O Resgate do Crossover Hardcore + Rap: “Santo André” do Maddiba é o Álbum Mais Original de 2020

Quando pensamos em crossover no Brasil, nos vem a mente a clássica fusão entre o thrash e o punk ou hardcore. As misturas de estilos são pontos fortes do brasileiro, mas muitas vezes as bandas apostam em receitas prontas e acabam produzindo mais do mesmo. Esse, definitvamente não é o caso do Maddiba. Unindo o thrash ao hardcore, o trio originário de Santo André ousa ao incorporar elementos do hip hop ao som, resgatando a influência do crossover da escola Beastie Boys, N.W.A e Dog Eat Dog, mas com aquele peso do Suicidal Tendencies.

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Capa do álbum Santo André por Wendell Araújo

Conheci o trio formado em 2016 por Lucas Viana (baixo, DJ), Renan Pigmew (Bateria) e Tchel Caron (guitarra, vocal), no Canal Scena antes mesmo da participação no Ao Vivo. Em uma das indicações no Drops, o âncora Caio Augusttus pontuou e logo fui pesquisar sobre a banda. Conheci o EP “Ayanda” e já fiquei fã dos três sons fuderosos dos caras. Energia, qualidade e precisão que não pareciam vir de uma banda nova. Justamente por isso fiquei ansioso pela chegada de Santo André.

Ao ouvir o álbum, decidi que iria esperar a aparição da banda no Canal Scena para ver como toda essa energia seria empregada ao vivo. Mermão, não poderia ter ficado mais surpreso positivamente.

Santo André vai além do crossover entre hardcore, metal e rap. A banda conta com a brasilidade que faz com que o trabalho se destaque das referências e seja algo com características próprias, único. Vocês encontrará baião, reggae, e o hardcore brasileiro, que só é feito aqui. A autenticidade só seria mais completa se as letras fossem em português, mas a escolha do inglês não desabona o flow de Tchel.

O trabalho que aparentemente foi muito bem elaborado, não soa como um monte de coisa junta enfiada goela abaixo, como alguns grupos acabam fazendo. Muito menos repete fórmulas prontas. Maddiba consegue fazer transições entre as músicas que fazem com que Santo André seja um disco para se ouvir de forma completa. Involuntariamente você ouvirá todas as músicas do começo ao fim. Um som completa o outro com todas as suas variações, com crescentes e decrescentes. Ali vocês encontrarão uma história.

Destaque para a bateria de Renan que tocam com muita vontade e ao grande Lucas, que consegue sem malabarismos comandar as pickups e o baixo. Tchel com o vocal descontrolado, ao modo Suicidal Tendencies, é o momento que me leva de volta às pistas de skate em Recife nos anos 90, na época em que usar uma camisa do Morbid Angel com bermudão era algo normal entre headbangers.

Maddiba, é um nome que faz referência ao apelido de Nelson Mandela. Justamente por isso, as letras de Santo André trazem um cunho social forte e questões do dia a dia. A arte da capa ficou a encargo do nosso conterrâneo Wendell Araújo, que mais uma vez expressou de forma competente a mensagem da banda.

Nelson Mandela e o prêmio Lenin da Paz – Jacobin Brasil
Nelson Madela, o Madiba

“Santo André” é sobre o que faz uma cidade, sobre processos, sobre pessoas, sobre seu povo. Assim como diz o grande líder que os inspira, Maddiba passa a mensagem:

“Ninguém nasce odiando o outro pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar”. (Da autobiografia “O longo caminho para a liberdade”, 1994).

Espero pode conferir de perto um show dessa rapaziada e espero que o trabalho ganhe uma versão física, pois merece estar na nossa coleção.

Maddiba ao vivo no Canal Scena. Foto @baionetaderosca

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