
Com essa pergunta retórica, infelizmente escrevo um texto repleto de chateação. O cenário independente em muitos âmbitos está, ou sempre esteve reproduzindo a lógica do mercado capitalista. É como se a cena fosse uma grande empresa (curiosamente ninguém ganha nenhum dinheiro aqui) e as bandas fossem funcionários de uma empresa querendo se matar, competindo entre si, agindo na má fé (muitas vezes usando a camiseta e merch das próprias bandas que os mesmos tentam queimar).
Aqui em Recife há uma moçada, uma juventude que realmente quebra esse paradigma, assim como na velha escola que faço parte. Estou velho, admito, mas ainda vou a shows, compro merch, leio zine e sempre que o trabalho me dá uma folga, escrevo no zine com minha esposa (o blog é algo nosso e às vezes, de alguns amigos). Mas um dos motivos desse texto, é para expressar como é exaustivo abrir o Facebook e só ler gente de banda que deveria ser grata a tantas outras pessoas que ajudam e fazem tudo por elas, ficarem mandando indiretas, falando de falsidade, minando relações e pouco fazendo pelo coletivo. Isso não é exclusivo da nossa cidade.
Em todo o cenário nacional há muita gente que trabalha muito e trabalha duro pelo coletivo, mermão. São pessoas que tentam contribuir com algo para sair da rotina que esmaga. Eu, como homem negro, tento trazer alguma contribuição. Minha esposa, como mulher periférica que veio do norte, suas vivências. E, sim, essas visões e vivências estão em nossas resenhas.
Essa última semana fui chamado de burro, de ignorante, isso sem contar as ofensas xenófobas, pelo título da entrevista com a banda Klitores Kaos, na qual eu disse que era Hardcore da Amazônia. Em primeiro lugar, Belém do Pará fica na região da Floresta Amazônica, segundo Amazaonas é o estado. Me parece que esses que me trataram com escárnio fugiram das aulas de Geografia. E mesmo que eu estivesse errado, preconceito intelectual é algo que não deveria estar nessa turma dita progressista, mulheres com bandeiras feministas, homens que compartilham conteúdo antifascista.
O que quero dizer com isso tudo? É que um dos grandes motivos de eu ter diminuído a frequência de publicações do blog é por admirar o trabalho, o som de muita gente, mas suas personalidades virtuais são exaustivas. Entendam, isso não é uma competição. Se tem um problema com alguém, converse e resolva. Se não resolver, indireta é algo de guri, de piá, como dizem os sulistas e só deixam um clima horrível pra quem nem tem nada a ver com a situação. Tratem coletivos com respeito, não saiam falam mal de algo que deu errado, cobrando profissionalismos que são impossíveis de se executar em dadas circunstâncias. As pessoas que receberam a sua banda fizeram o melhor que puderam e se algo não deu certo ou te incomodou, explique. A tendências é de que os erros não se repitam. Sejam gratos a quem te apoia ou apoiou. Se você chegou a tal lugar certamente não foi sozinho. Zines, blogs, organizadores de gigs, público… Cada um que compartilhou seu som ou fez algo por você, que seja compartilhando conhecimento, foi um impulso. Emendando a isso: não use pessoas como escada. Até porque se você quer chegar ao Rock in Rio, é justo ter esse sonho, mas não é agindo igual a um puxa saco de escritório que isso vai acontecer, nem pisando em ninguém, muito menos derrubando outras bandas. Pense no coletivo. Entenda a realidade de cada lugar. Esse conselho é principalmente para as bandas que vem de fora.
O mundo atual parece gostar mais de polêmicas que de trabalho sincero, mas é por esse motivo também que muita gente está deixando o circuito. O micro reproduz o macro, mas vocês estão tornando isso cada vez mais insuportável.
Respeitem a história e a vivência de outras pessoas. Muitas vezes elas contribuem muito mais para a sociedade ou causas sociais que o seu antifascismo de redes sociais. E esse não é um discurso moralista. É só um desabafo de alguém que pretende mais uma vez sair dessas comunidades virtuais. Sei que na prática a quantidade de pessoas que são propositivas é muito maior que essas poucas que tem tanta voz, mas como elas conseguem nos desanimar.
Quanto a nós, seguiremos publicando. Aos amigos que nos conhecem, nosso muito obrigado. Aos demais, vamos permanecer sem rosto. Saí do Facebook há 2 anos pelo o que ele se tornou e ao voltar, vejo que só piorou.