Em meados desse ano pude conhecer uma banda nova no recanto do underground recifense, o grande Darkside! Nova para mim, mas na estrada desde 2017, o Hellway Patrol foi uma grande surpresa na noite em que se apresentaram grandes nomes do underground nacional. No evento em questão, o então baterista da banda, Douglas, teve que deixar a tour por problemas de saúde, sendo substituído a altura por um dos nossos grandes bateras, Raone Ferreira, que tocou na lendária Eu O Declaro Meu Inimigo e atualmente toca nas bandas Desalma, Revolta Civil e Surt. Tardiamente, mas após ouvir bastante, trago para vocês a resenha de ‘All Myth Shall Fall’, o full álbum da banda natural de Londrina/PR.

A banda que atualmente tem formações com membros esporádicos, de acordo com a tour, além do vocalista e baixista Ricardo Pigatto, conta com influências que percorrem o heavy, o thrash e o stoner metal, e tem como principais influências bandas como Black Sabbath, Slayer, AC/DC, Motorhead, Thin Lizzy e Huntress. Suas temáticas em geral tratam de um mundo pós-apocalíptico, não tão distante da nossa realidade, em um chamamento para a reflexão sobre a regressão viciosa do homem.
Com algumas turnês internacionais em sua trajetória, como nos EUA e Europa, a banda conta com dois EPs lançados, três singles e, atualmente, está divulgando o ‘All Myth Shall Fall’, que foi gravado por Pigatto, Netto Pavão e Thiago Franzim.
“O disco foi feito com muito carinho e dedicação, a gente quis fazer algo que a gente curtisse muito, então é sempre bom que as pessoas compartilhem isso também. É um álbum diferente, com bastante influência misturada, mas falando em metal, ele vai pra caminhos um pouco não usuais. ” – comenta Thiago Franzim, guitarrista da Hellway Patrol, que atualmente se encontra na Alemanha.
O lançamento já contou com uma tour terrestre feita em uma ambulância reformada pelo Brasil ao lado da banda de hardcore Manger Cadavre?. As bandas rodaram mais de 12.000 km, com shows em 22 cidades, em 15 estados mais o Distrito Federal, que renderam shows insanos e muitas histórias para contar.

E OS MITOS JÁ COMEÇARAM A CAIR
Iniciando o álbum temos logo de cara um dos melhores sons do trabalho, Demon of Dreams, som que tem uma pegada mais stoner, mas algumas passagens que caminham entre o heavy e o thrash. Destaque para os vocais em camadas e para os solos de Thiago.
Na sequência temos outro grande destaque, ‘Gods’, faixa que começa com uma tensão, na união de Pigatto e da vocalista Suyane Correia. Com um refrão marcante e riffs que você cantarola facilmente, é uma faixa para ser apreciada várias vezes, para se notar cada nota, cada inserção e cada construção da bateria. Como disse Ricardo no show: esse som fala sobre transar! E a satisfação é tântrica.
‘The Light’ chega com uma construção mais quebrada que alterna riffs do thrash, com elementos de outros gêneros. Temos rapidez e peso, além de um refrão inspirador. ‘Like Father Like Son’, por sua vez, é uma balada emotiva, ao estilo estadunidense voz e violão por boa parte, e crescente instrumental na sequência. Um som bonito e reflexivo.
‘Ride and Ride Again’ foi a faixa que fez o Darkside pegar fogo no mosh aqui em Recife. A música, que ganhou um clipe ao melhor estilo anos 70, é mais rápida, empolgante e mais uma vez usa e abusa da mescla de elementos do thrash e stoner. Para mim, é a melhor música do trabalho e, acredito, que para próximos trabalhos, o Hellway Patrol deveria apostar nesse caminho, que domina muito bem. Cavalgadas empolgantes, solos bonitos, baixo sujo e bateria que pesa uma tonelada.
E temos mais participações de grandes vocalistas do nosso underground: ‘Beauty and Demise’ é uma faixa pesada que contou com os vocais fuderosos de nada menos que Mayara Puertas e Hanna Paulino. Aqui temos peso e velocidade na medida certa.
Outro som que coloca a galera pra correr em círculos até fazer vento, é o ‘Runing Wild’, com direito a uivos e tudo mais. Esse é o som mais thrash da banda, com a rapidez que sujeira que o estilo pede. Destaque mais uma vez às guitarras que são extremamente bem trabalhadas.
Fechando o trabalho temos ‘Infanticide 1869’, som com andamentos quebrados e surpreendentes, com características setentistas, seguido do som com teor mais crítico da banda, ‘Theocratic Dictatorship’, e palhetadas extremamente empolgantes.

‘All Myth Shall Fall’ peca apenas por não contar com um trabalho de pós produção que mostre o peso que a banda tem ao vivo (se você tiver a oportunidade, vá aos shows, a energia é de outro mundo), mas é um excelente trabalho, com músicos que sabem muito bem o que querem e não se preocupam em fazer aquilo que está no hype e, sim, em curtir aquilo que estão tocando. Se puder, adquira o material em formato CD acrílico, pois ele está muito bem feito e merece estar na prateleira da sua coleção e tocando no seu som.
Por um underground com mais bandas autênticas como o Hellway Patrol e menos cópias de receitas prontas que deram certo no passado.
Nota: 9,2
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