Com a popularização de plataformas de vídeo streaming, como a Amazon e a Netflix, e mesmo o crescimento de conteúdos em canais de YouTube, o nosso modo de consumo de entretenimento mudou. A música continua em nossas vidas, mas o seu consumo também está diferente. Não ouvimos mais discos completos, demos lugar a playlists com variações de bandas e estilos, as gravadoras perderam sua força e influência na mídia televisiva, o que acarretou no quase fim dos programas musicais na TV aberta. E o que isso influencia na cena brasileira? Em tudo.

O metal e o hardcore, que nos anos 90 e 00 lotavam estádios, eram temas de filmes e novelas, influenciou muitos jovens a começar a sua banda e criar sonoridades únicas em nosso país. Apesar de serem estilos que em poucos momentos tiveram holofotes, em canais como a MTV, ou programas como o Musikaos e Alto Falante na Tv Cultura, ou mesmo o Clipper com a Drika Lopes, os timbres pesados e a rebeldia inflamavam os jovens. Hoje, temos adolescentes que acham que o rock em geral é algo ultrapassado, conservador e, por que não, fora de moda. Esse é um dos (e não apenas o único) motivos da não renovação do público.
Na contramão das tendências, temos as bandas guerreiras que continuam produzindo seu som honestamente, selos, portais e blogs, como esse singelo colecionador, fanzines e revistas que insistem e mantém o cenário independente com a chama acesa, apesar do vendaval que teima em apagá-la. No entanto, hoje, eu gostaria de dissecar um pouco do trabalho fundamental que tem salvado a quarentena (e a saúde mental) de muitos: os canais de Youtube!
São inúmeros os coletivos ou indivíduos que tem produzido conteúdo que exaltam o underground brasileiro e, aos que gostam de exaltar produções estrangeiras, as feitas por essa galera não ficam nenhum pouco atrás no quesito qualidade, curadoria e inovação na forma de tratar a música. Sem competição, um puxando o outro, para que todos tenham visibilidade. Quem ganha com o trabalho duro desse pessoal, é a cena que se fortalece e alcança novas pessoas que talvez venham a participar de shows no pós pandemia.
Não é fácil, nem barato ter um canal. Equipamentos são caros, é necessário desprender tempo para pesquisa, roteiro, edição, divulgação, entre tantos outros itens trabalhosos que nos são alienados quando consumimos. Justamente por isso, essa matéria tem a finalidade de apresentar alguns dos canais que mais tenho acompanhado nesse período de quarentena e espero que sejam importantes a vocês também.

KAZAGASTÃO
Produzido pelo mestre do jornalismo musical Gastão Moreira, o Kazagastão é um programa que aborda o rock em geral, mas não esquece das pequenas bandas. Gastão é apaixonado por música, por isso a qualidade é um item essencial na sua curadoria. Com diversos programas na grade, funciona como um canal mesmo e o meu favorito é o KZG Recomenda.

CENTRAL PANELAÇO
O programa do João Gordo, com entrevistas amistosas e promoção do vegetarianismo, Panelaço se reinventou durante a pandemia com a nobre atitude do Gordo em destinar a arrecadação das entrevistas do programa Clube do Risco para o projeto Solidariedade Vegan, que distribui marmitas para pessoas em condição de rua em São Paulo. Com espaço a vários nomes da cena independente, esse programa é a minha recomendação.

CANAL SCENA
Provavelmente o principal canal de conteúdo sobre bandas independentes, conta com um grande coletivos de pessoas que doam o seu trabalho para dar visibilidade às bandas undergrounds. O canal tem programação quase que diária, com programas incrivelmente bons e qualidade de áudio, vídeo e edição ímpar. Dentre podcasts, vídeos longos e curtos, o carro chefe é o Ao Vivo. Se você quer conhecer bandas que tem um som fuderoso além de tudo aquilo que compõe o underground, esse é o seu canal.

UNLEASHED NOISE RECORDS
Canal focado no punk e suas vertentes, conta com entrevistas com perguntas muito bem formuladas como carro chefe e estímulo a visibilidade do som produzido por pessoas pretas dentro do underground. Dirigido por Leandro, também possui quadros colaborativos com indicações de filmes, zines e discos. Canal pra quem tem o senso crítico apurado e aberto ao diálogo.

GOBLIN UNDERGROUND TV
Canal que conta com alguns programas, focado em metal e que tem como principal tipo de conteúdo entrevistas e captação de apresentações ao vivo de bandas (antes da pandemia). Como diferencial, indico o programa Garotas no Front, em que a presença da mulher no metal é debatida em diferentes óticas.

BAILE DO CAPIROTO
Canal apresentado por Igor Giroto, que tem como principal conteúdo a dissecação de álbuns ou discografias de bandas. Sempre ilustrados com materiais físicos, os vídeos focam principalmente bandas independentes. O canal também conta com podcasts. Pra quem quer se aprofundar nas histórias das bandas, o canal é um prato cheio.

FLASHBANGER
Inicialmente focado em cobertura de shows e entrevistas nos mesmos, o canal tem Steph Ciciliatti como âncora. Conteúdo descontraído, lembra coberturas e quadros da finada MTV. Destaque para a qualidade das produções e conteúdo variado, como moda, dicas de divulgação e indicações. Apesar da pausa devido a pandemia, as entrevistas “de campo” são o grande forte da simpática e irreverente Steph.

HEAVY METAL ONLINE
Gerido pelo Clinger, é um canal dedicado a divulgação de bandas do cenário underground nacional e aborda os acontecimentos que envolve o meio, divulgando a apresentando novidades e atrações. Reserva espaço para cobertura de eventos, com reportagens, cenas de shows, bastidores e entrevistas. Durante a pandemia, as lives com debates tem sido o grande destaque.
Muitos canais legais, alguns nem tanto, senti falta do canal Motim Underground, um dos mais ativos da cena independente.
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