer lugar em que ofereçam condição. Percebo também que esse tipo de som rápido voltou a ganhar uma maior atenção e as novas gerações do metal/hc/punk/crossover tem acompanhado o trabalho das bandas, coletivos, etc. Isso move as bandas pra continuar produzindo material cada vez melhor, muito foda. Esse feito é de todas as organizações de show e bandas da atualidade: tanto das novas bandas como das mais antigas que voltaram pra estrada nesses tempos.  †

Foto pos Maya Melchers

Vocês gravaram o novo trabalho no Family Mob Studios, que tem o selo de excelência em todos os gêneros de som, mas quando se trata da música extrema o estúdio se destaca tendo clássicos como das bandas Nervosa, Ratos de Porão, Desalmado, Manger Cadavre? dentre outros… Como foi esse processo? O que saiu de aprendizado em se gravar em um estúdio desse porte?

Guilherme Elias: Esse é basicamente o terceiro material do Surra que sai do Family Mob. Depois que deixamos de gravar em Santos foi o estúdio que escolhemos e mantivemos assim desde o Ainda Somos Culpados. Toda a experiência e estrutura que o Family Mob oferece é essencial mas essa capacidade de experimentar coisas, quebrar padrões está muito presente no trabalho do estúdio.

Notamos uma mudança na trajetória das letras desse novo trabalho. Diferentemente dos demais, em que vocês faziam as denúncias, nesse momento temos um Surra mais maduro e que aponta alternativas de superação da opressão capitalista. Quem escreve as letras e como se deu essa transição de linha de pensamento?

Leeo Mesquita: Eu acabo escrevendo e lapidando a maioria das letras, mas vale ressaltar que não elaboro nada sozinho. Estamos sempre dividindo material e debatendo assuntos. Todos contribuem, seja com ideias, seja com esboços. Algumas pessoas notaram essa diferença no tom das letras e isso me deixou feliz, foi intencional. Essa mudança teve grande influência de uma conversa que tive com uma grande amiga nossa, a Nata, vocalista do ‘Manger Cadavre?’. Estávamos no estúdio Family Mob tomando café, acho que estávamos gravando naquele dia. Ela ressaltou pra mim a importância de evoluir as ideias nesse sentido, de apontar a organização proletária como próximo passo. Isso grudou nas minhas ideias durante a elaboração das letras e sou grato a Nata por isso!

Foto por Carol Folha

Vocês incluiram um samba composto e executado pelo Guilherme Elias. Como se deu a ideia de inserir um estilo em que a maior parte dos fãs de metal é avesso? Como tem sido a receptividade do público?

Guilherme Elias: Acreditamos que o Samba principalmente na parte lírica tem muito a ver com o nosso trabalho. Como pessoalmente tenho grande afinidade pelo estilo sempre trouxe essa musicalidade para o Surra e nesse trabalho concordamos que seria bacana explorar isso. A ideia inicial era ser só uma pequena vinheta mas acabou ficando melhor do que imaginávamos e estendemos um pouco a duração do samba.A receptividade tem sido excelente, muita gente que já acompanha a banda a um tempo sabia desse lance de curtirmos samba/pagode mas pra muita gente foi uma novidade bacana. 

O instrumental do disco está com muito mais peso do que os trabalhos anteriores. Podemos dizer que o surra está caminhando mais para o metal e deixando o punk para trás no thrash? 

Victor Miranda: Acredito que não. O Surra nunca foi uma banda com um estilo 100% definido, apesar de ter influências bem óbvias. O fato de estarmos sempre na estrada e em contato com outras bandas de outros estilos nos influencia bastante, portanto é sempre um processo bem orgânico. Não existe nada premeditado do tipo “vamos seguir aqui mais essa linha XYZ”. Nós vamos compondo e o som vai mudando conforme o nosso gosto na época. 

“Bom dia, Senhor” é o som que a maioria dos trabalhadores, principalmente os informais, se identificaram. Ela é carregada de ódio de classe e trás o gosto acre de quem é explorado pelo patrão que o trata como se estivesse fazendo um favor. Comentem um pouco sobre a música.

Leeo Mesquita:  Eu tinha essa letra a um tempo e ela era muito maior e com mais ‘humor’. Decidi escrever algo a ver com meu dia a dia, colocando nos versos tudo o que eu sempre quis falar pra alguns ricos que tive o desprazer de prestar serviço. Sou eletricista autônomo a mais de 10 anos e a maioria das grandes reformas em que trabalhei presenciei pessoas de diferentes classes sociais falando todo tipo de atrocidade. A inspiração veio daí. Remontei a letra e adaptei pra música. Essa música fizemos porque queríamos algo pesado e arrastado. Durante a composição dela nós ríamos dizendo que essa seria a música tough-guy do álbum, só que o ‘dedo na cara’ é na cara dum rico cretino.

Acompanhamos pelos Stories de muita gente da cena de São Paulo que vocês fizeram uma Premiere de apresentação do “Escorrendo Pelo Ralo”. Vocês são nitidamente uma banda muito querida por muitas bandas daí. Como é essa relação em São Paulo? Há solidariedade na cena? Quais são as principais bandas que estão na correria e que tem a mesma linha de pensamento e valores que vocês?

Guilherme Elias: Foi muito bacana poder reunir tantos amigos nesse momento tão importante que foi a première do lançamento do nosso disco. Nós temos sorte de durante a nossa caminhada conhecer muita gente talentosa não só de outras bandas mas fotógrafos, artistas, jornalistas, engenheiros de som, designers e conseguimos reunir alguns deles nesse pocket show. Nós somos de Santos, portanto, demorou um pouco de tempo para nos entrosarmos com a galera de São Paulo mas agora 7 anos como Surra, e eu e o Victor morando na cidade, acabou sendo natural estar mais presente e acompanhando a cena da Capital. Bandas na correria em São Paulo temos uma infinidade mas acredito que mais ligadas a gente o Desalmado e o Paura. São bandas sempre fomos fans e agora temos o prazer (ou não) de sermos amigos pessoais dos integrantes, fazer turnês, vídeos, dividir palco juntos e etc. 

Vocês irão participar do festival itinerante de hardcore do Garage Sounds. Como é para vocês fazer parte do cast? O que esperam?

Victor Miranda: Pra gente será uma experiência sensacional participar de um festival desse porte, ainda mais dividindo o palco com vários nomes gigantes do rock nacional. Esperamos rever vários amigos pelo Brasil e também esperamos nos divertir bastante em todas as datas.

O Surra é assumidamente comunista e carrega a bandeira do antifascismo há muitos anos. Qual é a importância de posicionar politicamente em uma época em que muitas bandas preferem se manter neutras que assumir suas reais inclinações ideológicas?

Leeo Mesquita: As bandas que vejo declarando essa ‘neutralidade’, no geral, são bandas maiores, um pouco mais velhas. Tem gente nova nessa onda também, mas algumas bandas antigas parecem temer a reação do público. Alguns escondem seus pensamentos reacionários sim, mas o que acontece no geral é que os tempos mudaram, nosso momento é de entendimento da luta de classes. Quem não acompanhou isso fica confuso mesmo, já que, mesmo acompanhando os acontecimentos, ainda é difícil entender as manobras da burguesia. É muita desinformação na internet, tem que ficar esperto. Essas cenas de música pesada não são bolhas impermeáveis/blindadas desse tipo de discurso. Acho que isso já explica a importância da expressão de ideias revolucionárias através da arte. 

Podemos esperar uma nova tour no nordeste?

Victor Miranda: O Garage Sounds vai ter várias datas no nordeste, mas ainda assim queremos tentar organizar algo somente do Surra, até mesmo para podermos tocar em mais lugares. Só não sei quando, mas é um desejo nosso de fazer isso acontecer. 

Muito obrigado pela atenção. Muito obrigado por esse clássico anticapitalista. Deixem seu recado!

Victor Miranda: Muito obrigado pelo espaço! Acompanhem a banda nas redes sociais (@surrathrashpunk) e nos vemos na estrada!  Muito obrigado pela atenção. Muito obrigado por esse clássico anticapitalista. Deixem seu recado!

Surra “Virou Brasil”

A semana em comemoração ao dia do trabalhador não para de nos revelar gratas surpresas. Após os lançamentos do clipe do Ação Direta e o álbum da Manger Cadavre?, foi a vez da banda Surra liberar um EP surpresa.

Eles, que são um dos maiores nomes do thrashpunk atual, haviam anunciado o lançamento do disco “Escorrendo Pelo Ralo”, porém hoje, dia 03 de maio, liberaram um EP com quatro sons.

Iniciados com uma mudança de transmissão de rádio, o EP começa com “Virou Brasil Pt.1” conta com o Guilherme Elias cantando um samba de sua autoria, na qual o mesmo toca cavaquinho. “Virou Brasil Pt.2” traz o thrash crossover que a gente tanto ama, com referências claras de Ratos de Porão e DFC. Destacamos o baixo estalado muito bem executado. O refrão “País sem noção” já está na nossa cabeça. Quase sem respiro, o som “Não Entendi” entra e em vinte e nove segundos já nos deixa sem fôlego. Fechando o lançamento, “Caso Isolado” critica a polícia que atualmente tem licença para matar, para defender a propriedade privada. É, com certeza, um dos sons que virarão clássicos, em que a galera canta junto com a banda nos shows.

A arte foi realizada pelo ilustrador Paulo Gabriel. O trabalho está disponível em todas as plataformas de streaming. Confira: http://ditto.fm/surraviroubrasil