Todos Os Mitos Cairão | O Thrash Stoner Visionário do Hellway Patrol

Em meados desse ano pude conhecer uma banda nova no recanto do underground recifense, o grande Darkside! Nova para mim, mas na estrada desde 2017, o Hellway Patrol foi uma grande surpresa na noite em que se apresentaram grandes nomes do underground nacional. No evento em questão, o então baterista da banda, Douglas, teve que deixar a tour por problemas de saúde, sendo substituído a altura por um dos nossos grandes bateras, Raone Ferreira, que tocou na lendária Eu O Declaro Meu Inimigo e atualmente toca nas bandas Desalma, Revolta Civil e Surt. Tardiamente, mas após ouvir bastante, trago para vocês a resenha de ‘All Myth Shall Fall’, o full álbum da banda natural de Londrina/PR.

Douglas, Thiago e Pigatto

A banda que atualmente tem formações com membros esporádicos, de acordo com a tour, além do vocalista e baixista Ricardo Pigatto, conta com influências que percorrem o heavy, o thrash e o stoner metal, e tem como principais influências bandas como Black Sabbath, Slayer, AC/DC, Motorhead, Thin Lizzy e Huntress. Suas temáticas em geral tratam de um mundo pós-apocalíptico, não tão distante da nossa realidade, em um chamamento para a reflexão sobre a regressão viciosa do homem.

Com algumas turnês internacionais em sua trajetória, como nos EUA e Europa, a banda conta com dois EPs lançados, três singles e, atualmente, está divulgando o ‘All Myth Shall Fall’, que foi gravado por Pigatto, Netto Pavão e Thiago Franzim.

“O disco foi feito com muito carinho e dedicação, a gente quis fazer algo que a gente curtisse muito, então é sempre bom que as pessoas compartilhem isso também. É um álbum diferente, com bastante influência misturada, mas falando em metal, ele vai pra caminhos um pouco não usuais. ” – comenta Thiago Franzim, guitarrista da Hellway Patrol, que atualmente se encontra na Alemanha.

O lançamento já contou com uma tour terrestre feita em uma ambulância reformada pelo Brasil ao lado da banda de hardcore Manger Cadavre?. As bandas rodaram mais de 12.000 km, com shows em 22 cidades, em 15 estados mais o Distrito Federal, que renderam shows insanos e muitas histórias para contar.

Ricardo Pigatto, Thiago e Raone Ferreira

E OS MITOS JÁ COMEÇARAM A CAIR

Iniciando o álbum temos logo de cara um dos melhores sons do trabalho, Demon of Dreams, som que tem uma pegada mais stoner, mas algumas passagens que caminham entre o heavy e o thrash. Destaque para os vocais em camadas e para os solos de Thiago.

Na sequência temos outro grande destaque, ‘Gods’, faixa que começa com uma tensão, na união de Pigatto e da vocalista Suyane Correia. Com um refrão marcante e riffs que você cantarola facilmente, é uma faixa para ser apreciada várias vezes, para se notar cada nota, cada inserção e cada construção da bateria. Como disse Ricardo no show: esse som fala sobre transar! E a satisfação é tântrica.

‘The Light’ chega com uma construção mais quebrada que alterna riffs do thrash, com elementos de outros gêneros. Temos rapidez e peso, além de um refrão inspirador. ‘Like Father Like Son’, por sua vez, é uma balada emotiva, ao estilo estadunidense voz e violão por boa parte, e crescente instrumental na sequência. Um som bonito e reflexivo.

‘Ride and Ride Again’ foi a faixa que fez o Darkside pegar fogo no mosh aqui em Recife. A música, que ganhou um clipe ao melhor estilo anos 70, é mais rápida, empolgante e mais uma vez usa e abusa da mescla de elementos do thrash e stoner. Para mim, é a melhor música do trabalho e, acredito, que para próximos trabalhos, o Hellway Patrol deveria apostar nesse caminho, que domina muito bem. Cavalgadas empolgantes, solos bonitos, baixo sujo e bateria que pesa uma tonelada.

E temos mais participações de grandes vocalistas do nosso underground: ‘Beauty and Demise’ é uma faixa pesada que contou com os vocais fuderosos de nada menos que Mayara Puertas e Hanna Paulino. Aqui temos peso e velocidade na medida certa.

Outro som que coloca a galera pra correr em círculos até fazer vento, é o ‘Runing Wild’, com direito a uivos e tudo mais. Esse é o som mais thrash da banda, com a rapidez que sujeira que o estilo pede. Destaque mais uma vez às guitarras que são extremamente bem trabalhadas.

Fechando o trabalho temos ‘Infanticide 1869’, som com andamentos quebrados e surpreendentes, com características setentistas, seguido do som com teor mais crítico da banda, ‘Theocratic Dictatorship’, e palhetadas extremamente empolgantes.

Thiago, Pigatto e Netto

‘All Myth Shall Fall’ peca apenas por não contar com um trabalho de pós produção que mostre o peso que a banda tem ao vivo (se você tiver a oportunidade, vá aos shows, a energia é de outro mundo), mas é um excelente trabalho, com músicos que sabem muito bem o que querem e não se preocupam em fazer aquilo que está no hype e, sim, em curtir aquilo que estão tocando. Se puder, adquira o material em formato CD acrílico, pois ele está muito bem feito e merece estar na prateleira da sua coleção e tocando no seu som.

Por um underground com mais bandas autênticas como o Hellway Patrol e menos cópias de receitas prontas que deram certo no passado.

Nota: 9,2

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Do Hardcore ao Death Crust, ‘Decomposição’ é o Auge do Manger Cadavre? | Resenha

Foto por Dani Moreira

Manger Cadavre? é uma banda que nunca decepciona e mais do que isso, sempre nos surpreende com uma ascensão sonora contínua. Você não encontra o mais do mesmo nos lançamentos dessa banda. Você encontra crescimento, cada vez mais peso e a mesma energia irradiante que é transmitida nos shows.

Inaugurando a nova formação, que conta com Nata nos vocais, Marcelo Kruszynski na bateria, Paulo Alexandre na guitarra e Bruno Henrique no baixo, a banda lançou o segundo álbum cheio da carreira, o “Decomposição”. Nesses 10 anos de estrada, a banda produziu muito, com EPs, singles e splits. Dessa vez, temos o sucessor do já clássico “AntiAutoAjuda”, que mostra uma maturidade gigante, fato que tem colocado a banda em evidência também em outros países, levando o nome da cena brasileira à novas fronteiras.

O trabalho, que está saindo em material físico no Brasil pela Xaninho Discos em parceria com um coletivo de selos e com distribuição pela Blood Blast, selo digital da Nuclear Blast, contou com a participação de Fernanda Lira (Crypta e Ex-Nervosa) e de Caio Augusttus (Desalmado) no som Demônios do Terceiro Mundo. A gravação foi realizada no renomado Family Mob Studios, com gravação e mix por Otavio Rossato e masterização por David Menezes.

A arte de capa ficou ao encargo do nosso conterrâneo Wendell Araújo, que exprimiu todo o sentimento das músicas em uma arte detalhada e pesada.

“Decomposição” é um álbum para se ouvir completo. O faixa a faixa te aprisiona num looping do começo ao fim, e quando você se dá conta, está ouvindo mais uma vez. Com afinação mais baixa que os trabalhos anteriores os riffs que caminham entre o death e o black metal, com pitadas de metalpunk, somado ao vocal mais visceral que nunca de Nata são as grandes mudanças que fizeram a Manger Cadavre? se destacar ainda mais. A inclusão de mais pedais duplos nas músicas do é mais um ponto que somou muito à estética dos sons. O baixo, nesse trabalho mais tímido, não deixou a desejar: sujeira e peso na medida certa.

Solta o play para acompanhar o nosso faixa-a-faixa:

https://open.spotify.com/album/1mQWm2XpyrZeCRV2n2dR5M?si=kAUtB2uVT5mfnpR6Vgj6ag

Dividimos as músicas em dois blocos: No primeiro temos músicas mais pesadas, calcadas no death metal com o crust, que abordam temáticas com metáforas para temas mais abstratos. O álbum começa com “Epílogo“, que se trata de um som que fala do momento antes da morte e tem andamentos rápidos e com clima pesado. Com o baixo trazendo mais peso, a variedade de elementos na bateria é outro diferencial. Na sequência, “A Raiva Muda o Mundo” tende a ser a nova “O Homem de Bem”, som que faz a galera se matar loucamente nos moshs. “Em Memória” é um som rápido, mas que ao mesmo tempo tem um certo clima pesado. Destaque para o d-beat da bateria que não deixa o som cair. Em uma pegada mais sludge metal mesclada com o crust, encontramos “Vida, Tempo e Morte” e “Apatia“, essa segunda bem arrastada, com elementos do doom metal.


Chegamos a parte mais politizada das músicas. Seria um Lado B de um possível vinil? “Miseráveis“, por sua vez é o som que vai agradar muito aos fãs de Wolfbrigade, com elementos do metalpunk bem marcantes. O som faz uma crítica a apropriação das pautas de representatividade por grandes empresas, mas que no final das contas continuam explorando a todos. “Neocolonialismo” é o som que a galera fará a festa, pois é um crust muito empolgante e que conta com um apontamento ferrenho aos países imperialistas, que tem o Brasil como uma colônia, nos desindustrializando, explorando de todas as formas possíveis e levando as nossas riquezas naturais e mão de obra barata. “Tragédias Previstas” é o som mais hardcore metal da banda, com uma estrutura bem marcante. Mais uma vez temos denúncias sobre aqueles que corroboraram para as tragédias que vivemos, e que não se tratam apenas da Covid-19, mas todas aquelas causadas pelo capitalismo. É um som atemporal enquanto esse sistema existir. “Profetas da Submissão” é um som com um andamento muito rico das cordas, com peso, palhetadas e melodias, além da bateria do hardcore. É o único som que nos lembra mais os trabalhos anteriores da banda. “Demônios do Terceiro Mundo” é a ode dos trabalhadores que se rebelam contra o sistema e seus braços. Analogia perfeita de olhos negros (anarquistas) e corações vermelhos (comunistas) em uma frente antifascista avançando contra os ceifadores. Ainda na pegada mais enérgica, como o som anterior, fechamos o disco com “Cemitério do Mundo“, música com letra do baterista Marcelo, que sintetiza o Brasil na pandemia. Com um solo de guitarra na entrada da música, que remete ao crossover de bandas como Suicidal Tendencies, logo os andamentos caminham para outro rumo, mas que casam perfeitamente com essa novidade. É um som raivoso, um som sentido, um som que transcreve perfeitamente o peso e a revolta que os tempos atuais nos impuseram, terminando com uma vinheta que eterniza absurdos cometidos e ditos pelo atual desgovernador do nosso país.

Todas as mudanças que a banda Manger Cadavre? trouxe em “Decomposição” foram positivas e temos certeza que o trabalho abrirá ainda mais portas para a banda que já vinha em uma ascensão, que foi interrompida pela pandemia. Aguardamos poder desfrutar do álbum com a banda nos palcos, pois a vontade de ver a banda após ouvir esse trabalho, só aumentou.

Nota: 9.5

Você pode adquirir o material em CD com os selos abaixo:

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A Expressão Dos Tempos Sombrios | Resenha de Mass Mental Devolution do Desalmado

A banda paulistana Desalmado, que está há 17 anos na estrada, conseguiu nos surpreender mais uma vez. Quando pensávamos que eles atingiram seu auge com Save Us From Ourselves, álbum em que já haviam feito a transição do som do grindcore para o death/grind, eles resolveram ousar e absorver elementos de outras vertentes do metal, como o sludge e o doom. O resultado não poderia ter sido outro: um disco de metal, que já não se pode ser rotulado. É o Desalmado, com suas características marcantes, mas com uma sonoridade que te evoca sentimentos nem sempre tão bonitos, como a raiva, a melancolia e o transborda em pranto.

Mass Mental Devolution vem após o lançamento do EP Rebelião (2020), que contou com duas faixas em português, trabalho no qual encontramos músicas mais rápidas e com muita crítica ao capitalismo e ao neoliberalismo que nos massacra.

Para quem ainda não conhece, antes de falar propriamente sobre o álbum, apresento Caio Augusttus (vocalista), Estevam Romera (guitarrista), Bruno Teixeira (baixista) e Ricardo Nützmann (baterista): Desalmado, banda que está em atividade desde 2004, sem pausas, e com a maioria dos membros fundadores, conta com shows brutais e enérgicos. Se você puder, em 2022, assista uma apresentação, te garanto que a experiência vai trazer alguns roxos, mas você vai agitar no mosh, como se tivesse 17 anos novamente.

OITO MÚSICAS PARA MATAR DEUS

A faixa título desse grandioso trabalho, Mass Mental Devolution é um som porrada, que nos coloca de frente exatamente com a involução mental em massa que os tempos da hiperconectividade trouxeram. Com riffs vertiginosos e uma batera na velocidade da luz, com certeza será um dos queridos do público em shows.

O clima pesado da busca pelo seu lugar no mundo e em um sistema excludente, está expressado nos vocais fortes, marcantes e que demonstram o desespero contido de cada indivíduo. Caio canta sobre riffs agonizantes de Estevam Romera, que somados aos graves do Baixo de Bruno e a bateria de Riocardo, que preenche o som como se arrancasse algo da sua alma.

O desespero cede lugar a porrada, em Praise The Lord and Kill People, música extremamente crítica e com sonoridades mais voltadas ao death metal. Fãs da fase mais metal de Napalm Death vão apreciar.

Quando você perde tudo e o vazio te toma, e você luta continuar, mas é tomado pela melancolia. Se você já passou por isso, vai se identificar com as melodias tristes e peso que Hollow traz em cada camada de sua composição. Destaque para o pranto que soa como um chamado da morte, feito pela cantora argentina Noelia Recalde, que trouxe ainda mais agonia para a música. O sludge metal está presente até às entranhas.

As raízes do grind podem ser reencontradas no death metal em Unity, som para se quebrar e liberar o seu ódio por esse mundo desigual. Unidos para sobreviver e bradar um dos melhores sons do álbum. É um som que conta com muitas características já clássicas do desalmado como riffs, passagens de bateria e vocais extremos.

Palhetadas de black metal? Temos também! My Enemy, merece destaque pela masterização que te deixa imerso no som. Não há muito o que escrever, apenas sentir. Para mim, o melhor som do trabalho.

Krisiun está aqui! Sim, está com o solo característico de Moysés Koslene em Outsiders. Outro som que merece muito destaque (sinceramente, é difícil colocar destaques, quando os 8 sons são grandes obras). Aqui encontramos passagens melancólicas e muito bonitas naturais do sludge, que cedem lugar a brutalidade de riffs na pegada black metal, como em uma transição para a explosão de raiva, que chega às passagens mais rápidas mais death metal. O solo do Moysés é a cereja desse bolo negro.

Fechando esse, que pra mim já figura como um dos melhores lançamentos de 2021, temos Your God Your Dictator, o primeiro single lançado do trabalho. Uma crítica voraz às religiões e suas guerras, que na realidade escondem outros interesses. Os deuses do capitalismo que fazem povos se matarem em nome da fé. O clima do som é pesado, com passagens ora mais brutais, ora mais rápidas. Aqui exaltamos a bateria que está incrível. Como diria o próprio Caio, Ricardo toca gostoso. rs

Nota: 10/10

Estamos ansiosos para ver a banda levar o nome do metal brasileiro para a Europa e América Latina em 2022, em grandes festivais como o Obscene Extreme Festival que já anunciou a presença da banda. Desalmado é um dos nossos grandes orgulhos da cena nacional.

Ouça o álbum completo no Spotify:

O Resgate do Crossover Hardcore + Rap: “Santo André” do Maddiba é o Álbum Mais Original de 2020

Quando pensamos em crossover no Brasil, nos vem a mente a clássica fusão entre o thrash e o punk ou hardcore. As misturas de estilos são pontos fortes do brasileiro, mas muitas vezes as bandas apostam em receitas prontas e acabam produzindo mais do mesmo. Esse, definitvamente não é o caso do Maddiba. Unindo o thrash ao hardcore, o trio originário de Santo André ousa ao incorporar elementos do hip hop ao som, resgatando a influência do crossover da escola Beastie Boys, N.W.A e Dog Eat Dog, mas com aquele peso do Suicidal Tendencies.

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Capa do álbum Santo André por Wendell Araújo

Conheci o trio formado em 2016 por Lucas Viana (baixo, DJ), Renan Pigmew (Bateria) e Tchel Caron (guitarra, vocal), no Canal Scena antes mesmo da participação no Ao Vivo. Em uma das indicações no Drops, o âncora Caio Augusttus pontuou e logo fui pesquisar sobre a banda. Conheci o EP “Ayanda” e já fiquei fã dos três sons fuderosos dos caras. Energia, qualidade e precisão que não pareciam vir de uma banda nova. Justamente por isso fiquei ansioso pela chegada de Santo André.

Ao ouvir o álbum, decidi que iria esperar a aparição da banda no Canal Scena para ver como toda essa energia seria empregada ao vivo. Mermão, não poderia ter ficado mais surpreso positivamente.

Santo André vai além do crossover entre hardcore, metal e rap. A banda conta com a brasilidade que faz com que o trabalho se destaque das referências e seja algo com características próprias, único. Vocês encontrará baião, reggae, e o hardcore brasileiro, que só é feito aqui. A autenticidade só seria mais completa se as letras fossem em português, mas a escolha do inglês não desabona o flow de Tchel.

O trabalho que aparentemente foi muito bem elaborado, não soa como um monte de coisa junta enfiada goela abaixo, como alguns grupos acabam fazendo. Muito menos repete fórmulas prontas. Maddiba consegue fazer transições entre as músicas que fazem com que Santo André seja um disco para se ouvir de forma completa. Involuntariamente você ouvirá todas as músicas do começo ao fim. Um som completa o outro com todas as suas variações, com crescentes e decrescentes. Ali vocês encontrarão uma história.

Destaque para a bateria de Renan que tocam com muita vontade e ao grande Lucas, que consegue sem malabarismos comandar as pickups e o baixo. Tchel com o vocal descontrolado, ao modo Suicidal Tendencies, é o momento que me leva de volta às pistas de skate em Recife nos anos 90, na época em que usar uma camisa do Morbid Angel com bermudão era algo normal entre headbangers.

Maddiba, é um nome que faz referência ao apelido de Nelson Mandela. Justamente por isso, as letras de Santo André trazem um cunho social forte e questões do dia a dia. A arte da capa ficou a encargo do nosso conterrâneo Wendell Araújo, que mais uma vez expressou de forma competente a mensagem da banda.

Nelson Mandela e o prêmio Lenin da Paz – Jacobin Brasil
Nelson Madela, o Madiba

“Santo André” é sobre o que faz uma cidade, sobre processos, sobre pessoas, sobre seu povo. Assim como diz o grande líder que os inspira, Maddiba passa a mensagem:

“Ninguém nasce odiando o outro pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar”. (Da autobiografia “O longo caminho para a liberdade”, 1994).

Espero pode conferir de perto um show dessa rapaziada e espero que o trabalho ganhe uma versão física, pois merece estar na nossa coleção.

Maddiba ao vivo no Canal Scena. Foto @baionetaderosca

Ódio à Burguesia e ao Neoimperialismo: Brasil com Z do Basttardz é um dos Melhores Lançamentos do Ano

O nosso nordeste antifascista não tem decepcionado. Dentre tantas bandas de sonoridades brutais e posicionamentos combativos, a resenha de hoje é de um dos candidatos a melhor disco do ano: Brasil com Z dos maranhenses do Basttardz. Banda recomenda para fãs de Surra, Ratos de Porão, D.F.C, Municipal Waste e D.R.I.

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A banda que se pronuncia bastardis mesmo, que nem o nosso querido Mussum chamaria alguém de “bastardo”, lançou o single Brasis com Z em 2019. Do single ao lançamento a crítica contra o neoimperialismo, principalmente o estadunidense, em todos os âmbitos, seja econômico, político e socio-cultural, deixa claro que ainda somos colônia, e como diria o grande Surra (claramente uma das inspirações da banda),  se alguém aqui não percebeu, é o que véu da dita democracia anestesiou vocês. Fudeu, pra tu e pra mim, mas vamos ao que interessa que é o som!

“Fogo na Zona Sul”, fala sobre ódio da burguesia pela periferia, com um trecho real de um áudio do episódio “Os pobres vão à praia”, do programa Documento Especial (dos anos 90), em que moradores da área nobre do Rio de Janeiro se manifestam contra a entrada das pessoas de periferia nas praias da região. Essa faixa também foi lançada como single esse ano, para depois ser liberada com o álbum completo.

Com elementos do crossover entre thrash metal e hardcore, a sonoridade é daquelas que basta ouvir uma vez para ficar na sua cabeça. Destaque para a bateria que faz a vibração da banda ir Às alturas. Riffs e vocais enérgicos, graves bem marcados. Músicas simples e fuderosas.

O disco é extremamente consciente das críticas que faz. Com embasamento, fala de repressão policial nas periferias, o envenenamento dos alimentos pelos agrotóxicos, a crise do sistema carcerário brasileiro, analfabetismo, as grandes igrejas como instituições predatórias e não como lugares de fé, homofobia, racismo, ansiedade, corrupção e alienação.

O material que conta com pouco mais de 15 minutos (muito bem aproveitados), ainda encontra-se disponível apenas na versão digital, mas em breve terá sua versão física lançada pelo selo Bigorna Records. Se possível, garanta a sua cópia e apoie as bandas e selos independentes.

Resenha: Rest in Chaos “Trapped by Yourself”

A banda de metal catarinense lançou o álbum “Trapped by Yourself”, que conta com regrações de músicas do primeiro EP e mais inéditas. A banda vem se destacando no underground sulista, com um som muito bem executado, e grandes shows, como na abertura do Brujeria, em 2019.

A gravação foi feita no Undercave Studio, com Mix/Master : Julio Miotto (Faixas 01 à 06) – Adair Daufembach (Faixas 07 à 09). A arte de capa é assinada por Pedro (@ars.moriendee).

PRESO POR SI MESMO – FAIXA A FAIXA

“I Need a Reset” inicia o álbum palhetadas do thrashmetal e elementos de death metal, com uma precisão extrema, que dá lugar a uma cadenciada, no momento em que o vocal exclama que precisa resetar.

Na sequência temos “Shallow Happiness” que continua na pegada rápida de bateria, riffs que empolgam e nos chamam para o circle pit. Esse som conta até com uma parte de palhetadas do black metal, provando que a Rest in Chaos não tem medo de experimentar e inovar em seu som.

“Let Me Rest” chega na sequência com uma pegada mais thrashcore, com passagens que pedem pelo pogo. Destaque para a bateria que conta com diversidade e entusiasmo. Se você quer descansar, esse som vai te fazer sentir justamente o contrário.

O quarto som do álbum é uma metralhadora de peso. “Bells of Destruction” conta com um vocal desgraçado, que dá até medo! Aqui temos uma bateria que os fãs de Krisiun iriam curtir muito, a pegada death metal do som, me fez escolher esta, como a melhor faixa do álbum.

“Worship Machines” é uma das regravações que cresceram demais nesse trabalho. Com muito mais peso e velocidade, temos linhas de baixo muito marcantes e riffs que pesam uma tonelada.

Na sequência temos “The Perfection” que é um som mais torto, indicado para fãs de Gojira e Decapitated. É um misto de djent, death metal e thrash metal mais moderno.

“Ego Riser” que ganhou um clipe fuderoso, é um ótimo som, que também conta com linhas tortas e brutais. É o death/thrash que o brasileiro gosta, meus queridos.

“Artificial” que saiu como single em outubro de 2019, já antecipava a nova roupagem das músicas do Rest in Chaos: extrema qualidade técnica e energia de sobra. A letra fala sobre a falsa busca por sucesso, em que nós, humanos, começamos a montar versões artificiais de nós mesmos. Nos lembrando de que nem tudo que você venera pode ser real. O destaque do som vai para as quebradas que me lembraram algumas passagens de Meshuggah.

Perto de encerrar o álbum, temos outro grande som que merece destaque: “Look at Me”. Linha criativa de cordas e bateria frenética. Aliás, a bateria é definitivamente o grande destaque de todo o trabalho, sem desmerecer a execução dos demais instrumentos e vocais que também estão insanos.

Por fim, “Unfollow” é um som auto sugestivo, em relação a letra. Se inciando com um clima tenso, nos remete a uma marcha fúnebre, com a morte do outro na ação de deixar de seguir.

A banda está em busca de selos que queiram adquirir uma cota de prensagem do material que sairá em CD.

Redes Sociais
Facebook – https://www.facebook.com/restinchaosofficial
Intagram – https://www.instagram.com/restinchaosofficial
Twitter – https://twitter.com/Restinchaosoff2

Ouça nas plataformas:
Bandcamp – https://restinchaos.bandcamp.com/
Spotify – https://spoti.fi/2XeeY9t
Deezer – https://bit.ly/3cHti0I

Resenha: Dead Enemy “Kwowing The Enemy” (EP 2020)

Resenha: Dead Enemy - Knowing The Enemy (2020) - Roadie Metal

O Ceará é um grande produtor de ótimas bandas de thrash/crossover, a mais recente que conheci trata-se da Dead Enemy, banda incrível que leva ao pé da letra o “Toque Rápido ou Morra” O quarteto de Fortaleza tem energia de sobra em suas composições, e provavelmente os shows devam ser insanos.

Com baixo bem marcado, riffs furiosos e batera frenética, “Kwowing The Enemy” é um dos lançamentos que são a grata surpresa de 2020. Se você curte D.R.I e Municipal Waste, esse EP é perfeito pra você, pois além dessas referências, tem a identidade brazuka, do thrash que só a gente sabe fazer. Salvo algumas questões relacionadas a volumes na mix e master, esse é um trabalho muito bacana, bem executado e que nos evidencia o que ainda está por vir dessa banda fuderosa.

CONHECENDO O INIMIGO FAIXA A FAIXA

“Politicians are like a cancer” inaugura o mosh veloz com apenas um minuto de vinte segundos. “Words of Lying Fellowship” é, com certeza, a melhor música deste trabalho, com riffs clássicos do thrash e vocal muito bem colocado. Na sequência temos “Blessed Pippets” que segue aquela linha mais aos moldes do hardcore, com destaque ao vocal gang. “Take me Out of This Application”, por sua vez é um daqueles sons insanos, com peso e velocidade na medida certa. “Bomberstorm” conta com riffs que lembram um pouco a Motorhead, é som pra galera do metalpunk pirar e agitar toda junta. “Broken Shape” fala pelo esporte preferido de 10 em 10 thrashers: skate. É o único que não possui letra calcada na crítica social. Por fim, temos “Fight” é um som extremamente criativo, que com menos de 2 minutos, nos leva de volta aos anos 90.

O trabalho saiu por um coletivo de selos, dentre eles Vertigem Discos, Jazigo Distro, Zuada Recs, Metal Island, Helena Discos entre outros.

Tracklist
1 Politicians are like cancer
2 Words of lying fellowship
3 Blessed puppets
4 Take me out of this application
5 Bomberstorm
6 Boken shape
7 Fight

Formação
Junior Linhares – guitarra
Mateus Sales – bateria
Dejane Grrl – baixo
Fernando Gomes – vocal

A Necessidade Subversiva dos Pernambucanos do Pandemmy

Como costumo dizer, o metal pernambucano é uma máquina na produção de bandas com grau de excelência, quando o quesito é qualidade. O Pandemmy é uma das bandas que exemplificam muito bem essa constatação. “Subversive Need” é um som para quem curte death e thrash metal ao melhor estilo Carcass e Kreator, mas se atente, a banda tem uma identidade só dela.

Com uma correria que já passa de uma década, esse trabalho demonstra toda a perseverança e força de vontade da banda nessa nova fase. São nove faixas com um crescimento notável no que se trata de composição, variação de riffs e levadas de bateria. As melodias são dosadas à sujeira e agressividade dos sons.

Podemos destacar as passagens lentas em alguns momentos, que trouxeram uma marca para o trabalho. Temos grooves bem executados e vocais marcantes. De todo o álbum, destaco a música “Terror Paranoia”, que ganhou um video stream feito pelo nosso mago Alcides Burn.

Incendeie com “Spots of Blood” do Setfire

“Spots of Blood” é a consolidação da banda de death/thrash Setfire, que é do ABC Paulista. Nessa quarentena, a banda nos presenteou com um álbum e dois clipes, que adianto, se você é fã de bandas como Randy Blythe, Megadeth, Lamb of God, Pantera e Slayer, vai curtir por demais o lançamento.

Conheci a banda recentemente pelo Facebook, e fui pesquisar sobre a mesma para escrever a resenha. Mermão, e não é que eles já lançaram mais um clipe? Verifiquei que o Setfire possui uma longa trajetória na estrada (desde 2009), mas esse é apenas o segundo material lançado pela banda. Torceremos para que os próximos não demorem tanto. O álbum conta com dez músicas, sendo uma delas, a The Fhin Line, com participação do Vitor Rodrigues, ex-vocalista do Torture Squad.

Com muito peso e riqueza de detalhes, as músicas são bem trabalhadas, com destaque para o vocal insano de Artur que mostra uma evolução enorme em relação ao trabalho anterior (que também é muito bom), mas com excelente timbre e potência entre o rasgado e meio gutural. As duas músicas que ganharam clipes, foram muito escolhidas, pois em minha opinião, são os pontos altos do trabalho. Como bonus, a banda liberou a música Horror Film.

Nota-se que o álbum foi pensando em todos os âmbitos. Com som em sincronia entre criatividade e peso, realmente demonstra a paixão pelo metal, possuindo uma preocupação toda especial com o conteúdo das composições.

O Black Metal Antifascita: Conheça “Eterno Aeon Obscuro” do Vazio

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Formada por Renato Gimenez (vocal, guitarras e efeitos), Eric Nefus (guitarras e teclados), Nilson Slaughter (baixo e samples) e Daniel Vecchi (bateria), apresenta o novo álbum, “Eterno Aeon Obscuro”. O material foi produzido no Caffeine Sound Studio, com mixagem e masterização a cardo de Eric Cavalcante. Ainda é cedo para julgar, mas com a pandemia e o adiamento dos lançamentos, acredito que esse seja um dos melhores de 2020.

Lançado virtualmente pelo selo Xaninho Discos (campeão em trabalhar com bandas incrivelmente porretas), o material também saiu em CD digipack por um coletivo de selos. “Em meio a esse período sinistro da história da humanidade, esse lançamento é alimento para a rebelião. Ainda este ano será lançada a versão em vinil gatefold com pôster”, acrescentou.

Muitos tem um certo receio com bandas do gênero, pelo flerte com ideologias fascistas, mas o Vazio está aí para se juntar à bandas excelentes, como o Miasthenia, formando uma cena forte, sem ideia torta, e com postura antifascista.

O grande destaque do trabalho se dá para a música “Nascido do Fogo”, que tem características únicas, com riffs de peso e sombrios. Com uma letra anti cristianismo, é uma ode aos mortos. Cada sonoridade do som, te convidam a ouvir novamente, pois há uma riqueza imensa em detalhes que merecem atenção.

Parabéns e obrigado por esse disco excelente. Quando sair em vinil, podem ter certeza que irei adquirir o meu.

Confira o repertório de “Eterno Aeon Obscuro”:

01 – Elementais da Matéria Escura
02 – Sob a Noite Espectral
03 – Nascido do Fogo
04 – Reino das Matas
05 – O chamado dos Mortos
06 – Condenados ao Esquecimento
07 – Eterno Aeon Obscuro
08 – Travessia Silenciosa
09 – Sangue Invertido no Coração Negro Despedaçado
10 – Revelações do Abismo
11 – Koié Kokoiá

Site:
https://vazio.bandcamp.com/